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Original para a Internet

A importância do Getsêmani

DO Arauto da Ciência Cristã. Publicado on-line – 30 de março de 2020


Segundo o relato das Escrituras, em um determinado jardim ocorreu a luta mais importante de todos os tempos, uma luta que iria apontar, a todo o gênero humano, o caminho de saída do sofrimento e da tragédia decorrentes da vontade da carne, caminho que levaria à liberdade espiritual e ao cumprimento da vontade de Deus. Deserção, traição, zombaria, a aparência de que uma missão seria frustrada, tudo isso foi enfrentado e superado, antes mesmo que esses males se concretizassem. Tão grande e terrível foi o peso do mundo, nessa luta, que três esforços cada vez mais penosos tiveram de ser feitos, por parte de Jesus, antes que a supremacia espiritual fosse plenamente alcançada. Foi então que o ego humano se rendeu, ali no jardim do Getsêmani, e a majestade espiritual, o poder e o domínio foram demonstrados pelo homem mais manso, e ao mesmo tempo mais poderoso, que já viveu, a saber, Cristo Jesus.

O Mestre provou que o caminho da glória divina não era o da glorificação pessoal, mas o da total renúncia ao ego. As Escrituras narram que Jesus prostrou-se e orou com devoção por três vezes: primeiro, para que, se fosse possível, o Pai passasse dele aquele cálice, contudo, que fosse feita a vontade de Deus; depois, novamente, orou para que, se não fosse possível evitar o cálice, ainda assim fosse feita a vontade de Deus; finalmente, reiterando essa submissão à vontade do Pai, ele chegou ao sublime pináculo da renúncia ao ego e saiu do Getsêmani totalmente preparado para demonstrar a capacidade da natureza divina de vencer o mundo. Em A Unidade do Bem, Mary Baker Eddy escreve: “O sublime triunfo do Mestre sobre toda a mentalidade mortal foi o propósito da imortalidade. Ele era tão sábio que não pretendeu esquivar-se de toda a extensão da dor humana, sendo ‘ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado’ ” (p. 58).

Munido do poder do Espírito, poder esse adquirido por meio da total renúncia ao ego, o Mestre foi diretamente para onde o traiçoeiro Judas e os soldados o procuravam com lanternas, tochas e armas, e lhes revelou quem era, dizendo simplesmente: “Sou eu”. Tão poderoso foi o impacto espiritual da Verdade sobre o erro que, quando Jesus enfrentou assim os inimigos que procuravam prendê-lo, eles “recuaram e caíram por terra”, nos diz o Evangelho de João (18:6). Todos os elementos da natureza humana, que a mente humana por si só não consegue vencer, ou seja, a vontade do ego, a inveja e a traição, que mentem, trapaceiam e matam, foram arremessados para trás e caíram por terra. O magnetismo animal não havia encontrado nada em Jesus com que pudesse se relacionar, nada ao qual pudesse se apegar. Mas, se Jesus não tivesse antes, no Getsêmani, entregado tudo o que poderia ser crucificado ou morto, você acha que esse grande demonstrador do Amor teria saído vitorioso da cruz, ou poderia ter ressuscitado? Não!

Para aqueles cuja visão espiritual é limitada, esse método de lidar com o magnetismo animal, ou seja, a renúncia ao ego, talvez pareça algo negativo, como uma rendição ao erro. Atacado, vítima de zombaria e com uma coroa de espinhos sobre a cabeça, Cristo Jesus não abriu a boca para se defender. No entanto, essa atitude de Jesus não foi uma submissão cega ao erro, ao contrário, foi uma atitude divinamente radical, positiva, radiante de natureza divina e magnificente em sua serenidade, poder e sabedoria. Não admira que Jesus pudesse curar imediatamente a orelha do soldado, decepada pelo ressentimento e a impetuosidade de Pedro. Evidentemente, a maneira como Jesus lidou com o erro, pela submissão à natureza divina do Cristo, provou ser suprema. Se Jesus não tivesse se rendido à vontade de Deus, o que teria acontecido? Não teria surgido o Cristianismo como existe hoje, nenhum caminho teria sido aberto para libertar da escuridão da mortalidade e levar para a glória da ressurreição.

Getsêmani é definido assim, no Glossário de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy: “Paciência no sofrimento; o humano cedendo ao que é divino; amor que não vê retorno, mas ainda assim permanece amor” (p. 586). Portanto, Getsêmani é um reino em que a consciência renuncia ao ego e onde as profundezas do sofrimento humano são sondadas e os elementos básicos da natureza humana são descartados, a fim de abrir caminho para o que é divino.

