Há alguns meses, cinco dos estudantes de Ciência Cristã que no ano passado fizeram um estágio nA Igreja Mãe, em Boston, se reuniram com O Arauto para compartilhar suas ideias sobre alguns tópicos importantes. Os participantes foram Lonie Fonseca (Brasil), Jessica Santos (Brasil), Anna-Zoë Herr (Alemanha), Timon Keller (Alemanha) e Sergio Zapata (Peru).
O que você diria a um amigo que se sente solitário, intimidado ou rejeitado?
Lonie: Sempre que converso com alguém que não esteja se sentindo amado ou se sinta rejeitado, primeiramente oro com esta amorosa citação de Mary Baker Eddy: “Quando é o coração que fala, por mais simples que sejam as palavras, sua linguagem é sempre aceita por aqueles que têm coração” (Inspiração para os Relacionamentos da Vida, p. 58). Pode ser que às vezes pensemos que precisamos dizer a coisa certa ou lembrar da citação mais adequada. Mas então, oramos para que nosso pensamento esteja em linha com o Espírito, e isso se expressa em amor, de tal maneira que a pessoa se sente amada e nós não precisamos convencer essa pessoa de mais nada.
Algumas vezes não menciono a Ciência Cristã, apenas compartilho algumas ideias e frequentemente as pessoas dizem: “De onde vieram essas ideias”? Então falo sobre a Ciência Cristã.
Existe outra citação da qual gosto muito e à qual, com frequência, as pessoas são muito receptivas: “A flecha mental que sai do arco de outra pessoa é praticamente inócua, a não ser que nosso próprio pensamento lhe afie a ponta. É nosso orgulho que torna irritante a crítica dos outros, é nossa vontade própria que torna ofensiva a atuação dos outros, é nosso egotismo que se ofende com a manifestação do ego dos outros. Devemos, sim, ficar sentidos pelas nossas próprias faltas; mas não podemos nos dar ao luxo de nos sentir infelizes pelas faltas dos outros” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883-1896, pp. 223–224).
Por isso, sempre insisto na ideia de que não podemos sofrer por um erro cometido por outra pessoa. Não podemos ser prejudicados pela crença de que estamos sendo ofendidos ou intimidados. Temos o direito de nos sentir em paz, e, sempre que parece que estamos sendo atacados, sabemos que isso não nos prejudica. Assim sendo, sempre respondemos com amor. Outro dia alguém fez uma analogia da qual nunca me esquecerei! Por exemplo, quando desejamos fazer suco de laranja, nós esprememos uma laranja e o suco que sai dela é de laranja. Da mesma maneira, veio-me ao pensamento que, uma vez que Deus nos criou para expressar amor, sempre que alguém nos “espremer”, ou seja, tentar nos magoar, o que é que sairá de nós? Somente amor! Então, encontramos a paz e a alegria, porque estamos livres de sentimentos nocivos.
Zoë: Para mim, uma das citações mais importantes diz: “O melhor sermão que já foi pregado é a Verdade praticada e demonstrada mediante a destruição do pecado, da doença e da morte” (Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 201). Acho incrivelmente importante saber que Deus fala diretamente a cada pessoa de uma maneira que todos entendem.
Temos de ser aquele amigo que tem tempo para ouvir. É muito reconfortante para as pessoas ter alguém que as ouça com tal compreensão e amor incondicional, que realmente se sentem aceitas e compreendidas. Nós as ajudamos sabendo que elas já possuem toda a força e todo o conhecimento de que necessitam para resolver tudo por si mesmas, pois Deus é a fonte dessa força e desse conhecimento. Assim sendo, não somos a muleta na qual elas se apoiam, mas a pessoa que está ao seu lado, animando-as e sabendo que expressam a força necessária para resolver seus problemas. A Sra. Eddy disse que não podemos curar realmente até que saibamos como restaurar os quebrantados de coração.
Uma das minhas citações favoritas é: “Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Provérbios 3:5, 6). Acho essa citação muito científica, porque diz que, se você se apoiar em Deus de todo o seu coração, não 99 por cento, mas 100 por cento, então seus pensamentos e seus caminhos serão estabelecidos. Tenho tido algumas experiências realmente maravilhosas, que me permitiram perceber que, se eu me apoiar apenas um pouco, talvez eu não veja todo o caminho, mas se eu me apoiar com toda a minha força e todo o meu coração e toda a minha mente e toda a minha alma, então o caminho fica incrivelmente claro e me sinto muito segura em tudo o que faço, porque não me apoio em nada que não seja Deus.
