No livro de Salmos, lemos: “...Pode, acaso, Deus preparar-nos mesa no deserto?” (Salmos 78:19). Relatarei abaixo como minha esposa e eu tivemos a oportunidade de ver essa pergunta respondida em nossa própria vida, de modo tangível.
O dia era 28 de agosto de 2011, e nossa cidade estava sendo evacuada por precaução, devido à iminente chegada do furacão Irene, um evento raro no norte do estado de Nova York, onde estávamos morando. Minha esposa estava fora naquela ocasião, e ao dirigir sozinho rumo ao norte, falei com os bombeiros posicionados em uma barricada à entrada de nossa cidade. Eles sombriamente me disseram que a previsão era de uma inundação, que chegaria à altura de dois ou três metros de água na área onde estava localizada a nossa casa.
Fiquei aturdido, e minha primeira preocupação foi com nossos dois gatos, pois eu os tinha deixado dentro de casa no térreo, com a porta de acesso ao segundo andar fechada. Meu segundo pensamento, porém, foi um versículo atribuído a Moisés: “Eis que eu envio um Anjo adiante de ti, para que te guarde pelo caminho e te leve ao lugar que tenho preparado” (Êxodo 22:20). Essa afirmação reconfortante, feita por Deus aos filhos de Israel durante suas penúrias no deserto, representou para mim, naquele momento, a certeza de que, por mais fundas que fossem as águas de nossa experiência terrena, o reino de Deus estava intacto. O Amor divino que reina sobre todas as coisas estava ativamente nos elevando acima de qualquer evidência de um poder destrutivo que se opusesse ao bem, que é Deus. Esse pensamento sublime foi um presente imediato do Espírito para mim, e foi o suficiente, pois me ajudou a vencer as crescentes incertezas. Dirigi para a casa de amigos meus, da igreja, para passar a noite com eles.
Havia trezentos anos que o Vale Schoharie não passava por uma enchente tão avassaladora. Nossa pequena cidade e as comunidades vizinhas estavam nos noticiários do país inteiro, e o Presidente declarou estado de calamidade pública em nossa área.
Fui um dos primeiros a voltar à cidade no dia seguinte. Havia escombros por toda parte. Nossa casa e nossos pertences haviam sido drasticamente danificados, mas os gatos haviam sobrevivido. Eles subiram pelas cortinas e passaram a noite bem no alto. A água e a lama, peixes e sapos haviam chegado até a altura que os bombeiros haviam predito, mas não até a altura em que estavam os gatos.
No dia seguinte, minha esposa e eu examinamos a casa juntos, e começamos a longa tarefa de esvaziá-la completamente, jogando fora todos os nossos pertences. Não choramos; em vez disso, cada pensamento nosso estava permeado de força e coragem. O que impossibilitou totalmente qualquer lamento e sensação de perda foi nossa compreensão desta importante verdade declarada no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, escrito por Mary Baker Eddy: “A substância é aquilo que é eterno e incapaz de manifestar desarmonia e sofrer deterioração” (p. 468).
Assim que fora informada da enchente, minha esposa contatara uma praticista para que orasse conosco. Essa pessoa querida lhe dissera: “Aguardemos que venha o bem, mesmo que de lugares inesperados”. E assim aconteceu! Nós e nossos vizinhos sentimos o amor a se derramar sobre nós, vindo do coração de indivíduos e grupos que ofereceram auxílio. Como reflexo natural da bondade de Deus, as pessoas estavam dando o melhor de si para ajudar a eliminar qualquer senso de sofrimento. Minha esposa comentou que era um privilégio ver incontáveis desconhecidos, jovens e idosos, expressando essa vívida bondade ao prestarem todo tipo de ajuda que fosse necessária nas casas, igrejas e empresas da cidade; o que nos fez lembrar de uma definição da palavra graça, conforme aparece na concordância bíblica em inglês, Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible: “A influência divina no coração, e seu reflexo na vida” (Dicionário grego).
Conhecemos centenas de homens e mulheres que, sob a pressão das circunstâncias, se mostraram motivados apenas pelo desejo ardente e permanente de amar o próximo como a si mesmos. O exemplo que deram trouxe à vida prática esse mandamento, de maneira nítida e preciosa, e senti em meu coração que nosso Pai celestial estava abençoando a cada um deles, da mesma forma que eles estavam sendo bênçãos para nós e para todos ao nosso redor. A gratidão e o afeto tornaram-se nossos companheiros diários, fortalecendo-nos, e aos outros, à medida que reconhecíamos a expressão tangível da presença infinita do bem e do amor de Deus, lentamente superando a devastação daquele evento meteorológico.
