Na semana anterior ao Natal, minha vizinha entrou pela porta da minha cozinha e me encontrou fazendo biscoitos natalinos e cantando: “Exultemos, eis a Páscoa” (Frances Thompson Hill, Hinário da Ciência Cristã, N0 171). Ela deu risada e disse que eu havia confundido os feriados.
Mas será que realmente me confundi? Não estão o nascimento de Jesus (Natal) e sua ressurreição (Páscoa) intrinsicamente ligados? Se Cristo Jesus não tivesse vindo, ele não poderia ter ressuscitado e provado para toda a humanidade que Deus é a Vida do homem e que o Amor vence o ódio. Se ele não tivesse cumprido a missão que Deus havia lhe designado, não estaríamos celebrando hoje seu nascimento.
Parece-me que todo aquele que ponderar cuidadosamente sobre esses dois importantes acontecimentos, perceberá que eles estão inegavelmente relacionados. Uma reflexão mais profunda sobre essa ligação com o Cristo tornaria o Natal mais significativo do que nunca, isto é, sentiríamos o Cristo mais ativo e importante em nossa vida. Isso certamente acontece comigo e também me proporciona paz interior e amor pela humanidade, sentimentos dos quais nem mesmo toda a atividade e comercialização típicos da época natalina podem me privar.
O Cristo, a atividade pela qual Deus revela a Si mesmo, sempre manifestou a presença e o poder de Deus para a humanidade, sob formas tais que todos conseguem compreender. Durante séculos, por meio dos profetas, Deus havia preparado o pensamento da humanidade para a vinda do Messias, ou Salvador. No tempo certo, a “...natureza divina do Cristo se manifestou na natureza humana de Jesus” (Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 25). Foi esse elemento-Cristo, explica a Sra. Eddy, que fez de Jesus o Caminho (ver p. 288).
Durante a época do Natal, gosto dos meus “momentos de manjedoura”, que é como chamo o tempo que reservo a cada dia para valorizar o Cristo, especialmente cada evidência do Cristo (ou Messias), que Cristo Jesus viveu, amou, ensinou e comprovou durante os três anos de seu ministério de cura. Apoiando-me no texto dos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas, João), e no de What Christmas Means to Me and Other Christmas Messages [O que o Natal significa para mim e outras mensagens natalinas], que é uma compilação dos escritos de Mary Baker Eddy sobre o Natal, deixo que o Cristo fale comigo, de uma maneira nova, única, e ele sempre o faz.
Seja lá o que chame a minha atenção, sempre transforma o Natal em algo muito mais significativo e ressalta as qualidades do Cristo, as quais Jesus expressava e que se tornavam mais fortes, preparando-o para sua demonstração plena e final da Ciência Cristã, isto é, a vitória sobre a morte. Estamos falando de qualidades como ternura e perseverança, devoção e dedicação, compaixão e confiança, integridade e humildade, fidelidade e obediência, paciência e persistência, força e certeza, alegria espiritual e domínio.
Isso não somente me mostra como o Natal é importante para a nossa compreensão da Páscoa, e vice-versa, mas também a importância de cada momento ocorrido entre esses dois acontecimentos na carreira de Jesus! Se em qualquer momento ele tivesse hesitado aceitar ou cumprir com a missão que Deus havia lhe designado, nós não teríamos a comemoração do Natal nem da Páscoa. Cada incidente registrado entre seu nascimento e ressurreição autentica o significado de seu nascimento e confirma que sua missão certamente seria cumprida.
Durante um dos meus momentos de manjedoura, chamou-me atenção na Bíblia o relato daquilo que a voz de Deus disse logo após o batismo de Jesus: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:17). A Bíblia relata o comprometimento inabalável do Mestre para com sua missão desde esse momento. A partir daí, ele nunca hesitou nem voltou atrás.
Durante a época do Natal, gosto dos meus “momentos de manjedoura”, que é como chamo o tempo que reservo a cada dia para valorizar o Cristo.
Em outra ocasião, um fato que me impressionou muito foi o que aconteceu logo depois do batismo, quando Jesus foi tentado pelo diabo no deserto. O Mestre é imediatamente posto à prova. O diabo foi muito sutil ao procurar plantar a dúvida, e cada vez que tentava a Jesus, começava com a frase: “Se és Filho de Deus...” Apesar disso, durante todo esse período difícil de 40 dias e 40 noites no deserto, Jesus permaneceu fiel à sua missão. Sua vigilância e inabalável fidelidade continuaram ao longo de todo o seu ministério, sem que ele jamais vacilasse.
