Joguei, sobre a mesa da sala de jantar, o jornal com aquela manchete chocante. Desanimada, não consegui ler mais nada. Um escândalo político estivera sendo o tema central dos noticiários durante os últimos dias e, naquele dia específico, veio à luz um fato que revelou irregularidades ainda mais graves.
Comecei a carregar um cesto de roupa suja para lavar no porão, mas eu não estava realmente pensando em lavar roupa. Eu estava condenando mentalmente a pessoa que estava no centro do escândalo. Absorta em meus pensamentos e sem conseguir ver os degraus diante de mim devido ao cesto de roupa que eu estava carregando, comecei a descer a escada sem perceber que meu gato estava bem à minha frente, dormindo. Pisei nele e, inadvertidamente, fiz com que ele caísse da escada. Então, perdi o equilíbrio e também caí, aterrissando, sobre um de meus ombros, no chão do porão. A queda me deixou sem ar e, por um momento, não consegui me mover. Imediatamente recorri a Deus em oração em busca de ajuda. Ao orar, lembrei-me deste versículo bíblico: “Apruma-te direito sobre os pés!” (Atos 14:10). Essa é uma frase que o Apóstolo Paulo falou em “alta voz” ao ordenar a um homem paralítico de nascença que caminhasse. Senti como se Deus estivesse me mandando ficar em pé imediatamente, para demonstrar a força e o domínio que Ele me dá. Obedeci e constatei que podia ficar em pé, embora, a princípio, com muito desconforto. Ao me levantar e ficar em pé, a palavra íntegro, ressoou em meu pensamento. Então, lembrei-me de outra passagem bíblica: “Observa o homem íntegro e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade” (Salmos 37:37).
De repente, entendi o que havia provocado a queda: Eu havia aceitado erroneamente que algumas pessoas haviam “caído” do amor de Deus, que eles eram mortais pecadores trabalhando contra o que é moral e bom. Eu estivera julgando e condenando a pessoa apanhada no escândalo político como alguém que havia caído em pecado. Eu não havia reconhecido aquela pessoa em sua verdadeira natureza, como um filho íntegro de Deus, e agora eu estava literalmente me vendo como alguém que havia caído na imperfeição!
Dediquei alguns minutos a orar a respeito da controvérsia política e por todos os envolvidos nela. Meu duro ponto de vista se desvaneceu diante dos pensamentos puros e doces do Amor divino, os quais inundaram minha consciência. Propus-me a reconhecer que todos são realmente íntegros, perfeitos e vivem em paz, porque em realidade todos são a expressão pura de Deus e nunca estão fora de Sua presença amorosa; e Deus não dá à Sua imagem e semelhança a opção de pecar. Como um bom pai, Deus ama demais a todos os Seus filhos para permitir que eles prejudiquem ou sejam prejudicados. Saber essa verdade espiritual nos estimula a ser mais íntegros em nosso próprio pensamento e em nossa vida. Então, ao orar, eu confiava em que a terna e sábia orientação de Deus me ajudaria a ter pensamentos mais puros e mais amorosos.
Com essa oração, a dor e a rigidez que eu estava sentindo simplesmente desapareceram. Senti que eu podia continuar a lavar a roupa, mas quando estava pronta para fazer isso, meu gato, que estava escondido em um lugar no porão no qual eu não podia alcançá-lo, fez um som horrível. Fiquei com medo de que talvez eu o tivesse machucado. Recorri novamente a Deus e orei para que Ele me mostrasse que, por eu ser a expressão de Deus, em realidade eu nunca poderia ferir nenhuma das doces e amadas ideias de Deus.
Eu sabia, pela minha experiência como Cientista Cristã, que o Cristo, a Verdade, a divina manifestação de Deus, nos revela mensagens sanadoras provenientes de Deus, de uma maneira que podemos compreender. Mary Baker Eddy escreve em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “O Cristo é a ideia verdadeira que proclama o bem, a mensagem divina de Deus aos homens, a qual fala à consciência humana” (p. 332). A terna mensagem do Cristo, a qual me veio naquele momento de oração, foi uma mensagem simples a respeito da necessidade de perdoar.
Senti-me guiada a perdoar não só o político, mas também a mim mesma pela condenação que eu estivera nutrindo em meu pensamento; a reconhecer que o amor supremo de Deus, o Pai de todos, nos perdoa ao destruir as propensões errôneas e ao incutir em nós o desejo de fazer a vontade de Deus. Deus conhece a todos nós somente como Seus amados filhos. Essa mensagem divina de perdão foi direto ao ponto, era exatamente o que eu precisava. Ela me conduziu em uma nova direção, abrindo o caminho para que eu afirmasse que nós todos somos livres para desfrutar a bênção de Deus, isto é, para reconhecer e viver, como filho de Deus, de acordo com Sua verdadeira bondade.
