Como capelão da Ciência Cristã no Exército dos Estados Unidos, eu estava na Jordânia, para atender aos soldados da minha unidade. Vários deles me perguntaram se eu os batizaria no Rio Jordão, onde a Bíblia diz que Jesus foi batizado. Não houve tempo, pois fiquei apenas alguns dias no país, e tinha de retornar ao Kuwait, para onde havia sido oficialmente destacado.
Esses soldados sentiam-se profundamente dedicados à sua fé cristã. Para eles, o rio Jordão era um lugar sagrado. Um deles nunca havia sido batizado e ansiava por essa experiência. Os outros desejavam o que muitos cristãos chamam de “batismo de crente”, ou seja, ser batizado já adulto. Sendo eu o capelão que me ocupava deles, senti-me honrado por ser convidado para realizar esse sacramento. No entanto, os lockdowns da pandemia nos impediram de prosseguir com essa ideia. Prometi aos soldados que, quando as restrições fossem retiradas, eu tentaria voltar à Jordânia, e então os batizaria. (O Departamento de Defesa dos EUA espera que os capelães da Ciência Cristã realizem o ministério cristão protestante nas forças armadas, bem como que atendam às necessidades espirituais de soldados de diversas origens religiosas. Esse requisito afirma o Cristianismo da Ciência Cristã. Em meu treinamento para capelão, eu havia sido preparado para batizar soldados, mas nunca imaginei que faria isso no rio Jordão.)
Nas seis semanas que se seguiram, refleti e orei sobre o batismo com mais profundidade do que nunca. À medida que ponderava sobre o significado do batismo, reconheci que, para muitos cristãos, esse é um rito sagrado de passagem, que significa renascimento espiritual, purificação e transformação da vida pela graça salvadora de Deus, como revelado por Cristo Jesus. O significado espiritual do batismo tinha para mim o mesmo valor que para meus irmãos cristãos. Embora os Cientistas Cristãos não realizem o característico ritual de imersão na água, sinceramente acreditam na importância do batismo como experiência espiritual. Lembrei-me do ensinamento de João Batista na Bíblia: “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3:11).
É esse batismo do Espírito Santo que os Cientistas Cristãos desejam receber. O batismo pelo fogo é a queima de toda a impureza ou pecado em nossa vida. O que fica é aquilo que o fogo não pode tocar — o coração puro, a expressão natural de nossa verdadeira natureza espiritual inocente como o bom e santo filho de Deus.
Esse batismo espiritual não está limitado a um ritual realizado apenas uma única vez. Ele acontece o tempo todo. Qualquer pessoa que esteja sinceramente tentando seguir os ensinamentos e o exemplo de Jesus está sempre se esforçando para viver uma vida mais pura, e Deus a está ajudando, para que alcance esse propósito.
Mary Baker Eddy, a Fundadora da Ciência Cristã, dá a definição espiritual de batismo no Glossário do livro-texto da Ciência Cristã: “Purificação pelo Espírito; imersão no Espírito” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 581). E o livro-texto explica como essa definição é transformadora: “Pelo arrependimento, pelo batismo espiritual e pela regeneração, os mortais se despem de suas crenças materiais e de sua falsa individualidade. É apenas questão de tempo, quando ‘todos Me conhecerão’ a Mim, [Deus], ‘desde o menor até ao maior deles’ ” (p. 242).
O batismo tem tudo a ver com abandonar o senso de que nossa identidade esteja presa a um corpo material, e compreender a identidade espiritual da criação de Deus. Isso realmente transforma nossa vida para sempre.
À medida que orava, percebi que eu mesmo estava novamente cedendo ao meu próprio batismo no Espírito Santo. Aliás, estou convencido de que foi isso o que fez com que eu conseguisse voltar à Jordânia.
Quando as restrições relacionadas à pandemia foram retiradas, solicitei um voo de retorno. As regras do coronavírus exigiam que eu viajasse uma segunda-feira, se quisesse evitar uma quarentena automática de sete dias. Os voos das segundas-feiras eram considerados os únicos voos “limpos”. Mas na semana em que tentei voltar para a Jordânia, perdi meu lugar no voo de segunda-feira. Colocaram um segundo voo “limpo” exclusivamente para aquela semana, saindo na quinta-feira. Agendei os batismos para o fim de semana. Mas bem tarde da noite de quarta-feira, fui informado de que o voo de quinta-feira havia sido inesperadamente cancelado. Devido aos requisitos da missão no Kuwait durante o resto do meu destacamento, eu precisava chegar à Jordânia naquela semana, do contrário não poderia mais voltar para lá.
