Duas Amigas Minhas decidiram iniciar bons empreendimentos, uma independentemente da outra. Fiquei contente em poder ajudá-las e emprestei a cada uma delas uma determinada quantia. Ficou combinado que devolveriam esse empréstimo em pequenas parcelas. No início, elas cumpriram o acordo. Depois, ambas interromperam os pagamentos de repente, sem nenhuma explicação. Enquanto aguardava, eu ficava imaginando se as dívidas seriam pagas ou não. Embora não pudesse dar-me ao luxo de perder o dinheiro, a amizade delas tinha um valor muito maior para mim. A solução, compreendi, consistia em adquirir uma compreensão maior do que realmente significa perdoar a nossos devedores, perdoar àqueles que nos prejudicaram. No meu caso, era preciso perdoar a meus devedores no sentido literal da palavra!
A Bíblia foi uma ajuda maravilhosa. Por exemplo, o Evangelho de Lucas relata o encontro de Cristo Jesus com um publicano chamado Zaqueu. Esse episódio me ensinou uma lição importante. Assim como outros coletores de impostos daquela época, Zaqueu enriquecera cobrando tributos excessivos dos habitantes da região, tirando uma parte para si mesmo. Não era ético, mas era uma prática comum e, até encontrar Jesus, Zaqueu não julgava estar em débito com ninguém. O resultado desse encontro com o Cristo, porém, foi que ele não só reconheceu sua dívida, como também declarou-se disposto a restituir quatro vezes mais àqueles que tivesse defraudado.
O que foi que fez com que Zaqueu pagasse sua dívida com tanta disposição e, além disso, com juros? Que fizera Jesus para provocar uma reação tão impressionante? A resposta a essa pergunta tornou-se óbvia quando comecei a compreender o amor que o Mestre mostrou por um homem que era temido e odiado. Aqueles que conheciam Zaqueu chamavam-no de pecador, mas Jesus referiu-se a ele como “filho de Abraão.” Essa percepção elevada não cancelou a dívida, mas despertou em Zaqueu o sentido de obrigação para com os outros e o desejo de cumprir seu dever. Refletindo a respeito da história de Zaqueu, uma perspectiva totalmente nova sobre quem deve o quê para quem, começou a surgir em meu pensamento.
Cristo Jesus ensinou que nossa maior dívida para com as outras pessoas é que nos amemos uns aos outros. Esse amor é o verdadeiro cumprimento da lei de Deus. Ele mostrou, com o exemplo, que esse amor cristão significa muito mais do que mera afeição ou simpatia humanas. Implica um reconhecimento do homem criado por Deus, uma afirmação da identidade espiritual e genuína do outro. Esse amor era uma influência tão poderosa para o bem no ministério de nosso Guia que, em realidade, transformava a vida das pessoas. Os doentes eram curados, os cegos recuperavam a visão e indivíduos presos à imoralidade se regeneravam e se purificavam.
Embora Jesus visse a necessidade de mudança ou arrependimento nas pessoas que curava, ele as amava profundamente, a ponto de ver nelas o homem reto da criação de Deus e de ajudá-las a reconhecer em si mesmas a retidão. Zaqueu parecia a todos ser um publicano ganancioso, mas Jesus via além da aparência material e discernia a identidade do homem semelhante a Deus. Esse conceito inteiramente diferente a respeito do homem não relevou nem ignorou o comportamento pecaminoso, mas trouxe à luz o caráter verdadeiro de Zaqueu, originado em Deus, o que resultou em reforma e cura.
A lição estava se tornando evidente para mim. Minha preocupação se restringia aos que estavam em dívida comigo. Contudo, se quisesse encontrar a solução para esse problema, eu deveria me preocupar, isso sim, com o maior e mais elevado reconhecimento cristão que eu devia a eles. Da mesma forma como devemos considerar que todo esforço para amar, compreender e obedecer a Deus com gratidão é pagar o que Lhe é devido, assim também podemos considerar que todo esforço para compreender o homem como a semelhança espiritual de Deus, amando o que vemos da verdadeira natureza do outro, é uma maneira de reduzir nosso débito para com nosso semelhante.
Não cedi à tentação de pensar em minhas amigas como estando em dívida comigo, relutantes ou sem condições de me pagar, mas procurei reconhecer com persistência o parentesco entre elas e Deus. Todas as vezes que fazia isso, eu compreendia que também estava afirmando a integridade e habilidade que Deus lhes conferira. Ao saldar minha considerável dívida com elas, de vê-las como filhas de Deus, aquela pequena divida que elas tinham comigo me preocupava cada vez menos.
