Ao longo da vida, todos temos de lidar com a tentação. As tentações talvez apareçam sob diferentes formas para cada um de nós, mas qualquer coisa que tente nos afastar da pureza, do amor e da obediência que Deus transmite é um tipo de mal que precisa ser vencido.
Então, saber que toda tentação pode ser vencida por meio da graça e do poder de Deus é motivo de grande regozijo. Isso se deve ao fato de que Deus está sempre expressando, por meio de Seus filhos, criados à Sua imagem e semelhança, a coragem, a força e a bondade que triunfam sobre “o mundo, a carne e o diabo” (Livro de Oração Comum, edição 1662ª).
Indiscutivelmente, nosso abençoado Mestre, Cristo Jesus, foi o maior exemplo humano de como superar a tentação. De fato, toda sua vida foi um mosaico triunfante de como vencer resolutamente um desafio após outro. Cada vez que Jesus se deparava com a tentação, ele reconhecia que ela era somente uma tentativa do mal, ou do diabo, de apresentar uma declaração falsa sobre a criação espiritual de Deus. Ele sabia que o diabo é “mentiroso e pai da mentira” (ver João 8:44). Raciocinando a partir de um ponto de vista espiritual, Jesus compreendia que em nenhum momento uma mentira pode ser verdadeira e que, por não conter nenhuma verdade, a mentira não tem nenhuma substância e nunca pode ser real. Dessa forma, Jesus compreendeu que o diabo é irreal e, consequentemente, sem poder para se opor à criação de Deus.
A vida de nosso Mestre, Cristo Jesus, foi um mosaico triunfante de como vencer resolutamente um desafio após outro.
Entretanto, houve um momento específico no início do ministério de cura de Jesus em que o diabo (ou “magnetismo animal maligno”, como é chamado na Ciência Cristã: ver Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, p. 103), veio para tentá-lo com três propostas atraentes.
Em Mateus 4, versículo 1, lemos que Jesus foi “levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. Se lemos isso em um sentido literal, talvez possamos imaginar que o Espírito Santo, a firme, porém amorosa, presença de Deus, tenha guiado Jesus ao deserto para ser testado pelo diabo. Mas, será que Deus levaria Seu “Filho unigênito” (João 3:16) ou qualquer um de Seus outros filhos a ser tentado? Nunca! A Bíblia diz: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta” (Tiago 1:13).
Portanto, talvez fosse mais correto pensar que no encontro de Jesus com o diabo, Deus estivesse ajudando Jesus a sair da tentação, ao invés de levando-o à tentação. Em Salmos, lemos que Deus é aquele “que conduziu o seu povo pelo deserto” (ver 136:16). Assim, poderíamos dizer que o Espírito está conduzindo Jesus pelo deserto e para fora dele, quando as tentações demoníacas aparecem. Esse maravilhoso fato espiritual é verdadeiro para todos os filhos de Deus. Deus nunca nos leva à tentação; em vez disso, Ele nos capacita a triunfar sobre ela.
O tempo que Jesus passou no deserto levanta uma questão óbvia: o que ele aprendeu ali que o tornou mais forte para enfrentar as tentações do diabo? Podemos encontrar uma boa resposta em Ciência e Saúde. A Sra. Eddy oferece uma definição para a palavra deserto no Glossário de seu livro, a qual diz, em parte: “...o vestíbulo onde o sentido material das coisas desaparece, e onde o sentido espiritual revela as grandes verdades da existência” (p. 597).
Poderíamos dizer então que o deserto seja um lugar onde se descobre que o sentido mortal da criação, incluindo o mal sob todas as suas formas, é irreal e onde o verdadeiro senso sobre Deus e Sua criação espiritual é revelado e compreendido. Fazendo uso da linguagem do Apóstolo Paulo, o deserto é um lugar ou estado de consciência onde aprendemos “a nos despir do velho homem [homem material] com seus feitos e a nos revestir do novo homem [homem espiritual]” (ver Colossenses 3:9, 10).
Nós também podemos sentir o poder e a presença de Deus no deserto, ou sempre que estamos sendo tentados.
Assim, quando o Espírito Santo conduziu Jesus pelo deserto, foi para que ele comungasse com Deus, como também para que ele afirmasse “as grandes verdades da existência” (ver a definição de deserto acima). À medida que Jesus orava para perceber a irrealidade de uma criação material imperfeita, simultaneamente ele se conscientizava da totalidade do Espírito divino, seu Pai-Mãe Deus. Ao seguir o exemplo de Jesus, nós também podemos sentir o poder e a presença de Deus no deserto, ou sempre que achamos que estamos sendo tentados.
É útil também observar que parte da definição de Eddy para a palavra deserto refere-se à mesma como um “vestíbulo”. O que é um vestíbulo? Falando biblicamente, o vestíbulo era o pórtico exterior do templo, onde as leis de Deus eram julgadas por sacerdotes e homens santos. A Bíblia explica a função do vestíbulo do magnífico templo do rei Salomão desta maneira: “Então ele fez um pórtico [vestíbulo] para o trono de onde ele podia julgar, a saber, o pórtico [vestíbulo] do julgamento” (1 Reis 7:7 conforme a versão bíblica King James).