Reconheci que Deus não encobre o pecado, mas a constante lei da bondade de Deus, a qual atua no pensamento humano, vence e destrói o pecado, provando que onde quer que exista um Deus único, isento de pecado (e Deus está em toda parte), não pode existir pecado ou pecador, porque o pecado não pode existir na onipresença do amor de Deus. Ao orar dessa maneira, senti-me absolvida do meu próprio pensamento pecaminoso e aprendi uma lição valiosa: assim como os pensamentos pecaminosos me deixaram, seus aparentes efeitos também podiam nos deixar. Meu gato não tinha de pagar pelo meu erro, por eu estar absorta em meu próprio ego e ter me descuidado. Naquele momento, eu pude provar que tanto o gato como eu somos, em realidade, inocentes, porque foi assim que Deus nos fez e nos conhece.
Serenamente, sentei no chão, próximo ao local em que o gato estava escondido e falei com ele a respeito do amor de Deus e de como esse amor garantia a segurança e a paz dele. Logo meu gato saiu de seu esconderijo e pulou em meus braços ronronando. Ele parecia estar completamente bem, o que para mim era uma indicação do cuidado constante de Deus.
Essa experiência aconteceu há alguns anos e desde aquela ocasião continuei a observar a necessidade de governar melhor meus pensamentos, de acordo com os ensinamentos do Cristo. Ao governar melhor meus pensamentos, contribuo para a existência de um bom governo para todos. Eu não posso julgar e condenar os outros, se eu demonstro que Deus, mediante o Cristo, está governando a mim e a todos. Como Paulo escreve, sei que devo “leva[r] cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5).
Recentemente, estive pensando em como posso ajudar a curar as divisões políticas que prejudicariam um governo eficaz. Para encontrar respostas, pesquisei as Escrituras e os escritos da Sra. Eddy já publicados. Eu estava particularmente interessada em ler o que a Sra. Eddy tinha a dizer a respeito de governo, visto que ela viveu em uma época que aparentemente apresentava muitos dos mesmos problemas sobre os quais lemos hoje: um país dividido, traições políticas, notícias tendenciosas e instabilidade econômica. Ficou claro para mim que essas circunstâncias humanas difíceis não diminuíram a profunda convicção que a Sra. Eddy tinha no governo de Deus e na capacidade de todos vivenciarem esse governo aqui e agora.
Ela esperava que os Cientistas Cristãos orassem pelo governo, conforme este pedido mostra: “Orai para que a presença divina possa também guiar e abençoar a autoridade máxima de nossa nação, as pessoas ligadas a esse cargo executivo de confiança, bem como o nosso sistema judiciário; e para que dê sabedoria ao nosso congresso e sustente o país com o braço direito de Sua retidão” (Christian Science versus Pantheism [Ciência Cristã versus Panteísmo], p. 14). Seguindo o exemplo de Jesus, a Sra. Eddy tinha uma convicção inabalável na capacidade de Deus para governar. Ela escreveu: “Mantém-te firme na compreensão de que a Mente divina governa e de que na Ciência o homem reflete o governo de Deus” (Ciência e Saúde, p. 393). Ela também escreveu: “Com toda segurança, podemos deixar com Deus o governo do homem” (Retrospecção e Introspecção, p. 90).
O estudo que realizei me mostrou como Deus governa. Ele governa ao ser Ele mesmo. Visto que toda a criação é a emanação de Deus, e existe em Deus e é de Deus, então, ao governar a Si mesmo, Deus está governando a todos, inclusive cada um de nós, como Sua imagem perfeita. Aceitar que Deus governa todo o nosso existir, como Ele verdadeiramente o faz, capacita-nos a melhor expressar o bom governo de nós mesmos. Como a Sra. Eddy declara: “O homem só é corretamente governado por si mesmo, quando bem guiado e governado por seu Criador, a Verdade divina e o Amor divino” (Ciência e Saúde, p. 106), e “Ao refletir o governo de Deus, o homem se governa a si mesmo” (Ciência e Saúde, p. 125).
Aquela queda na escada do porão e a cura rápida que se seguiu foram para mim um alerta para ter pensamentos corretos sobre o governo, orar por ele e respeitar a todos que o servem. Em tempos de escândalos, extremo partidarismo político ou eleições agitadas, é fácil ficarmos presos à atmosfera mental ebuliente e até mesmo tomar partido e contribuir com as críticas. Mas temos um chamado do alto para sermos sanadores no mundo, o que inclui a purificação do ambiente político e do governo.
A Sra. Eddy elevou o padrão a respeito desse tema, quando lhe perguntaram: “Quais são suas inclinações políticas?” A resposta dela foi: “Na verdade, não tenho nenhuma, exceto ajudar a apoiar um governo reto, amar a Deus acima de tudo, e ao meu próximo como a mim mesma” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 276). Orar para apoiar um governo justo, e amar a Deus e ao nosso próximo, ajuda-nos a estar acima das disputas partidaristas e a curar os conflitos políticos.
Tradução do original em inglês publicado na edição de 4 de julho de 2016 do Christian Science Sentinel.