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Original para a Internet

Digno da redenção?

DO Arauto da Ciência Cristã. Publicado on-line – 23 de setembro de 2024


A redenção se refere a vidas e relacionamentos redimidos da culpa. A redenção é restauradora. Não significa ignorar o mau comportamento mas, onde o remorso é genuíno, a misericórdia, ao invés da condenação, pode proporcionar um caminho a ser seguido, uma oportunidade para se corrigir, tomar melhores decisões e segui-las.

A Bíblia está repleta de histórias de redenção, que continuam relevantes para os dias de hoje e isso porque, embora as culturas mudem ao longo dos séculos, a natureza humana não muda tanto. Considere a improvável reconciliação dos irmãos gêmeos Jacó e Esaú. Jacó, o mais novo, usurpa o direito de primogenitura e a bênção que, por direito, pertenciam ao irmão que nascera antes. Esaú, furioso, jura matá-lo, e Jacó foge para salvar a vida.

Cerca de vinte anos depois, quando Deus lhe ordena voltar para casa, Jacó havia se tornado um homem próspero, com grandes rebanhos e manadas e uma família numerosa. Ele está agora angustiado com a possibilidade de Esaú ainda ter a intenção de matá-lo. A resposta às orações de Jacó, pedindo proteção, e sua luta mental sincera, abrem o caminho para reparar aquela brecha no relacionamento. Ele humildemente envia vários presentes generosos à sua frente — ofertas de paz para Esaú.

Quando os irmãos se reencontram, eles se abraçam e choram. Ninguém deixa de ser redimido. Esaú aceita os presentes de Jacó e ele mesmo é redimido dos anos de raiva acumulada; um relacionamento importante e significativo foi restaurado.

Muitas gerações depois, Jesus nos ensinou o evangelho da redenção, em seu ministério de cura. E praticou a redenção com seus discípulos, principalmente com Pedro, o discípulo franco e impetuoso que, apesar de suas boas intenções, negou a Jesus por três vezes, publicamente, quando este acabara de ser preso.

Após sua crucificação e ressurreição, Jesus três vezes pergunta a Pedro se ele o ama. O tom sanador dessa breve e comovente conversa, que brota do grande amor de Jesus, oferece a Pedro a oportunidade de reverter aquelas três negações. Jesus não culpa a Pedro nem pergunta se ele está arrependido; simplesmente lhe pergunta: “Tu me amas?” (João 21:17).

Cada vez que Pedro afirma seu amor, Jesus responde dando-lhe apenas uma única incumbência: alimentar — nutrir e guiar — seus seguidores. Dessa forma, Jesus redime o discípulo de toda culpa; e qualquer senso de culpa remanescente, que talvez desviasse o foco de Pedro, deixou de ter efeito. A nova missão de Pedro ocuparia o resto de sua vida terrena.

Na Bíblia, o exemplo de redenção das mulheres também é igualmente significativo, como o de Maria Madalena, “da qual [Jesus] expelira sete demônios” (ver Marcos 16:9), e outra mulher acusada de adultério (ver João 8:3–11).

A regeneração moral que acompanhava as curas físicas realizadas por Jesus, como a do homem “enfermo havia trinta e oito anos”, junto ao tanque Betesda (João 5:5), foi importante para Mary Baker Eddy, a sanadora cristã que fundou esta publicação no século XIX. Em seu livro Escritos Diversos 1883–1896, ela relata brevemente uma dessas curas em sua própria atividade, seguindo os ensinamentos de Jesus. Ela escreve: “Certa vez, fui chamada para visitar um homem enfermo, para o qual os médicos haviam dado três doses de óleo de cróton, e depois o haviam desenganado”. Ela curou esse homem em uma hora, “…e no dia seguinte [ele] retomou suas atividades” (p. 69).

Uma biografia recente lançou mais luz sobre essa cura, citando um artigo do jornal Boston Traveller, publicado em 1900:

“Embora fosse notável a cura física desse homem, ainda mais notável foi a transformação em seu pensamento e em sua vida. A esposa dele contou à Sra. [Glover], alguns dias depois, que nunca antes o vira [abraçar] os filhos, como faziam os outros pais, mas na noite de seu restabelecimento, ele chamou a si as crianças e, tomando-as nos braços, disse-lhes que as amava; com lágrimas rolando pelas faces, disse à esposa: ‘Vou ser um homem melhor’. Não é de estranhar que a esposa, feliz, dissesse à Sra. [Glover]: ‘Oh, como lhe agradeço por ajudar meu marido a recuperar a saúde, mas acima de tudo, sou grata pelo que a senhora fez por ele, moral e espiritualmente’ ” (Mary Baker Eddy: Uma Vida Dedicada à Cura, p. 65).

