Com o quê nos deparamos, ao observar o ambiente político em geral? Divisão: eleições disputadas e eleitores furiosos, conclamando atos de violência. A divisão é sem dúvida um assunto difícil de ser enfrentado. É impossível estabelecer uma legislação clara sobre o assunto. Não podemos declarar guerra às divisões. E como sair dessa espiral em que o mundo se meteu?
Embora não haja legislação que possa ser implementada, ou plataforma política que possa fazer alguma coisa — e os indícios são de que as coisas estão piorando — mesmo assim há esperança. A falta de solução pode nos indicar a direção para onde realmente precisamos olhar.
Se depositarmos nossa fé em processos materiais, tais como políticas e legislação, ficaremos desapontados. A resposta está, de fato, em nosso coração — é puramente espiritual. Mas como podemos mudar nosso enfoque e enxergar a divisão através de uma lente espiritual?
Costumo fazer um pequeno exercício mental, no qual atribuo um número a Deus — como se fosse um problema de matemática. Não leva muito tempo até eu perceber que o número que devo atribuir a Deus é um. Não há outro número que possamos atribuir a Deus. Não podemos ter dois deuses. Se tivermos dois deuses, não teremos nenhum. Há apenas um Deus, o que significa que há apenas uma criação — e essa criação é espiritual, harmoniosa e completa, é o reflexo desse Deus, a criação desse Deus.
Jesus disse: “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir” (Marcos 3:24). Ao examinarmos o pensamento voltado ao que é material, veremos dois em todas as coisas. Haver duas de cada coisa parece ser a base do pensamento que se apoia na mente mortal. Muito do que vemos se apresenta como binário, como um ou outro: homem ou mulher, negro ou branco, direita ou esquerda, capitalismo ou socialismo. As variáveis não têm fim. Qual é o resultado? Somos tentados a escolher um lado. Somos tentados a acreditar que as coisas estão divididas, que o bem está dividido e que cabe a nós, como seres humanos, unir os lados.
Pensemos em termos da Bíblia: Qual foi a primeira vez em que a Bíblia falou na existência de dois elementos? Foi ao mencionar a árvore do bem e do mal, a árvore do conhecimento na história de Adão e Eva no livro do Gênesis. Nesse relato Adão e Eva foram tentados a acreditar que precisavam de dois — o bem e o mal. A serpente disse que um não era suficiente. Não é esse o erro básico do pensamento mortal?
O primeiro evento na vida biológica é a divisão da célula. A divisão se processa na matéria. Se nunca nos elevarmos acima do pensamento que tem base na matéria, nunca nos elevaremos acima da divisão. A divisão e o pensamento mortal brotam da mesma raiz.
O pensamento espiritual realiza a cura perfeita porque conhece apenas um Deus, a graça que é una e única, a fé humilde e a confiança moral que Jesus ensinou. Liberta-nos para vivermos como testemunhas de um só Deus, o bem, conforme as palavras de Isaías (ver Isaías 43:10).
Jesus assim falou na última ceia: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27). Essa é a paz mais profunda que o pensamento mortal pode conceber, e que protegeu e elevou Jesus em meio à mais cruel tribulação, e que pode fazer o mesmo por nós. Vencemos a tentação de ver tudo o que é mortal como dois elementos ou mais, ao admitir a paz divina que é una e única, e que só podemos conhecer espiritualmente.
Por isso, quando vemos cenas como as de alguns dos eventos mundiais recentes, pode ser fácil pensar que nossos pensamentos e orações não são importantes. Que precisamos recorrer a meios materiais para lutar pelo que consideramos certo, ou nos afastar para não nos sentirmos deprimidos ou temerosos. Os últimos anos, porém, mostraram que exatamente o oposto é verdadeiro. O fato é que não há solução mortal para a divisão.
No entanto, isso também mostra que a solução está em cada um de nós, como filhos de Deus — em ver a nós mesmos e a todos os demais nessa luz espiritual única, e em aferrar-nos firmemente ao fato de que Deus, o bem, é Tudo, é Uno e é Único.