É esse desprendimento e essa entrega do senso material o que demonstra o caminho de saída, do humano para o divino. No entanto, por ser uma característica instintiva da natureza humana a de preservar a si mesma, renunciar ao ego gera angústia. O Getsêmani, portanto, é o jardim onde, por meio de lutas sagradas, nasce o nosso senso espiritual do existir; onde a doce fragrância do perdão não permite que os males terrenos deixem amargura no coração; onde a teoria e a letra são traduzidas na compreensão e reflexão a respeito da realidade espiritual. As bênçãos obtidas no Getsêmani não são as honras humanas e o sucesso, mas sim as qualidades tranquilizadoras que pertencem à natureza divina.

No entanto, quanto nos esforçamos para evitar esse jardim da renúncia e transcendência espiritual! Como nos apegamos ao humano, em vez de nos rendermos ao que é divino! Como nos esforçamos para viver nossa própria vida, sem pensar nem sequer um pouco em entregá-la à vontade divina! A natureza humana enfrenta a injustiça, o abuso e a inimizade com reações intensas de indignação e de justificação do ego. Advogando em causa própria, o bem pessoal se rebela contra as exigências da natureza divina, clamando, diante de alguma experiência difícil: “Passe de mim esse cálice; por que tenho de sofrer? Eu não fiz nada de errado. Por que não defender nossos próprios direitos e cortar a orelha do soldado, como fez Pedro?” Não admira que seja necessário subir três degraus, antes de se atingir o cume da renúncia ao ego! Na página 107 de Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, de Mary Baker Eddy, lemos: “Os falsos sentidos dos mortais passam por três estados e estágios da consciência humana antes de abrirem mão do erro”. 

Gradualmente, por meio de lutas gigantescas no Getsêmani, os elementos da natureza humana começam a dissolver-se: a obstinação diminui, os anseios humanos são progressivamente abandonados, e as reações pessoais ao erro diminuem. Então, chegamos ao segundo estágio, no qual a misericórdia, a tolerância e a humildade são assimiladas. Lágrimas de autocomiseração dão lugar à alegria batismal, e a vontade de Deus é compreendida e demonstrada de forma mais inteligente. Nessa altura, temos uma nova perspectiva. Podemos passar por ofensas, humilhações e injúrias sem ficar magoados. A tensão e o estresse das obrigações diárias perdem o poder de nos irritar. Finalmente, nos elevamos ao terceiro estágio no qual, de bom grado, depositamos tudo sobre o altar. A natureza inferior do mortal se rende à natureza mais elevada do homem. A consciência se torna transparente, e eis que vivenciamos um santo influxo de terno amor, sem palavras, mas sanador! O mecanismo do pensamento material cede à visão espiritual, à reflexão e à compreensão. Referindo-se à iluminação da compreensão espiritual, a Sra. Eddy escreve, em Ciência e Saúde: “Esse senso da Alma vem à mente humana quando esta cede à Mente divina” (p. 85).

Não admira que a renúncia ao ego seja um fator poderoso e dinâmico na demonstração do poder divino. Por meio dela, o pensamento se ajusta naturalmente às obras do Espírito e aos elementos sanadores da natureza divina, tanto que se desdobram resultados maravilhosos. De fato, o teste da demonstração converge exatamente para este ponto, isto é, se a materialidade cedeu parcial ou completamente à espiritualidade. Quando não podemos fazer nada por nós mesmos e somos forçados a deixar de confiar na mente humana ou nos meios materiais, voltando-nos em desespero para Deus, a situação está preparada para a demonstração. Se houver uma rendição ao fato de que a vontade de Deus é a saúde e a harmonia, quando a aflição física parece assustar, as possibilidades de cura instantânea são demonstradas. Embora poucos de nós consigam se manter no alto cume da renúncia ao ego em todos os momentos, é nesse cume que nos elevamos à autoridade e domínio espirituais.