Em uma conferência de Geith Plimer, ele disse que o deserto é um lugar sagrado, e isso realmente me despertou a curiosidade, pois em minha experiência eu sempre soube que isso é verdade, mas nunca consegui entender o porquê. A Sra. Eddy define metafisicamente deserto como: “Solidão; dúvida; escuridão. Espontaneidade de pensamento e de ideia; o vestíbulo onde um senso material das coisas desaparece, e onde o senso espiritual desdobra os grandiosos fatos da existência” (Ciência e Saúde, p. 597). Devido ao fato de que no deserto não existe nada no qual você possa se apoiar humanamente, você tem de se apoiar em Deus, e essa é a razão de o deserto ser um lugar sagrado, porque lá não há nada além de Deus a que recorrer.
Quais os problemas do mundo de hoje que mais preocupam vocês e que ideias da
Ciência Cristã os ajudam a orar a respeito?
Sergio: Os noticiários falam muito de violência, discriminação, racismo, doenças e todo tipo de problema. Acho que a melhor forma de tratá-los é volvendo-nos à verdade espiritual de que esses problemas realmente se constituem no nada. A única causa de tudo o que de fato existe é Deus e o único efeito que pode provir de Deus é o bem. Quando o ponto de partida é essa compreensão, então vemos o mundo de forma diferente; vemos a todos como filhos de Deus, como aqueles que se amam uns aos outros e não estão confinados por barreiras e condições físicas nem acreditam nelas, mas como aqueles que são espirituais e veem a todos como espirituais.
Deus criou tudo bom e Sua criação permanece assim eternamente. Como Cientistas Cristãos, mesmo que sejamos originários de lugares diferentes, nosso trabalho é compartilhar a verdade onde quer que estejamos, ajudar as pessoas a verem além daquilo que se constitui no nada e mostrar a elas a realidade espiritual.
Portanto, a primeira coisa a fazer é mudar nossa perspectiva de como vemos o mundo, e nós oramos para vê-lo espiritualmente. Essa é a melhor maneira de trazer a paz, isto é, orar para saber que toda a realidade foi criada para expressar harmonia e paz.
Lonie: No Brasil, temos alguns problemas com os quais precisamos lidar como Cientistas Cristãos, e um deles é a política. Existe a crença de que o país está dividido e de que há grande disputa pelo poder. Outra crença é a de carência, de que não há o suficiente para todos. Todos esses problemas têm sua base na materialidade.
Quando vi o que estava acontecendo, disse para mim mesma: “Não estou aqui para ver o ódio; estou aqui para testemunhar a harmonia de Deus”. Compreendi que precisava ver tudo sob uma nova perspectiva. Conhecer nossa identidade espiritual nos protege da crença material errônea de que temos muito pouco e de que há outros que têm demais. O que realmente necessitamos é saber que somos um com Deus e que, portanto, nada nos pode faltar, visto que nunca estamos separados de Deus. À medida que conhecemos e compreendemos nossa origem espiritual, paramos de rotular as pessoas e passamos a vê-las como o reflexo espiritual de Deus; também lhes mostramos que todos podemos expressar amor despojado do ego, quando nós mesmos nos esforçamos para fazer isso.
Há uma bela citação em Hebreus na qual confio muito e que diz que devemos ser gratos por termos um reino que não pode ser abalado (ver 12:25-28). Quando vemos que nosso próximo está passando por alguma dificuldade, expressar amor incondicional certamente o ajudará. Assim sendo, ao invés de me sentir encurralada no cenário material e de tentar consertá-lo, insisto em saber que Deus está nos guiando a tomar as melhores decisões. Deus está governando nosso país. Nós temos um reino que não pode ser abalado.
Timon: Sinto que neste momento há problemas em todo o mundo, tais como a crise dos refugiados na Europa, a crise na Ucrânia, o escândalo da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos e todas essas coisas que parecem ser tão opressivas e ter tanto poder, desafios que nenhum país está preparado para enfrentar de uma só vez.
Para mim, isso tudo se resume no fato de que nós todos temos um lugar em Deus, e Deus é sempre harmonioso. Temos o direito de estar nesse lugar; ninguém pode tirar esse lugar de nós. Temos de nos afastar das emoções e circunstâncias humanas e orar para focar aquilo que é real, a verdade de que temos nosso lugar seguro no Amor e que, portanto, não podemos estar fora da bondade do Amor.
Como vocês oram quando precisam tomar uma decisão importante, como por exemplo, o que fazer depois da faculdade?
