“Nós vamos nos casar.”
No começo das férias escolares meu pai chegou com essa notícia. Tínhamos ido, toda a família, passar uns dias na praia, na Flórida, e lá estava ele, de mãos dadas com a noiva. Senti um aperto no estômago. Esse seria o início de uma longa semana.
Não é que eu não gostasse da namorada do meu pai, mas tinha dúvidas em vê-la como parte da família. Além disso, o noivado foi uma surpresa para todos, e alguns parentes ficaram magoados. Minha mãe falecera quando eu era pequena, e alguns achavam que essa decisão desrespeitava a memória dela. Não demorou muito para que os membros da família parassem de se falar e os desentendimentos começassem a surgir. Já eu, ora chorava, ora ficava brava, e me escapava zangada toda vez que meu pai tentava falar comigo.
Embora desejasse que tudo voltasse a ser como antes, me dei conta de que uma abordagem mais prática seria tentar pensar de maneira diferente e sentir paz a respeito da situação. Foi quando decidi recorrer à Ciência Cristã. Procurei inspiração no hinário e me apeguei à mensagem do Hino 192, do qual sempre gostei muito.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a quarta estrofe, que diz:
E quando eu despertar,
Cessada a dor,
Pedra em Betel porei
Em Teu louvor
Não mais eu vou chorar
Mais perto quero estar,
Mais perto quero estar,
Meu Deus, de Ti.
(Sarah F. Adams, trad. © CSBD)
Embora eu já tivesse lido esse verso antes, desta vez, devido ao que estava acontecendo na família, finalmente compreendi seu significado. É em meio às nossas adversidades que nos aproximamos de Deus.
A palavra Betel é de origem hebraica e significa “casa de Deus”. Eu queria entender o que significava esta parte do hino, que diz: “Pedra em Betel porei”. Refleti a respeito de como Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência Cristã, usa a palavra consciência como substituição da palavra casa, na interpretação espiritual do Salmo 23 em Ciência e Saúde com Chave das Escrituras (ver p. 578). Aplicando esse mesmo conceito, substituí Betel por “consciência divina”. Então entendi que o hino descreve como somos impelidos a elevar nossos pensamentos acima das dificuldades ou circunstâncias perturbadoras, para a consciência de Deus e Seu amor, quando passamos por um desafio, como duras mágoas. Os desafios nos apresentam oportunidades de elevar ainda mais o pensamento para a consciência da fonte ilimitada do bem, que é Deus. Isso nos ajuda a nos sentir mais próximos dEle e a encontrar paz, respostas e cura.
Essa estrofe do hino 192 também me fez lembrar de uma passagem de Ciência e Saúde, a qual diz: “As provações ensinam os mortais a não se apoiarem em um cajado material, em uma cana quebrada que traspassa o coração” (p. 66). Gostei muito dessa ideia: as provações pelas quais passamos na vida nos ensinam a olhar para além das decepções e limitações, que provêm de uma visão material das coisas. Nesse caso, a visão material dizia que minha família nunca poderia voltar a ser como antes e que, de agora em diante, as opiniões pessoais, emoções e histórico familiar moldariam e ditariam nossa convivência. Mas a percepção espiritual me mostrou uma versão completamente diferente da situação. Eu estava vendo a Deus, o Amor, governando e cuidando de todos nós.
À medida que essas ideias me deixavam mais aberta e disposta a resolver o problema, parei de evitar meu pai. Aliás, eu queria muito me apoiar mais em Deus e tornar mais forte a minha fé por meio dessa experiência.
Meu pai e eu começamos a conversar melhor a respeito de como nos sentíamos. Com uma nova compreensão de que o Amor divino governa, as coisas começaram a fazer mais sentido. Parei de achar que meu pai era egoísta por querer se casar. E ele parou de achar que era descabida a minha dificuldade de lidar com isso. Nosso relacionamento começou a se fortalecer e eu curti estar em família novamente. Logo depois de meu pai se casar, eu me senti “na boa” com relação à minha madrasta, e começamos a nos dar bem.
Com essa experiência, percebi que não precisamos ter medo das dificuldades que surgem em nossa vida. Quando vemos cada desafio como uma oportunidade de nos aproximar de Deus, podemos abordar os contratempos e obstáculos mais destemidamente, e esperar com alegria as bênçãos que nos vêm quando compreendemos um pouco melhor a Deus.