Poucos dias depois, ambas devolveram-me, no mesmo dia, o dobro da quantia que tínhamos combinado. Embora eu ficasse contente, é claro, por ter recuperado o dinheiro, ocorreu um outro fato que me trouxe muito mais satisfação. Minhas amigas, que não se conheciam entre si, expressaram gratidão por estarem alcançando mais êxito do que antes em seus empreendimentos. Na verdade, uma delas disse inclusive que o sucesso atingira até o trabalho de seu marido, que estava prosperando, apesar das limitações sazonais e dos problemas econômicos que existiam em sua área de atuação. Eu havia orado para libertar meu próprio pensamento preocupado de uma visão limitada de homem. A liberdade que adquiri abriu novas oportunidades para elas e ampliou sua capacidade de prosperar honestamente.
A Ciência Cristã ajuda-nos a perceber que perdoar a nossos devedores requer uma disposição de abandonar algo sem valor, para se obter algo de valor inestimável. Temos de abandonar o senso de limitação apreensivo e desconfiado a respeito dos outros, trabalhando diligentemente para alcançar um conceito mais elevado do homem como descendente de Deus, completo, com as infinitas oportunidade que o Amor divino sempre provê.
Somente quando compreendemos a natureza de Deus como Amor incondicional, Vida ininterrupta e Verdade infinita, é que podemos ampliar e elevar realmente nossa compreensão daquilo que constitui Sua imagem, o homem. Com esse conceito mais elevado e mais espiritual do homem, adquirimos naturalmente perspectivas melhores dos talentos e das capacidades das outras pessoas. Esse processo, que se desenvolve em oração, revela uma maneira inteiramente nova de amar e perdoar a nossos devedores.
Mas, e se formos nós os devedores? Podemos esperar a mesma paciência, amor e respeito por parte daqueles a quem estamos devendo? E possível, se estivermos dispostos a expressar nossa verdadeira identidade divina em qualidades como confiabilidade e sabedoria. Mesmo que tenhamos agido erroneamente em nossos negócios com os outros, podemos começar imediatamente a saldar nossa dívida com Deus e Seu Cristo, procurando discernir, e empenhando-nos em ser aquilo que Deus fez o homem ser. Então, sentiremos o Amor divino libertar-nos do arrependimento do passado, do medo quanto ao futuro, assim como de qualquer tendência para repetir transgressões. Conseguiremos perceber o verdadeiro perdão que se origina no amor espiritual que regenera e cura.
Se cada um de nós enfrentasse não apenas seus próprios desequilíbrios econômicos mas também os do mundo, com a convicção que a oração nos traz, de que a integridade e a abundância dos recursos do homem provêm de Deus, qual seria o impacto curativo dessa atitude? A riqueza do Amor infinito, que revela a capacidade inata do homem para o bem, não pode, de forma alguma, estar restrita a uma única experiência individual, ou limitada a uma determinada área. A situação complexa do endividamento mundial pode não ser resolvida de um momento para outro. Porém, quando a oração diária se estende, focalizando o poder espiritual sobre os problemas mundiais, podemos estar certos do progresso. Por que? Porque a oração ajuda a trazer à luz as soluções derivadas de Deus e a verdade de que o homem é governado pela sabedoria de seu Criador.
A única maneira de saldarmos nossa dívida para com Deus e o homem consiste em expressarmos o puro amor espiritual. Quando reconhecemos o caráter crístico em nossa verdadeira identidade e na dos outros, estamos liquidando nossa dívida de algum modo. Esse amor, que expressamos ao reconhecer a integridade conferida por Deus ao homem e ao confiarmos nela, é um recurso espiritual que não deveria ficar sem ser utilizado.
Uma atitude desinteressada, fundamentada na oração, frente à necessidade dos indivíduos e do mundo como um todo, revelará novas idéias e caminhos para progredirmos. Traz à nossa vida uma segurança que se baseia na certeza da presença de Deus e de Sua provisão. O mais importante, contudo, é que ela expressa o amor e a humildade que brilham na luz curativa que emana da Oração do Senhor e de sua interpretação espiritual, apresentada em Ciência e Saúde, da Sra. Eddy: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; /E o Amor se reflete em amor”.