Timon: Quando comecei meu primeiro semestre na faculdade, estava muito seguro de que ia me formar em ciências políticas, talvez em relações internacionais ou em algo semelhante. Eu queria distância de qualquer coisa relacionada a ciências naturais. Desejava nunca ter de lidar com isso. Então, inscrevi-me na aula de história natural simplesmente para cumprir com o crédito em ciências naturais e me livrar desse assunto de uma vez por todas. Mas para mim foi muito importante prestar atenção ao “cicio tranquilo e suave” (ver 1 Reis 19:12) da Verdade, pois quando comecei a frequentar as aulas de ciências políticas, dei-me conta de que aquela disciplina não era para mim. Ao invés de me sentir inspirado e realmente interessado na matéria, percebi que não era exatamente ali que eu desejava estar.
Então, veio-me o pensamento de que eu podia compreender as ciências naturais e de que isso até poderia ser divertido. Eu esperava simplesmente ser aprovado em história natural e ficar feliz por deixar essa matéria para trás. Mas aconteceu que consegui passar de ano e, conversando com o meu professor, acabei decidindo me formar em biologia em vez de em ciências políticas, porque foi exatamente aquele “cicio tranquilo e suave” que me guiou até ali e me mostrou que aquele era o meu lugar correto. Isso aconteceu por meio da orientação de Deus, pois humanamente eu nunca poderia ter planejado que minha escolha de carreira aconteceria daquela maneira. Isso me tocou profundamente.
Sergio: Acho que a humildade é a primeira coisa que temos de expressar sempre que precisamos decidir que carreira seguir ou que aulas cursar. Mas como podemos expressar humildade? Apenas ouvindo. Temos de deixar de lado as opiniões humanas, as ideias e até mesmo as coisas que desejamos fazer. Temos de compreender e confiar em que Deus já tem a coisa certa para nós, e, seja ela qual for, ela será perfeita e a aceitaremos e nos sairemos muito bem.
Quando sabemos, em nosso íntimo, que Deus tem o melhor para nós, paramos de nos preocupar. Continuamos a orar e a resposta vem. Mesmo se nos sentirmos inseguros e acharmos que não temos as qualidades necessárias para seguir determinado caminho, temos de reconhecer que refletimos todas as qualidades de Deus e que, portanto, podemos enfrentar qualquer coisa.
A primeira coisa que precisamos fazer é confiar em Deus. Quando temos essa confiança, que está fundamentada na compreensão espiritual, tudo se desdobra naturalmente. Encontramos tudo o que for correto para nós e isso inclui o lugar, a carreira e o companheirismo corretos. Somos ideias de Deus, a reflexão, o reflexo de Deus, e isso significa que somos perfeitos, capazes de fazer tudo o que seja correto fazermos; portanto, não devemos temer. Quando temos medo de planejar algo, simplesmente escutemos e deixemos que Deus nos tome pela mão, e Ele nos guiará.
Lonie: Para mim foi realmente difícil silenciar o senso pessoal de ego, pois eu tinha medo de precisar seguir uma carreira que me desse dinheiro. Tive de lidar com a ideia de que não havia suprimento suficiente. Consegui me livrar desse arraigado senso daquilo que eu acreditava necessitar, somente quando percebi o que está escrito em João: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (10:10).
Quando comecei a espiritualizar meu pensamento e a compreender que Deus nos dá as ideias espirituais que nos proveem tudo de que necessitamos, consegui me livrar do medo de que algo pudesse faltar, consegui parar de pensar constantemente que eu precisava seguir uma carreira pelo dinheiro.
Essa ideia também pode ser aplicada à crença de que não existem empregos suficientes. Sempre sentia que eu não era boa o suficiente para fazer certas coisas, e sempre focava aquilo que eu não conseguia fazer bem, em vez de ver as qualidades que eu já estava expressando e o quão natural era expressá-las, porque Deus expressa em mim todas as qualidades de que necessito. Todos nós temos essas qualidades espirituais. Quando consideramos o que já estamos fazendo e compreendemos que somos a expressão perfeita e amorosa de Deus e que refletimos o poder criativo de Deus, somos capazes de melhorar as outras coisas nas quais achamos que não somos bons o suficiente.
Jessica: Há uma passagem na Bíblia da qual gosto muito, à qual recorro sempre que não tenho certeza de qual o próximo passo a ser dado: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Salmos 1:1, 2).
Sinto-me reconfortada por saber que, muito embora eu possa não saber humanamente o que vem a seguir, sempre estarei feliz, porque a lei de Deus está sempre em ação. Portanto, sinto-me sempre segura e descanso ao saber que meu próximo passo já está definido e que ele se desdobrará e será maravilhoso.
