O autor da epístola aos Hebreus na Bíblia escreveu a respeito da grande fé que Abraão e outros profetas da antiguidade tiveram, os quais “confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria...uma pátria superior, isto é, celestial” (Hebreus 11:13,14, 16). O pequeno grupo de devotados cristãos, passageiros do Mayflower que partiram da Inglaterra para o oeste em setembro de 1620, encontraram muito conforto e encorajamento nessas palavras ao iniciarem sua jornada. Eles eram membros de uma seita que procurava adorar a Deus da maneira simples dos primeiros cristãos, por meio da oração e da fé, e não de rituais elaborados. Viajando para um lugar desconhecido, com pouco preparo para os desafios que os aguardavam, eles levavam consigo vários suprimentos, e nenhum era mais importante do que a fé que possuíam.
“Mas eles sabiam que eram peregrinos”, escreveu um dos seus líderes (William Bradford, Of Plymouth Plantation, p. 50). Eles acreditavam que estavam seguindo os passos dos primeiros cristãos e até mesmo dos patriarcas bíblicos em busca de “uma pátria...celestial”. E tal qual Abraão, adentraram o desconhecido, confiando inteiramente na fé que tinham em Deus para conduzi-los.
Hoje, podemos ser encorajados pelo exemplo desses Peregrinos e a devoção a Deus que demonstraram, mesmo em meio a severos desafios. A história deles serve para fazer lembrar aos peregrinos espirituais da atualidade no mundo inteiro para manterem a fé pura e simples, com raízes nas Escrituras, e seguirem essa fé até à percepção do reino de Deus. Mary Baker Eddy, a Fundadora da Ciência Cristã, homenageou a memória dos Peregrinos, conforme vemos em um sermão escrito para a dedicação do edifício original dA Igreja Mãe em Boston: “Nas praias da solidão, na Rocha de Plymouth, eles plantaram o coração de uma nação — os direitos da consciência e a glória imperecível. Nenhum sonho de avareza ou de ambição lhes interrompeu o elevado propósito, pois o que desejavam era reinar na realidade da esperança — o Reino do Amor” (Pulpit and Press [Púlpito e Imprensa], p. 10).
Esse “reino do Amor” é o verdadeiro lar pelo qual a humanidade instintivamente anseia. Mas esse lar pode parecer tristemente inatingível, embora Jesus tenha declarado que está ao nosso alcance. “...O reino de Deus está dentro de vós”, disse ele (Lucas 17:20, 21). Durante séculos o significado prático dessa declaração não foi entendido, mas na nossa época a Ciência Cristã introduziu o conceito científico do reino de Deus, demonstrando-o como uma realidade espiritual que está presente, em vez de ser um lugar ou um evento distante.
No Cristianismo dos primeiros tempos, narrado nos Evangelhos, Cristo Jesus ensinou e mostrou o caminho para chegar a essa pátria que amamos, que incluía a prática da cura espiritual, a qual a Ciência do Cristianismo reintroduziu. Jesus disse que o reino dos céus não se encontra em algum lugar do lado de fora, não se trata de pensar: “Ei-lo aqui! Ou: Lá está!” Encontramo-lo no nosso pensamento, aguardando que entremos. O alívio para os problemas e dores da mortalidade está, portanto, ao nosso alcance. É significativo o fato de que não temos de morrer para ir para o céu. Não temos de ir a lugar nenhum para vivenciar a presença e o poder do Amor divino, que produzem cura, e tomar parte na vinda do reino de Deus na terra.
Não é um evento único que nos coloca no reino dos céus; em vez disso, é um processo de renovação espiritual pelo qual passamos; é uma jornada da fé até à descoberta que nos transforma tão completamente, que renascemos. A jornada “começa com momentos,” disse Mary Baker Eddy, e “continua com os anos; momentos de entrega a Deus, de confiança como a dos pequeninos e de jubilosa aceitação do bem; momentos de renúncia ao ego, consagração de si mesmo, esperança celestial e amor espiritual” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos]1883–1896, p. 15). Esse é o caminho para libertar-nos de tudo o que nos oprime na vida humana. Desse modo encontramos dentro de nós o reino de Deus e Seu poder redentor. Incontáveis vidas que foram radicalmente salvas da doença, do pecado e até mesmo da morte, da pobreza e da falta de esperança, de perdas esmagadoras e todos os tipos de circunstâncias desesperadoras, dão testemunho de que isso é verdade, conforme este periódico tem registrado há muitos anos.
A Ciência Cristã nos permite dissipar no pensamento os obstáculos que nos impedem de reconhecer o reino da harmonia de Deus como nossa realidade atual. E isso porque continuamente desafia os erros aos quais nos apegamos, tais quais o medo e o pecado, levando-nos a substituí-los pelas verdades da Ciência divina. Por meio da oração que inclui escutar com humildade a voz de Deus, aprendemos continuamente a verdade a respeito de Deus e de nossa própria natureza espiritual feita à imagem e semelhança dEle, sem medo, íntegra, pura e perfeita. Isso é o que possibilita o crescimento da verdadeira fé, pois tem o efeito de destruir a visão oposta do homem como sendo separado de Deus, criado e dominado pela carne.