Anos antes, ao pedir um empréstimo para financiar a compra da casa, haviam-nos dito que não era obrigatório ter seguro contra inundação, portanto, não o compramos. O seguro que tínhamos, relativo aos pertences dentro da casa, não cobria o tipo de estragos que a casa sofrera. E quando fomos ao escritório da companhia seguradora do carro, para indagar sobre o carro que fora danificado, a dona da agência perguntou à minha esposa como estávamos, e em seguida disse que, por não termos seguro contra enchentes, não tínhamos o direito a nenhuma indenização. Os telefones da agência não paravam de tocar, e minha esposa ficou penalizada ao ver a proprietária dizer, a tantas pessoas necessitadas, que ela não podia ajudá-las. Os comentários que a dona da agência fazia incluíam afirmações como estas: “Você não vai ser restaurado pelo seguro”; “ninguém vai ser restaurado pelo seguro”; “o seguro não restaura o que você perdeu”.
Embora a proprietária estivesse se referindo à capacidade limitada das agências de seguro para restaurar todos os bens materiais dos clientes diante desses tipos de calamidades, minha esposa ponderou sobre a verdade espiritual fundamental destas palavras, conforme explicadas em Ciência e Saúde: “As chamadas leis da matéria e da ciência médica nunca fizeram com que os mortais fossem sadios, harmoniosos e imortais. O homem é harmonioso quando governado pela Alma” (p. 273).
Apesar de termos perdido quase todas as nossas possessões materiais, minha esposa reconheceu que nossa completude espiritual e nosso domínio estavam intactos e assim permaneceriam, pois sendo filhos de Deus, somos eternamente mantidos e sustentados pelo Espírito, não pela matéria. Nossa família e os membros de nossa comunidade eram já espiritualmente completos, sãos, e estavam a salvo, em segurança na permanência da criação espiritual e perfeita do Amor divino; e assim será para sempre. Minha esposa entendeu que era dessa forma que deveríamos orar a respeito da situação. Necessitávamos compreender que a devastação não era um fato estabelecido, mas sim um quadro material que devíamos rejeitar, em favor das verdades espirituais: que Deus, o bem, é o único poder, e o homem, feito à semelhança de Deus, é perfeitamente cuidado e suprido pelos recursos infinitos de Deus, que é a Alma de nossa existência.
Sem seguro contra enchentes, não tínhamos com que repor completamente o que perdêramos. Mas um dia, inesperadamente, recebemos uma ligação de uma pessoa cuja cliente estava querendo ajudar financeiramente a uma família que tivesse sido prejudicada pela inundação. Lembrei-me do que a praticista dissera, e fiquei pensando sobre o que poderia ser mais “inesperado” que esse oferecimento. Mas mesmo assim, ao observar nossos vizinhos, carregando para a rua todos os seus bens terrenais que haviam sido destruídos, me convenci de que existiam muitos outros que, mais do que nós, necessitavam dessa ajuda inesperada. Por confiarmos na capacidade infinita de Deus para nos sustentar, eu sabia que minha esposa e eu teríamos nossas necessidades atendidas, independentemente das circunstâncias. Assim, em vez de aceitar a oferta de ajuda financeira, dei à pessoa que nos telefonara o número de um comerciante local que conhecia outros negociantes da comunidade que também haviam sido afetados pelas enchentes, e não pensei mais no assunto. Após três dias, a mesma pessoa me telefonou de novo, dizendo que a restauração das empresas estava além do que a cliente podia fazer, mas que ela continuava querendo ajudar uma família, para que pudesse reconstruir sua casa. Ao receber a oferta de ajuda pela segunda vez, vimos que estava na hora de reconhecer que o oferecimento era parte do desdobramento do bem que estávamos nos esforçando para testemunhar para a nossa comunidade inteira, e, com imensa gratidão, o aceitamos.
Foi com essa ajuda generosa que pudemos reconstruir nossa casa, de modo que ficou tão confortável quanto antes da inundação. E nossos vizinhos também encontraram os recursos e oportunidades de que necessitavam ao longo de vários anos, cada um ajudando ao seu próximo conforme necessário; e vimos nossa comunidade recuperar todo o antigo charme e beleza. Tornamo-nos mais humildes de coração, e agradecemos a Deus todos os dias por essa profunda demonstração do Amor divino, atendendo à necessidade humana.
“Pode, acaso, Deus preparar-nos mesa no deserto?” Mary Baker Eddy responde a essa pergunta em seu livro Não e Sim, dizendo: “Deus nos preparará ‘mesa no deserto’ e mostrará o poder do Amor” (p. 9). Fazemos nossas as palavras dela.
