Quando eu era criança, era comum meus pais me perguntarem: “Você dormiu bem?” O que eles queriam saber era: “Você está se sentindo descansado?” Hoje em dia a coisa é mais complexa. Para muitas pessoas, a resposta pode depender da “duração do sono”, da “qualidade do sono”, das “fases do sono”, dos “fatores ambientais” e dos “fatores relativos ao estilo de vida”. E quem faz a pergunta geralmente é um aparelhinho inteligente.
E a questão principal: “Eu me sinto descansado?” acaba se perdendo nessa enxurrada de informações, como constatou uma amiga. Ela geralmente acordava sentindo-se ótima, até que o aplicativo que usava para monitorar o sono a desanimou, informando que ela não havia dormido bem. Por fim, percebeu que não precisava dessa segunda opinião. Jogou fora o monitor de sono e está se sentindo muito bem desde que tomou essa decisão.
Querer dormir bem é um desejo legítimo, que antecede a era digital e remonta aos tempos bíblicos e à promessa de que nosso “sono será suave” (Provérbios 3:24). Mas, como sugere o artigo principal desta edição, ter uma noite de sono repousante nada tem a ver com entender o sono, mas sim com entender que, por sermos a incomparável expressão de Deus, temos uma natureza espiritual que “já coexiste e sempre coexistirá, de maneira tranquila” com Deus, em todos os momentos (Lyle Young, “Dormir bem”). Estar descansado é o resultado natural de viver de acordo com essa natureza espiritual.
Isso não invalida uma “boa noite de sono”, mas aponta para um modo mais elevado de obtermos o descanso que buscamos — um recurso que está sempre ao nosso alcance. Podemos chamá-lo de descanso ativo. Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria de Mary Baker Eddy, que descobriu a Ciência Cristã, lemos esta descrição: “O descanso mais sublime e mais suave, até mesmo de um ponto de vista humano, está no trabalho sagrado” (pp. 519–520).
Constatei que esse descansar enquanto trabalhamos vai desde a oração silenciosa e sanadora até qualquer função ou tarefa que somos guiados a realizar, dando atenção às diretivas da lei do Amor, o Princípio divino, ou seja, às diretivas de Deus, e agindo de acordo com elas. Sentir-se descansado ao realizar tais atividades muda nossa maneira de pensar sobre o sono. Reduz o senso de nos sujeitarmos às regras materiais que acreditamos definirem nosso descanso — desde os critérios do monitor de sono até problemas com colchões, roupas de cama ou tamanho da cama. Em vez disso, fica cada vez mais claro para nós que existem regras espirituais que anulam as penalidades comumente associadas a não cumprirmos as leis de saúde relacionadas ao sono.
Aqui está uma dessas regras espirituais: “Seja qual for o teu dever, podes cumpri-lo sem te prejudicares” (Ciência e Saúde, p. 385). Jesus comprovou isso de uma maneira às vezes notável, outras vezes de modo bem simples, inclusive no que diz respeito ao sono. Depois de passar uma noite acordado, no sagrado trabalho de estar em comunhão com Deus, ele estava em pleno vigor, e não ficou cansado. Logo a seguir, escolheu e nomeou quais seriam seus apóstolos, curou “uma grande multidão do povo” e proferiu um sermão com orientações espirituais, um sermão cuja mensagem jamais se desgastou com o passar do tempo (ver Lucas 6:12–49).
Quando necessário, também conseguimos realizar, sem nos prejudicar, tarefas que limitam nossas horas de sono — seja por ter de concluir um projeto com prazo de entrega, cuidar de um recém-nascido ou de um doente, ou responder a um pedido urgente de oração de cura. Não se trata de obter forças graças à adrenalina motivada pela vontade humana, mas de permitir que a comunhão com Deus abra nossos pensamentos para a paz profunda que é sempre inata em nós como filhos de Deus.
Para isso, precisamos aceitar que refletimos a Mente divina, Deus, sempre ativa e ao mesmo tempo sempre em descanso, e recusar tudo o que dela difere e que pretenderia nos governar, inclusive as teorias materiais relacionadas à saúde. Na proporção em que tomamos consciência de que não dependemos das expectativas materiais, chegamos à conclusão de que essa liberdade revela uma força e uma energia inata, que não depende de repouso nem de recuperação. Isso não só nos dá energia, caso tenhamos dormido menos do que o normal, mas também diminui a atenção que damos ao sono, em um contexto geral. Talvez até diminua o que acreditamos ser a quantidade “normal” de horas que precisamos dormir (ver Ciência e Saúde, p. 128).
Se estivermos enfrentando noites em claro, há sempre algo mais que podemos aprender dessa situação. Um artigo escrito pela Sra. Eddy e republicado em Escritos Diversos 1883 –1896 diz: “A insônia obriga os mortais a aprender que nem o estado de inconsciência nem o sonhar podem recuperar a vitalidade do homem, cuja Vida é Deus, pois Deus não dormita nem dorme” (p. 209).
É possível termos uma noite boa, mesmo sem dormir, se conseguimos compreender e comprovar que somos expressões espirituais da Vida divina que “não dormita nem dorme”.
Não quer dizer que temos de aprender essa lição todas as noites, pelo resto da vida! Vários relatos de cura no capítulo “Frutos”, em Ciência e Saúde, assim como os testemunhos encontrados nos arquivos desta revista, atestam a restauração do sono normal.
Mas, sim, significa que o direito de nos sentirmos descansados não depende de dados materiais, não importa como tenham sido coletados.
Tony Lobl
Redator-Adjunto