É preciso muita coragem para se render a Deus e seguir para aonde a fé na Verdade conduz. Temos de renunciar ao medo e às falsas dependências, enquanto de bom grado deixamos para trás o “mundo antigo” da matéria, fixamos nossas visões no “novo mundo” da existência espiritual, o reino dos céus, e de todo o coração nos apoiamos em Deus. Isso demanda uma fé viva que pode crescer rumo ao entendimento espiritual que é prático. E que não é uma fé cega ou irracional, que ficou como que congelada no lugar e às vezes com medo dos desafios com que a fé se depara. A fé necessária para encontrar o reino dos céus e requisitá-lo como nosso não deve ser em si própria um objetivo. Ela se fortalece e se torna compreensão, na medida em que buscamos a Verdade acima de tudo. Nada é estático em se falando da fé que tem como objetivo compreender a realidade de Deus.
Sempre encontramos grande apoio ao manter esse pensamento. Como escreve Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “A descobridora da Ciência Cristã acha menos difícil o caminho, quando tem a meta elevada sempre presente em seus pensamentos, do que quando conta os passos no esforço de alcançá-la. Quando o objetivo é desejável, a expectativa acelera nosso progresso. A luta pela Verdade nos fortalece em vez de nos enfraquecer, nos repousa em vez de nos cansar” (p. 426).
Essa maneira de pensar é especialmente importante quando temos dificuldades ou nos sentimos a ponto de perder a fé. Não é raro encontrar adversidade e resistência da mente carnal, quando nos esforçamos por deixar de lado tudo o que nos limita e buscamos obter domínio sobre a mortalidade. Mas Jesus, que percorreu antes de nós o caminho da salvação, disse aos discípulos: “...No mundo, passais por aflições: mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33). A esperança que isso nos traz é maior hoje porque temos uma Ciência que nos foi explicada, que podemos aprender e pôr em prática, e que nos mostra como salvar-nos do erro (e vencer o mundo!)
Em tempos difíceis necessitamos mais do que nunca da nossa fé para nos levar a ultrapassar as barreiras do medo, da ignorância e egocentrismo que limitam nosso entendimento da Vida divina. Ao mesmo tempo, o progresso depende não apenas de nossa fé, mas também de nossa fidelidade, de nossos constantes esforços em seguir de perto os ensinamentos da Ciência Cristã. Os estudantes de matemática, aplicando fielmente as lições dadas nos livros-textos, adquirem confiança ao resolverem problemas, e os estudantes da Ciência Cristã são fortalecidos da mesma maneira. Ao aplicarem as lições que essa Ciência ensina, o seu entendimento do assunto aumenta.
São necessários dedicados esforços para conseguir fazer isso continuamente, deixando de lado inclinações pessoais e ambições. É necessário orar e estudar, e ter um desejo humilde de continuar a aprender mais a respeito desse “inesgotável tema — a Ciência Cristã” (Mary Baker Eddy, Retrospecção e Introspecção, p. 84). Necessitamos buscar honestamente o significado inspirado de tudo o que lemos. E ao tomarmos as palavras da Verdade contidas nas páginas dos nossos livros e as juntarmos às nossas orações, podemos descobrir novas profundidades de significado, mesmo quanto a termos e passagens conhecidas, e absorver mais do espírito que revelam.
Nesta época do ano, é natural nos lembrarmos do que os Peregrinos reconheceram, ou seja, de que ser agradecidos é um modo importante de manter nossos olhos em foco na brilhante promessa de liberdade espiritual. A gratidão é uma expressão de amor, apropriada para qualquer ocasião, não apenas para o Dia de Ação de Graças. Ela eleva o pensamento à constatação de que somos um com o Amor divino, a fonte de todo o bem. E pode ser um meio para alcançar a graça, pondo abaixo o desencorajamento e nos mantendo cheios de alegria e receptivos ao bem quando, de outro modo, nosso coração ficaria desanimado. Agradecer pode ser também um corajoso ato de fé que desafia a escuridão e a resistência da mente mortal, abrindo assim uma janela para que a luz da Verdade nos alcance e eleve, exatamente onde o erro insiste em que estamos em um beco sem saída.
Mas o agradecer é simplesmente um ato fiel que reconhece corretamente o Doador de todo o bem. Então damos graças a Deus pela vida, pela cura, pela alegria, pelo Seu amor incessante e todas as bênçãos, grandes e pequenas, concedidas não somente para nós, mas para todos, a todo momento. Erguendo nossos pensamentos em agradecimento e cantando louvores a Deus, logo descobrimos que estamos nos unindo a um cântico que já está soando, porque toda a criação foi feita para glorificar a Deus. Como lemos em Isaías: “Saireis com alegria, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas” (55:12). Nossa fiel obediência a Deus e nossa vida consagrada são recompensadas, ao mesmo tempo em que as harmonias da Alma substituem o discordante senso da vida mortal. Do mesmo modo que os muitos peregrinos em Cristo que nos precederam, nós também podemos confiar em que Deus nos conduzirá para a “pátria superior” que é o reino dos céus. E “os dias de nossa peregrinação se multiplicarão em vez de diminuir, quando o reino de Deus vier à terra; pois o verdadeiro caminho conduz à Vida, em vez de à morte, e a experiência terrena põe em evidência a natureza finita do erro e as capacidades infinitas da Verdade, na qual Deus dá ao homem domínio sobre toda a terra” (Ciência e Saúde, p. 202).
