Fazia pouco tempo que havíamos nos mudado para outra cidade e fomos morar em um condomínio, onde havia outros jovens pais, com filhos pequenos e bebês. Acabamos ficando todos amigos. Certa manhã, tomando um café, minha vizinha comentou sobre o fato de que éramos a única família que ia à igreja aos domingos. Ela sempre nos via saindo, enquanto passeava com o cachorro. “Para nós”, explicou ela, “os domingos são para relaxar e nos divertir.’
Participávamos de muitas coisas com nossos vizinhos, mas, certo domingo, quando não os acompanhamos em uma excursão de dia inteiro, em que desceriam o rio de boia, minha vizinha me perguntou: “Por que é tão importante para vocês passarem uma hora em um banco de igreja, todos os domingos?”
Nunca esquecerei da minha resposta sincera: “É a única hora na semana em que não preciso cuidar dos meus pequenos (um bebê de colo e uma criança que já estava engatinhando), e posso ficar sentada tranquilamente com os meus pensamentos e ser alimentada pela inspiração”.
Hoje a igreja tem para mim um significado muito maior, mas, ainda assim, aquela hora era especial, repleta de tranquilidade, paz e aprendizado. Minha casa era o lugar em que eu alimentava minha família. A igreja era onde eu era alimentada. Assistir ao culto (ser alimentada) era tudo o que eu desejava naquela época. Filiar-me à igreja era algo no qual eu nunca pensara.
Refletindo sobre isso hoje, vejo que era como se eu me deliciasse em um banquete semanal que outros haviam preparado, sem que eu lhes oferecesse nenhuma ajuda. Mas esse pensamento não me ocorria na época, embora os membros da igreja que nós frequentávamos fossem sempre hospitaleiros e amorosos conosco.
Eu estava grávida de nove meses quando nos mudamos para essa cidade e havia assistido a apenas um culto dominical (pois nossa filha nasceu no dia seguinte). Mesmo assim, três membros da igreja foram me visitar. A amizade e o companheirismo com eles continuaram, assim como eu continuei frequentando a igreja e recebendo inspiração, sem oferecer nenhuma ajuda, durante três anos.
Afinal, eu me filiei à igreja, em algum momento? Sim, tornei-me membro. O que foi que me fez despertar? Comecei a dar-me conta de que o aspecto da igreja que consiste em dar é tão importante e recompensador quanto o de receber.
Uma das parábolas de Jesus, relatada no Evangelho de Lucas, diz: “Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la” (13:6–9). Essa parábola estava na Lição-Sermão no Livrete Trimestral da Ciência Cristã em determinada semana. Embora eu a tivesse lido durante toda a semana, foi somente quando ouvi essa parábola durante o culto de domingo que meu coração se abriu para vislumbrar a alegria e a realização que resultam de sermos membros da igreja.
À primeira vista, a parábola não parece muito inspiradora, não é? Mas os “três anos” me fizeram refletir. Sobre a figueira? Não, sobre mim mesma.
Quando cheguei em casa, pesquisei em outras Bíblias e comentários bíblicos o trecho “ocupar inutilmente a terra”. Foram usadas expressões como “ocupa espaço”, “esgota o solo e bloqueia o sol” . Eu ri, já que era exatamente o que eu estava fazendo. (Meu avô teria dito: “Sendo totalmente inútil”.)
Ah, mas que viticultor maravilhoso! O que ele disse realmente mexeu comigo e iluminou meu pensamento. Ele não viu aquela figueira como infrutífera, de modo algum. Ele viu apenas o seu potencial. E ele prometeu cuidar dela, cultivá-la e alimentá-la.
Para mim, aquele viticultor era o Cristo — a ação invencível e irresistível do Amor divino. A essa altura eu consegui perceber que o Cristo estivera cultivando em mim, durante esses três anos, não apenas uma compreensão crescente de Deus, mas também um desejo cada vez maior de dar. Portanto, todo aquele “frequentar a igreja, sem ajudar” não havia sido em vão. As verdades que eu estivera ouvindo estavam se aprofundando e criando raízes. Essa Ciência do Cristo estava se tornando cada vez mais importante para mim, e era o que me estava inspirando a querer dar, em vez de apenas receber.
Portanto, não foi um sentimento de culpa por não ter oferecido ajuda o que me levou a encaminhar meu pedido de filiação. O que me fez querer ser parte da missão da igreja foi o amor por tudo aquilo que eu estava recebendo. E desapareceu toda a sensação de que, se eu me pusesse a servir à igreja, não atenderia às necessidades da minha família. As palavras comprometimento, dedicaçãoe servirjá não assustavam, elas eram naturais.
Foi quando a definição de Igreja no livro de Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, começou a fazer sentido para mim. “Igreja. A estrutura da Verdade e do Amor; tudo o que assenta no Princípio divino e dele procede.
“A Igreja é aquela instituição que dá provas de sua utilidade e eleva o gênero humano, despertando a compreensão que está adormecida nas crenças materiais, levando-a ao reconhecimento das ideias espirituais e à demonstração da Ciência divina, expulsando dessa forma os demônios, ou seja, o erro, e curando os doentes” (p. 583).
Refleti sobre essa definição durante toda a semana, e percebi que ela estava me elevando, despertando minha compreensão até então adormecida, para que eu não mais ficasse simplesmente "frequentando, sem participar". Não hesitei em tomar uma atitude, e filiar-me à igreja.
Uma amiga, que também frequentava os cultos, viu-me entregar o pedido de filiação, e perguntou-me se eu estava segura de que conseguiria ser Cientista Cristã. “Com a ajuda de Deus, sei que consigo”, respondi. Os membros da igreja (alguns dos quais já haviam me convidado, mas nunca me pressionaram) devem ter sido gratos pelo potencial de cada visitante, assim como o viticultor via o potencial da figueira em dar frutos. E eles confiaram em que Deus mostraria esse potencial também a nós, por meio do Seu Cristo, sempre atuante.
É claro que não precisamos frequentar a igreja durante três anos até estarmos prontos, dispostos e sermos capazes de ser membros e de colaborar. Mas aprendi que não importa quanto tempo levamos, o Cristo nunca deixa de nos instruir, inspirar e impulsionar, até ouvirmos e atendermos ao chamado do Amor. Não é esse o mesmo Cristo, a constante influência de Deus para o bem, que não desistiu dos filhos de Israel? Eles levaram quarenta anos para abandonar as hesitações, dúvidas e o medo, para então entrar na Terra Prometida. E ainda assim, o Cristo de Deus cuidou deles todo o tempo.
E na última parte da parábola, as palavras do viticultor: “Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la”, foram para mim a garantia, dada pelo Cristo, de que isso não aconteceria, pois o Cristo é irresistível.
