Todos nós já tivemos situações, no passado, que gostaríamos de esquecer. Podem ser coisas que dissemos ou fizemos a outra pessoa e das quais nos arrependemos, algo que outras pessoas nos fizeram e que foi doloroso, injusto ou constrangedor, ou acontecimentos que testemunhamos e que nos deixaram uma cicatriz profunda.
Essas memórias podem ser insidiosas e persistentes e, por mais que desejemos esquecê-las, tendemos a repeti-las mentalmente ― às vezes durante décadas. Podemos tentar bloqueá-las do nosso pensamento por meio da força de vontade, mas o que realmente precisamos fazer é curá-las, para que não tenham mais controle sobre nós.
Nós temos, sim, a capacidade de nos libertar desse tipo de pensamentos. Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy escreve: “Tens de controlar os maus pensamentos logo que surgem, do contrário serão eles que, em seguida, te controlarão” (p. 234). Aceitar e até mesmo nutrir memórias deprimentes é contrário à lei de Deus, o bem. Na verdade, a crença de que temos um passado mortal é em si mesma errônea. Deus, sendo o Espírito imortal, não criou a mortalidade nem pensamentos mortais, portanto, eles nunca puderam definir a criação de Deus, que inclui cada um de nós. Ciência e Saúde também diz: “Tudo o que é bom ou que tem valor, Deus fez. Tudo o que é sem valor ou nocivo, Ele não fez ― por isso não é real” (p. 525).
As más lembranças, portanto, não fazem parte da criação de Deus. Consequentemente, elas não têm nenhum poder sobre nós e não merecem um lugar em nossa consciência. Quando nossa compreensão dessa verdade as destrói, constatamos que já não mais estamos acorrentados a mágoas ou arrependimentos relacionados a um passado mortal e material. Como diz a primeira estrofe de um hino do Hinário da Ciência Cristã:
Ó sonhador, desperta do teu sonho;
Ó tu, cativo, te ergue, livre e são.
O Cristo rasga o denso véu do erro,
E vem abrir as portas da prisão.
(Rosa M. Turner, Nº 412, trad. © CSBD)
Quando eu era mais jovem, parecia que minhas opiniões e as de meu pai eram polos opostos em quase tudo. Eu tinha dificuldade em superar nossas diferenças e, honestamente, nem tentava. Lembro-me de dizer-lhe coisas rudes e desrespeitosas, sem consideração por seu ponto de vista, e sem reconhecer suas próprias dificuldades.
Anos depois da morte de meu pai, arrependi-me das vezes em que havia sido indiferente e implacável com ele. Essas memórias começaram a ocupar meu pensamento, e eu as revivia continuamente. Então começaram a crescer como uma bola de neve, trazendo de volta memórias ainda mais negativas, e comecei a me culpar com mais remorso.
Por fim, compreendi que precisava despertar e enfrentar esses pensamentos. Eu [AC1] tinha o hábito de fazer isso por meio da oração, sempre que necessitava curar uma doença física ― reconhecendo, conforme a Ciência Cristã deixa bem claro, que tudo o que é desarmonioso é uma sugestão mental, um sonho do qual o Cristo, a verdadeira ideia de Deus, nos desperta. Por isso, ao invés de tentar reprimir as lembranças dos erros passados, eu sabia que elas poderiam ser [AC2] corrigidas e resolvi chegar a esse ponto. Eu estava aceitando a crença de uma história mortal e material, em vez de cultivar a verdade da existência como a expressão de Deus, o Espírito divino. Eu estava fazendo exatamente o que não queria.
Enquanto eu orava, este versículo bíblico me veio à mente: “…eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2 Coríntios 6:2). Durante meses, esse pensamento foi um guia para mim e me deu esperança. Ao invés de me ver como participante de uma história material, eu precisava aceitar a visão verdadeira e espiritual de que eu fazia parte da realidade sempre atual da harmonia e paz de Deus. Essa era uma mudança de pensamento que poderia se dar aqui e agora. Aliás, eu sabia que, ao ouvir a Deus e confiar em Seu amor e orientação, aquelas lembranças ruins — e seus efeitos negativos em mim — seriam eliminados.
Afirmei que, na verdade, somente Deus, a Mente divina, me governava e que os erros e as lembranças nocivas eram mentiras a respeito da criação de Deus. À medida que meu pensamento começava a deixar a autocondenação e o remorso, consegui me lembrar das inúmeras qualidades que meu pai possuía e que eu realmente amava e respeitava: sua generosidade, seu talento, sua abertura a ideias novas, sua diligência e alegria, além de sua dedicação em propiciar um lar seguro e feliz para nossa família. Eu sabia que essas são qualidades do Espírito, Deus, e não da matéria, portanto, elas são continuamente expressas por meu pai e por mim. O perdão, a gratidão, a harmonia e o amor começaram a substituir muito naturalmente “as sombrias visões do senso material” (Ciência e Saúde, p. 428) a que eu estivera me atendo durante tanto tempo.
A verdade fundamental que corrige persistentes lembranças e memórias de erros, fracassos e mágoas é a compreensão de que o homem nunca é uma pessoa material com uma história mortal, mas é um ser espiritual totalmente puro, criado, governado e guiado por Deus. Em realidade, o homem — cada um de nós — é perfeito e harmonioso. Qualquer coisa que tente roubar nossa felicidade inata, dada por Deus, não tem nenhuma verdade e, portanto, não tem poder.
Partindo de uma perspectiva material, mudar o passado parece impossível, porque isso é contrário às crenças comumente aceitas a respeito do tempo e das condições físicas. Mas Cristo Jesus, o nosso exemplo, desafiava continuamente os pressupostos materiais de tempo e espaço e provou que eram impotentes. Jesus provou também que a lei divina do bem é superior a todas as chamadas leis da matéria.
Como diz Ciência e Saúde: “Só porque os sistemas feitos pelos homens insistem em que o homem adoece e se torna inútil, sofre e morre, tudo em consonância com as leis de Deus, devemos acreditar nisso? Acaso devemos acreditar em uma autoridade que nega o mandamento espiritual de Deus a respeito da perfeição ― autoridade que Jesus provou ser falsa? Ele fazia a vontade do Pai. Curava a doença em desafio ao que se chama lei material, mas de acordo com a lei de Deus, a lei da Mente” (p. 168).
Podemos orar diariamente para afirmar que nossa vida é criada e controlada pela Mente divina. Ocorrências prejudiciais — e a memória delas — não têm controle sobre nós, quando reconhecemos que nossa vida é a expressão da eterna e harmoniosa Vida, Deus.