Você talvez já tivesse pensado, assim como eu pensei, em o que mais poderia o Apóstolo Paulo ter dito a respeito do Cristo a fim de convencer o rei Agripa. Ao descrever os acontecimentos dramáticos ligados a sua própria conversão, Paulo deve ter falado com fervor irresistível. E o coração do rei deve ter-se comovido. “Então Agripa se dirigiu a Paulo, e disse: Por pouco me persuades a me fazer cristão.” Atos 26:28. Quase. Mas não de todo.
Sim, ficamos a imaginar o que mais poderia ter Paulo transmitido, pois, talvez como você, tenho partilhado com meu próximo a Ciência Cristã, e tenho ansiado por vê-lo acolher esse Consolador prometido. E houve quem o acolhesse. Mas outros — bem, tal como Agripa, não de todo.
Já sentiu você alguma vez esse anseio, esse desejo profundo de que o mundo despertasse mais rapidamente para as bênçãos desta Ciência do cristianismo? Talvez você convidou um vizinho para uma conferência, ou, no trabalho, deu um exemplar do Christian Science Sentinel a um amigo, ou pediu a seu cônjuge para ler Ciência e Saúde de capa a capa. Se seus esforços despertaram no pensamento de alguém um interesse inicial, mas se esse interesse diminuiu ou desapareceu, talvez você sinta vontade de orar para saber o que mais se fazia necessário.
A chave para ajudar alguém a verdadeiramente encontrar a Ciência Cristã encontra-se em promover seu sentido espiritual. Mas, por demasiadas vezes, suspeito eu, negligenciamos dar nutrição suficiente e animar essa faculdade; nosso desejo de partilhar talvez escorregue para o que se poderia melhor descrever como um apelo voltado aos sentidos humanos. Poderá tratar-se de um apelo nobre, forte em lógica ou persuasão, ou de um desejo sincero. Mas, só por despertar-se o sentido espiritual na consciência individual é que esse amigo perceberá a Ciência divina e conservará seu interesse por ela.
Para transmitir a outrem nosso amor por Cristo, a Verdade, é preciso uma dimensão que excede o modo pelo qual haveríamos de partilhar nosso entusiasmo pelo futebol ou pela arte, por um cargo político ou por algum lugar em especial que visitamos. Nem é nossa meta pressionar alguém a mudar de opinião, meta por vezes visada por algumas pessoas no esforço ativo de converter alguém.
A mudança a se operar na mente desse amigo será mais o resultado do que a causa do despertar espiritual. Esse verdadeiro despertar é impelido pelo Cristo. A função que temos é a de ser testemunhas da presença e da atividade do Cristo, a Verdade. Na realidade, nem precisamos fazer com que o nosso próximo se transforme num “crente” da Ciência Cristã, como se esta fosse apenas outra religião a competir por sua adesão. Em resposta à pergunta: “Como define a Ciência Cristã?” a Sra. Eddy escreve: “Como sendo a lei de Deus, a lei do bem, que interpreta e demonstra o Princípio divino e a regra da harmonia universal.” Rudimentos da Ciência Divina, p. 1.
E assim estamos animando a capacidade que nosso amigo tem de perceber a lei de Deus. Tal meta requer motivação profundamente espiritual; algo bem mais divino do que uma pessoa a impor seus pontos de vista sobre outra. O que, então, se faz necessário para promover e apoiar o sentido espiritual de alguém? Como é que nossas convicções podem ser transmitidas eficazmente?
Um começo importante é ter amor genuíno pela identidade verdadeira daqueles a quem desejamos ajudar. Quanto mais discernirmos em alguém o filho de Deus — ao invés de ver nele um mortal não receptivo ou até mesmo antagônico — tanto mais eficazmente seremos capazes de ver que ele está dotado do sentido espiritual. E cada indivíduo tem de fato esse elemento bom e puro da consciência, elemento fundamental a nossa verdadeira natureza. Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy explica o que isto significa para nós: “O sentido espiritual é uma capacidade consciente e constante de compreender Deus.” Ciência e Saúde, p. 209.
O que você está apreciando, até mesmo acalentando, em outra pessoa, é a capacidade inata que esta tem de discernir Deus e Sua lei de perfeição infinita. Esse modo de encarar as coisas revela um motivo bem diferente daquele que é mera tentativa de induzir alguém a aceitar nossas crenças religiosas. Simplesmente não nos é possível conversar o sentido material e convencê-lo do sentido espiritual. Paulo insiste: “O homem natural [o sentido material] não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque Ihe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente.” 1 Cor. 2:14.
Sim, por certo podemos fazer um apelo ao sentido espiritual. E, ao cultivar a firme convicção de que ninguém carece da capacidade de discernir Deus, aguçaremos nossa capacidade de reconhecer esse fato especificamente num amigo. Talvez tenhamos uma surpresa quando passarmos a ver em sua vida e em suas ações quão verdadeiramente ativo e não adormecido está o sentido espiritual dele.
O mundo procura amortecer a “capacidade consciente e constante de compreender Deus”. Por meio de violência e de medo, materialismo e apatia, a mente mortal pretende ocupar ou obscurecer a capacidade que as pessoas têm de reconhecer e sentir a verdade do ser. A Ciência Cristã descreve tal influência de resistência como magnetismo animal. A Ciência demonstra que o magnetismo animal é hipnotismo — uma sugestão mental mesmérica. O mal que procura silenciar o sentido espiritual não é poder. E, quando nos regozijamos na presença do Cristo, a influência divina que urge perfeição, rompe-se a preocupação da mente humana com seus sonhos carentes de substância.
Quão desanimador talvez nos parecesse o trabalho se este consistisse em convencer uma mente mortal — ou uma dúzia ou um bilhão delas — a respeito de Deus e de Sua lei do bem. Em nosso trabalho há alegria; nele defendemos e discernimos e apreciamos o sentido espiritual que o homem já possui. Quanto melhor o fizermos, tanto menor será a freqüência com que nosso próximo estará quase persuadido a respeito da Ciência. Ao invés, sentirá o toque de nosso cristianismo e apreciará cada vez mais o que seu sentido espiritual Ihe revela.