Na breve oração que Jesus ensinou aos discípulos, é feita a conexão entre perdão e redenção: “e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores…” (Mateus 6:12). Ser perdoado requer perdoar os outros também. Isso pode ser difícil, a menos que levemos em conta nossa profunda gratidão e alegria por ter uma ficha limpa, e estendamos essa generosidade a outros que encontremos na vida. Será difícil seguir em frente, se continuarmos a olhar no espelho retrovisor da mágoa ou do ressentimento.

A misericórdia, seja ela grande ou pequena, sempre tem seu efeito. Em pequena escala, essa atividade do amor todo-abrangente de Deus era normal em minha família. Na época, nós, crianças, a considerávamos apenas normal, mas compreendo agora quão especial ela era. Não que não brigássemos e discordássemos de vez em quando, mas o amor de Deus era fundamental e abundantemente manifesto. Rancores, ressentimentos e mágoas não encontravam lugar no exemplo que nossos pais nos deram, e eles também não toleravam em nós esse tipo de sentimentos. E agora que crescemos, as qualidades da misericórdia e do perdão têm sido fatores profundos em nossos relacionamentos como adultos.

Lembro-me de uma ocasião em que minha mãe estava me mostrando uma janela antitempestades recém-instalada e, sem saber, eu apertei um botão que fez cair parte da janela sobre a mão dela. Embora não tenha havido nenhum ferimento grave, eu fiquei péssima e envergonhada. Seu perdão foi imediato e sincero: “Está tudo bem. Eu estou bem”, disse ela. E esse foi o fim do episódio. Ainda hoje, eu relembro a bondade do perdão instantâneo da mamãe.

Pude expressar essa mesma bondade algum tempo depois, quando meu pai pegou um disco de vinil autografado e único, que me era muito caro e, para sua consternação, quebrou-o sem querer. Ele ficou cheio de remorso. Mas para mim, foi a coisa mais natural do mundo dizer com sinceridade genuína: “Está tudo bem, papai. É apenas um objeto”. Deixei o incidente completamente de lado.

Por menores que sejam esses exemplos, as lições que eles ilustram aplicam-se a todas as situações — quer nos deparemos com um relacionamento difícil, com um acidente ou com palavras rudes. Quando nosso desejo de paz é profundo e genuíno, e pedimos a ajuda de Deus, como fez Jacó, podemos discernir o que é necessário de nossa parte para participar da restauração da paz. Como mostram os ensinamentos da Ciência Cristã, Deus nos deu a generosidade e a humildade para expressarmos Seu amor a todos, porque somos todos filhos de Deus e, como resultado, refletimos Suas qualidades totalmente boas.

Sinto-me encorajada por esta declaração do livro de Isaías: “Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu” (43:1). O que isso significa para mim é:

Deveríamos parar de ficar ansiosos.

Se precisamos de perdão, Deus já o colocou em ação.

Deus, a Mente divina, nos conhece e nos chama por nosso nome, sempre nos encontrando exatamente onde estamos, e de uma forma que possamos compreender.

Ao reconhecer-nos como filhos, Deus identifica cada um de nós como eternamente espiritual, com um propósito totalmente bom e sem igual, o qual se desdobra continuamente; não estamos à mercê da sorte, vulneráveis ​​ou obsoletos, mas pertencemos à Mente eterna e onisciente e ao Amor inteligente e todo-atuante, e somos a expressão dessa Mente e desse Amor.

Embora o arrependimento seja um primeiro passo importante para a reforma, a Bíblia mostra que não devemos afundar na tristeza, mas, ao contrário, temos de dar o passo seguinte, aceitando nossa redenção, ou seja, rendendo-nos humildemente ao amor todo-abrangente de Deus. Assim, fica natural expressar esse amor aos outros, mesmo quando isso talvez não pareça fácil. Esse é nosso papel para que possamos ver vidas restauradas, curadas, úteis e redimidas — inclusive a nossa.

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