Desse modo, ao pensar sobre o deserto como um vestíbulo, talvez seja útil imaginar um tribunal, de acordo com o significado bíblico mencionado acima. Não entramos no deserto para sermos julgados ou condenados como mortais imperfeitos, sentenciados a lavrar o solo de uma existência material dolorosa. Mas, em vez disso, o deserto pode ser um local onde nos sentimos próximos de Deus, que amorosamente julga a cada um de nós como Seus preciosos filhos, e onde o diabo, ou o mal, é condenado ao seu próprio nada.
Levando-se em conta que o deserto funciona como um tribunal, poderíamos concluir que Jesus vai para o deserto a fim de se preparar para um julgamento. Nos sagrados recintos de sua própria consciência elevada, Jesus prepara sua defesa alinhando-se às infalíveis leis de Deus, que revelam a verdadeira natureza espiritual do homem. De fato, a palavra grega para tentado usada nessa história é peirazo, que provém de uma palavra que pode significar “julgamento” (Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible [A Concordância Bíblica Completa de Strong]). Assim, depois de passar 40 dias no deserto afirmando sua própria unidade com Deus, Jesus está pronto para o julgamento.
Entretanto, uma questão importante permanece. Quem é que está em julgamento quando o diabo aparece para tentar a Jesus? Não parece que é Jesus quem está sendo julgado? O intenso ataque de perseguição nessa história certamente parece provir do diabo. Mas, pensemos mais uma vez em como a história começa. Como foi que Jesus entrou no “tribunal do deserto”? Ele foi “levado pelo Espírito” (Mateus 4:1). Portanto, o Espírito Santo inicia esse julgamento para pôr a descoberto que o diabo, o mal, não tem poder algum, e que é o diabo que está sendo perseguido! O diabo reivindica o fato de que ele veio para atacar o Cristo. Entretanto, é o Espírito divino que está conduzindo esse processo.
Apesar de suas alegações, o mal nunca pode realmente instigar um conflito com os filhos de Deus, porque somente o Espírito, Deus, possui todo o poder e inicia toda ação! Os ensinamentos de Eddy confirmam que isso é verdadeiro, quando ela diz: “A Ciência assumiu o irreprimível conflito entre os sentidos e a Alma. O pensamento mortal está em guerra contra esses sentidos como quem golpeia o ar, mas a Ciência tem mais poder e acaba com a luta” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 102). Por conseguinte, é a Ciência Cristã, as leis espirituais de Deus, que tanto inicia como acaba todas as lutas com o diabo e suas supostas sugestões materiais.
Jesus compreendeu que o diabo é irreal e,
consequentemente, sem poder para se opor à criação de Deus.
Saber disso muda tudo. Não quer dizer que cada provação ou tentação que enfrentamos signifique que de fato estejamos sendo perseguidos. Ao contrário, é Deus fazendo com que o erro venha à tona para que as espúrias pretensões do mal possam ser destruídas. O diabo mente quando diz que é o agressor. Ele confere a si mesmo um status de soberba, o qual ele nunca teve, e é no deserto que aprendemos a ver além das pretensões do diabo. À medida que o Espírito Santo leva cada um de nós a uma compreensão mais plena do poder e da presença de Deus, o falso senso material da criação tem inevitavelmente de desaparecer.
Então, quando a vida humana parece nos colocar em circunstâncias incertas ou desagradáveis, ou sentimos como se estivéssemos vagando em um deserto árido, podemos sempre ter a certeza de que não estamos sozinhos. Jesus provou para toda a humanidade que mesmo quando estamos no deserto, o Espírito Santo está conosco, guiando-nos para mais perto de Deus. Uma vez que Deus nos ama, é perfeitamente natural que Ele esteja conosco no deserto, ajudando a nos elevar acima de qualquer coisa que seja dessemelhante do bem, revelando a expressão mais elevada da nossa verdadeira natureza crística.
Lembre-se, o deserto é o vestíbulo ou pórtico do templo de Deus. Consequentemente, cada vez que temos uma experiência triunfante no deserto e derrotamos tentações materiais por meio da força e do poder de Deus, alcançamos a compreensão espiritual que nos capacita a entrar no próprio templo sagrado. Eddy fala desse fenômeno em Ciência e Saúde: “A compreensão, por pouca que seja, do Todo-poder divino, destrói o medo e firma os pés na verdadeira vereda — a vereda que conduz à ‘casa não feita por mãos, eterna, nos céus’ ” (p. 454).
Para mim, isso é o que significa ser “levado pelo Espírito ao deserto”. Uma vez que o Espírito Santo está conosco no deserto durante cada provação, o diabo perde a causa antes mesmo de abrir sua boca mentirosa e o Cristo é sempre vitorioso!
    