Naquela noite fui para a cama em humilde oração. Percebi que ansiava por me sentir novamente limpo e purificado pelo Espírito, Deus. O destacamento fora extremamente estressante. Eu estivera trabalhando sem parar, estava longe de casa e sentia falta de minha família. Eu lutara para sempre manter o pensamento o mais espiritualmente elevado possível. Por isso, naquela noite, diante da dúvida sobre a viagem, rendi-me silenciosamente ao meu próprio batismo, na certeza de que eu não precisava estar no rio Jordão, mas podia me submergir na presença de Deus ali mesmo, porque Deus, o Espírito, o Amor divino, é infinito e está sempre ao nosso alcance. Comecei a sentir a renovação espiritual em meu coração. Tive a intuição de que, de alguma maneira, embora não houvesse mais voos “limpos” para a Jordânia naquela semana, as coisas se resolveriam.
No dia seguinte, quinta-feira, senti paz ao desempenhar minhas atividades. No meio da tarde, fui informado de que minha unidade havia dado um jeito de me embarcar em um voo na manhã seguinte. Fiquei sabendo que também haveria um general naquele voo. Isso significava que a viagem estava garantida, embora por todas as circunstâncias meramente humanas, eu não deveria ter sido autorizado a embarcar naquele voo. Eu era capitão e minha patente não chegava nem perto de me autorizar a voar com um general. Até hoje não sei como me concederam essa permissão, mas me foi concedida. Agradeci a Deus por essa maravilhosa providência.
Achei que estava tudo certo para prosseguir com os batismos, mas várias horas depois de chegar à Jordânia, soube que os protestos planejados para o fim de semana seguinte em todo o país ameaçavam acabar com qualquer saída do posto, incluindo visitas ao rio Jordão. Os protestos aconteceriam em resposta ao último conflito entre Israel e o Hamas, o qual eclodira nas duas semanas anteriores e foi o pior confronto entre eles em sete anos. Até a quinta-feira, um dia antes de eu embarcar para a Jordânia, ainda não havia sinal de cessar-fogo.
Em minhas orações antes da viagem, senti que aqueles batismos eram, de maneira modesta, parte de algo muito maior. O batismo de Jesus no rio Jordão — e no Espírito Santo — se deu, pelo menos em parte, para unir todas as pessoas sob o abrigo do amor de Deus. Os cristãos reconhecem que a missão de Jesus era tanto para judeus quanto para gentios. Como ele era o Príncipe da Paz, seu batismo era um chamado de paz na terra. Por isso, não achei exagero achar que os batismos no local onde Jesus fora batizado deveriam servir simbolicamente, como um chamado à paz para a região — para que todos renascessem espiritualmente e despertassem para a união da qual todos compartilhamos como filhos de Deus.
Reunido com os soldados na Jordânia naquela sexta-feira à noite, sendo que alguns haviam desistido de ser batizados, nenhum de nós sabia que um cessar-fogo entre Israel e o Hamas havia sido de fato anunciado naquela manhã, enquanto eu estava a caminho do país. Os protestos programados para o fim de semana em toda a Jordânia haviam sido cancelados. Quando ficamos sabendo dessa boa nova, nos regozijamos!
O rio Jordão é uma zona desmilitarizada, fazendo parte da fronteira entre Israel e a Jordânia. Enquanto eu realizava os batismos, havia guardas armados em ambos os lados daquele rio muito estreito. O meio do rio era uma terra de ninguém. Mas os batismos transcenderam qualquer senso de conflito e reafirmaram a promessa de paz e harmonia.
Abri a cerimônia com a leitura da história do batismo de Jesus, a qual consta do evangelho de Marcos e teve um poder especial ao ser lida em voz alta no mesmo local em que a história aconteceu. Então compartilhei alguns pensamentos com os soldados, sobre o batismo e como eu esperava que eles tivessem muitos batismos espirituais no futuro. Em seguida, entrei no rio e realizei o sacramento, um soldado de cada vez. Antes de batizar cada um, fiquei por um momento em silêncio, de pé no rio, frente a frente com cada um. Perguntei se eles se comprometeriam em ser uma presença de cura no mundo, como Jesus esperava que seus discípulos fossem. Todos se sentiram felizes em concordar que seriam.
Esses batismos aconteceram tanto na água quanto no Espírito Santo. Todos nós sentimos naquele dia o toque inspirador e transformador do Cristo. E tive a esperança de que a regeneração espiritual que estava acontecendo ajudaria a demonstrar na terra a regra da harmonia, da união e do amor de Deus.
Que cada um de nós sinta a graça redentora de Deus por meio de nosso próprio batismo, nossa imersão no Espírito Santo; que possamos viver uma nova vida elevada e dar testemunho da paz de Deus e da união da humanidade no mundo.