Certo dia, o que se destacou para mim foi a constância com que Jesus reconhecia sua unidade com o Pai e sua consagração a prová-la por meio da cura. Ele não falava simplesmente sobre essa unidade, ele a vivia, e se elevava cada vez mais alto em sua compreensão, por meio de cada experiência e de cada cura.
No Natal passado, meu momento de manjedoura mais inspirador foi vislumbrar a glória que Jesus vivenciou no jardim de Getsêmani. Quantas vezes eu havia lido a frase: “Durante sua noite de tristeza e de glória no horto” (Ciência e Saúde, p. 47) e pensado: “Como poderia haver glória naquele horto”? Glória é luminosidade, resplendor, mas Jesus estava suando e “seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (ver Lucas 22:44).
Depois sua glória se tornou evidente. Mas Mary Baker Eddy percebeu que essa glória estava até mesmo ali no horto. Ela escreve: “Durante sua noite de tristeza e de glória no horto, Jesus compreendeu que é totalmente errada a crença na possibilidade de haver inteligência material” (Ciência e Saúde, pp. 47, 48). Um pouco mais adiante, a Sra. Eddy diz que ele “se volveu para sempre da terra para o céu, dos sentidos para a Alma” (p. 48). Intelectualmente, eu compreendi que todo o apoio humano havia lhe falhado (até mesmo seus discípulos não puderam vigiar nem por uma hora com ele). Mas eu precisava não apenas entender, mas também sentir a glória divina que Jesus sentiu e compreendeu!
Portanto, enquanto eu estudava os relatos de Mateus, Marcos e Lucas sobre a experiência de Jesus no horto, logo após Jesus pedir para o Pai passar dele aquele cálice e de orar com sinceridade: “contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lucas 22:42), notei este versículo, que somente Lucas registra: “Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava” (Lucas 22:43). Que bela manifestação da presença de Deus, isto é, os pensamentos de Deus falando direta e especificamente a Jesus, exatamente ali onde ele se encontrava, naquele momento de necessidade, naquele momento de compreensão, encorajando-o, consolando-o e elevando-o ainda mais alto.
Não sabemos qual foi a mensagem, mas realmente sabemos o que ela realizou. Ela deu a Jesus o apoio e a força de que ele necessitava para suportar e triunfar sobre a crucificação pela qual iria passar. Deve ter sido uma confirmação bastante forte e muito doce da certeza da totalidade e da bondade de Deus! Uma clara percepção do Cristo, a verdadeira identidade que encheu sua consciência de luz, isto é, da realidade e realeza da sua existência. Mais tarde, essa verdadeira percepção o revigoraria e o levaria ao triunfo; contudo, ela lhe fora concedida naquele momento para que ele pudesse se ater a ela. E foi isso o que ele fez!
No Evangelho de João, lemos que depois de Jesus pedir: “Pai, salva-me desta hora”, ele reconhece: “Mas precisamente com este propósito vim para esta hora” e ora, assim: “Pai, glorifica o teu nome”. Deus lhe respondeu com esta garantia: “Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei” (João 12:27, 28). Não foi a promessa da bondade ininterrupta de Deus que capacitou Jesus a orar e a dizer com sinceridade: “contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lucas 22:42)? Ele realmente disse isso com sinceridade!
A glória que eu vi no horto, e que penso que Jesus deve ter visto, foi uma percepção tão clara da totalidade da bondade de Deus que Jesus reconheceu sua vitória ali mesmo. Ao manter seus olhos na coroa, ele suportou a cruz e venceu a morte e o túmulo. Que confiança ele teve de que a vontade de Deus sempre é feita e sempre é boa! Para mim, a oração de Jesus foi seu ardente amor a Deus, que estava mostrando a Jesus Seu fiel amor por ele.
Aproxima-se mais um Natal, época de novamente receber com alegria esses “momentos de manjedoura”. Não sei que aspectos das qualidades do Cristo esses momentos de manjedoura lhe mostrarão, mas disto tenho certeza: estarão ali para que você os veja e cresça espiritualmente com eles. Eles serão especiais, tornando o Natal, Cristo Jesus e o Cristo que ele manifestou, isto é, o Messias, ainda mais queridos e importantes.