Na frente de batalha, o brilho flamejante da renúncia ao ego resplandece magnificamente. Separados da família e enfrentando o supremo sacrifício, homens e mulheres das forças armadas, em seu heroísmo e abnegação, muitas vezes se elevam acima do medo quanto à segurança pessoal e, sentindo a presença de Deus, são maravilhosamente protegidos e salvos. Os que ficaram em casa, se entrarem no Getsêmani, não entregarão os seus entes queridos ao perigo, mas sim, à Vida divina, e assim os colocarão na segurança do Cristo. Em realidade, a verdadeira preservação é demonstrada por meio da renúncia ao ego. Tal renúncia é um antídoto muito poderoso para todas as fases da prática mental errônea. De fato, a rendição total a Deus significa a vitória total sobre o mal, a renúncia a tudo o que, em nós mesmos, é suscetível ao erro. Como um salgueiro se curva graciosamente frente à tempestade, para depois se levantar intacto, quando a tempestade passa, assim também nós nos curvamos diante das tempestades mentais do erro e, graças à proteção divina, levantamo-nos ilesos.

Se você tiver sido caluniado, abandonado e traído; se tiver sido enganado pela doçura melosa de uma falsa amizade, como Judas com seu beijo traiu Jesus; caso o erro tenha tecido um conjunto de circunstâncias trágicas que parecem intransponíveis, então vá imediatamente para o jardim do Getsêmani e renuncie a toda sua crença no mal. Quando as experiências humanas adversas tiverem drenado a última gota da tristeza causada pelas decepções, quando o desespero estiver no ápice, então, sem olhar para trás, você poderá trocar as vãs decepções dos conceitos materiais pelas grandiosas realidades do existir divino, e encontrar um doce final e uma rica compensação para cada infortúnio terreno, por meio da rendição ao espírito triunfante do Cristo.

Eis, portanto, a grandeza e a maravilha da renúncia ao ego, tal como se realiza no jardim do Getsêmani! A Ciência divina, o santo Confortador, revelando que, em realidade, não precisamos abrir mão de nada que seja realmente valioso, torna-se terna e poderosamente muito real para nós. Ao renunciar a tudo aquilo que está sujeito a sofrer, nós nos elevamos acima do sofrimento carnal. Para além da autopreservação e da “sobrevivência dos mais aptos”, para além da ancestralidade e da história humanas, para além até mesmo do bem humano, encontram-se os fatos eternos do existir divino, a grandiosidade do verdadeiro status do homem e a liberdade superna. Ali, a alegria e a luz interior tornam-se inextinguíveis, e experimentamos a imortalidade e a santidade. O senso da Alma ganha o primeiro lugar em nossa vida, e nós entramos na calma e domínio espirituais.

À medida que entregamos nossa vida à Ciência do existir, em santa submissão à lei de Deus, aparecem os propósitos e as realizações do destino divino. Assim, em vez de deixarmos que os métodos mesquinhos, o temperamento e as aptidões do senso pessoal dominem nossa vida, por que não entrar no Getsêmani e lutar ali contra tudo isso, até que a majestade e a força da individualidade divina sejam demonstradas em nossa vida? Por que não vivenciar o glorioso júbilo de renunciar à crença de haver vida e inteligência na matéria, em favor da verdade a respeito do existir? E se isso significasse, como no caso do Mestre, angústia, suor e sangue? A morte não é a porta de entrada para a imortalidade, portanto, a única saída é renunciar à crença na mortalidade e, assim, ganhar a consciência da imortalidade, que já é uma realidade.

Hoje, o mundo inteiro está às portas de um Getsêmani universal. Por meio de suas lutas gigantescas, a consciência humana está sendo preparada para renunciar às velhas crenças, em favor de ideias mais iluminadas a respeito da Verdade. Preconceitos raciais, traição, deslealdade, tortura, estão sendo denunciados como inimigos de todo o gênero humano. Tudo isso está sendo forçado a render-se incondicionalmente às qualidades cristãs da fraternidade dos homens. Sim, os infortúnios e a agonia desta hora estão forçando a humanidade a abandonar os enganos da mortalidade e a despertar o pensamento universal para uma maior disposição para lutar por um mundo cristão unido, que não faz acordos com o erro, e no qual lideranças implacáveis se submetem à liderança da retidão divina.

A mesma Mente que deu a Cristo Jesus poder para conquistar a vitória espiritual, está presente hoje, fortalecendo o espírito universal da humanidade para chegar ao triunfo da glória do milênio espiritual. Em A Unidade do Bem, lemos: “Os espasmos mortais da angústia apressam o nascimento da existência imortal; no entanto, a Ciência divina enxuga toda lágrima” (p. 57).

Do jardim do Éden, passando pelo do Getsêmani, até a Ciência do existir, a humanidade passará da escuridão da mortalidade para a glória da realidade divina.

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