Por ser negro e viver em Oslo, na Noruega, Christian Kongolo com frequência precisa lidar com o fato de ser considerado “diferente”. Mas ele admitiu que apenas recentemente é que começou a perceber a importância de tratar de assuntos como o racismo de uma forma que trouxesse uma mudança mais ampla e permanente. Christian conversou com Jenny Sawyer, do Christian Science Sentinel, sobre como é pensar, orar e conversar sobre racismo, com as pessoas com quem ele convive.
Christian, conte-nos qual era sua posição sobre algumas dessas questões raciais até há uns seis meses.
Vou dar um exemplo: eu ouvia falar sobre o desejo de ver mais negros na área da indústria cinematográfica. Francamente, eu não via nenhuma necessidade disso. Por ter sido criado na Ciência Cristã, nunca prestei atenção a coisas como aparência ou cor de pele, porque aprendi na Escola Dominical que nossa identidade espiritual vai além das características físicas, pois essa individualidade é como Deus, o bem, a criou. Isso não significa que a diversidade não importa, porque importa, sim. Simplesmente eu não pensava muito a esse respeito.
Mas recentemente, como tem havido muita discussão sobre formas sutis de racismo, e como elas levam à falta de representatividade e até mesmo à exclusão, compreendi mais profundamente que não podemos ignorar a maneira pela qual certas pessoas são marginalizadas e estereotipadas, e o pior de tudo, por causa da cor da pele.
Você já vivenciou algo assim?
Quando eu estava procurando emprego, conversei com vários grupos, nas empresas às quais me candidatava, e logo percebi que todos eram brancos. Mesmo no meu emprego atual, sou um dos poucos funcionários negros. E é tão raro ver pessoas negras trabalhando no mercado financeiro aqui em Oslo, que um homem branco expressou de forma explícita sua surpresa quando descobriu que eu trabalhava nessa área.
Também percebi que existem alguns estereótipos sobre os negros, que precisei confrontar, como o de que os negros não são competentes, ou de que não são a melhor escolha para trabalhar na minha área.
Isso definitivamente trouxe à tona a importância da representatividade, porque percebo que uma maior diversidade ajuda a desconstruir estereótipos. Não somos apenas faxineiros, músicos ou atletas.
Agora que você viu a necessidade de lidar com essa questão de maneira mais direta, como está orando sobre esse tema?
Gosto muito de refletir sobre um artigo escrito pela Descobridora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, com o título de “The Way” [O Caminho], no qual ela explica por que o autoconhecimento, a humildade e o amor são essenciais para a cura eficaz (ver Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, pp. 355–359). Acho que a combinação dessas três qualidades é muito importante, porque conheço muita gente que quer ir direto ao tema do amor. Mas esse amor, ou aquilo que é apenas a aparência de amor, pode acabar passando por cima de tudo o que está errado, sem realmente lidar com o problema.
O que penso é o seguinte: se você tem uma garrafa cheia de água suja, você precisa primeiro esvaziá-la, para depois enchê-la com água limpa. E o autoconhecimento e a humildade fazem parte desse “esvaziar a garrafa”. Primeiro precisamos ver que a água não está limpa. Depois, temos de reconhecer, com humildade, que já não estamos dispostos a tolerar essa água suja. Queremos jogá-la fora — toda ela. Então, depois de termos feito isso, podemos encher a garrafa até o gargalo com água limpa, com amor.
Não lidamos com o racismo apenas jogando amor nas pessoas, porque isso não nos permite considerar seriamente nossos próprios pensamentos e nosso coração, e perceber que talvez precisemos mudar. Que talvez tenhamos preconceitos, ou nos sintamos privilegiados, ou vejamos situações em que nossas ações foram erradas.
Onde ficam aqueles lugares sutis em que pensamentos ímpios sobre nossos irmãos e irmãs podem estar à espreita? Podemos, com humildade, reconhecer que todos temos espaço para crescer? Estamos dispostos a deixar a luz da Verdade divina entrar e pôr a descoberto pensamentos sombrios que parecem ser nossos, mas que não nos pertencem porque não são de Deus? Esse tipo de oração permite-nos amar melhor, porque estaremos fazendo o que Jesus nos pediu em um de seus ensinamentos: tirar a trave do nosso próprio olho — lidar com nossos próprios pontos cegos. Então, não somos estorvados por pensamentos limitados ou desagradáveis que poderiam nos impedir de irradiar o amor puro e sanador de Deus.
Como foi que essa oração mudou sua maneira de falar sobre o racismo?
Aqui na Noruega, quando surge a palavra racismo, ouço as pessoas dizerem coisas como: “Qual o motivo de falarmos sobre isso, pois só vai nos separar?” Não estou dizendo que precisamos falar sobre racismo o tempo todo; nossa oração de autoconhecimento, humildade e amor é que deve ser realmente contínua. Mas quando ouvimos coisas como essas hoje em dia, reconheço que esse tipo de pensamento é o que a Bíblia chama de “…Paz, paz; quando não há paz” (Jeremias 6:14).
Não podemos fingir que estamos todos vivendo com igualdade e que somos todos unidos, quando sabemos que não é verdade. Quando limpamos a casa, não varremos a sujeira para debaixo do tapete, porque assim as coisas continuam sujas — mesmo que não se veja a sujeira.
Acho que a cura do racismo em nosso mundo começa quando temos essas conversas difíceis com nós mesmos e com os outros. Mas é importante não esquecer que essas conversas não podem ser acusatórias. É isso o que amo na Ciência Cristã, pois nos ensina a pôr a descoberto as coisas que não estão certas, sem vinculá-las a nós mesmos ou aos outros. Precisamos realmente assumir a responsabilidade pelos pensamentos que aceitamos. Mas, se esses pensamentos não vêm de Deus, eles não fazem parte de nós e podemos nos libertar deles. Todos podem se libertar desses pensamentos. Então, começaremos a encontrar a igualdade e a unidade que são reais e permanentes.
