As circunstâncias difíceis são inerentes à existência humana, e todas elas têm sua origem na suposição de que Deus não seja todo-poderoso e não seja capaz de governar Sua criação; de que haja a presença de outro poder, atuando em oposição a Deus.
Se admitimos, consciente ou inconscientemente, que exista nessa crença alguma verdade, talvez não tardemos a nos sentir perdidos, até mesmo fora de controle — oscilando na instabilidade das opiniões humanas, da popularidade, do orgulho, do medo ou do ressentimento. Essas ondas tempestuosas da mente mortal (às quais o apóstolo Paulo se refere como o “pendor da carne”, a crença em uma inimizade contra Deus) não engendram força nem estabilidade. Em vez disso, elas abrem caminho para o caos, não a ordem, e nos deixam exauridos em vez de revigorados, desprovidos da orientação divina que nos permite pensar e agir com acerto e ser adequadamente governados por nós mesmos.
Cristo Jesus desafiou diretamente a crença em um poder antagônico e com vontade própria, e revelou o controle único de Deus sobre Sua criação. Ao defrontar-se com conflitos, confusão e doenças, Jesus os enfrentava com compreensão, com um poder espiritual imperturbável e, como resultado, a harmonia, a justiça e a saúde eram restauradas.
Assim confirmou-se a profecia das Escrituras, de que o mandato do Cristo — a eterna Verdade divina que Jesus manifestou de modo tão completo — detém o poder do governo supremo. O “…governo está sobre os seus ombros…”, diz o profeta (Isaías 9:6). Jesus viveu em fidelidade às leis desse governo divino, provando, por meio de suas obras de cura, que a Vida divina é eterna, o Amor divino está sempre presente, e que essas leis de harmonia operam de modo infalível e completamente independente do pendor humano para o pecado e o preconceito.
A oração inspirada pelos ensinamentos e exemplos de Jesus nos leva a exercer soberania espiritual e a ter imunidade, ambas conferidas pela lei divina, diante de falsos egos ou mentes pessoais. Essa compreensão esclarecida cura a turbulência, a injustiça e todos os desafios que enfrentamos, os quais negam o pacífico e benéfico governo de Deus. Também nos permite discernir, tanto em nossa vida particular quanto na comunidade, as leis mais elevadas do bem, as quais estão continuamente em ação, impelindo-nos ao progresso que não pode ser detido por nada.
Quero relatar um exemplo. Deparei-me, muitos anos atrás, com uma batalha de vontades entre os estudantes universitários do curso de poesia que eu lecionava. Parte do currículo incluía aprender a fazer análises críticas dos trabalhos uns dos outros. Entre os estudantes daquela turma, todos na faixa de 18 a 21 anos de idade, dois eram visivelmente mais assertivos, competitivos e competentes (tinham obras publicadas) do que a maioria dos colegas. A turma logo resvalou para bruscos ataques pessoais e confrontos frequentes entre duas facções cada vez mais fortes.
Todo o meu empenho humano para restaurar a harmonia foi em vão. Então, voltei-me a uma fonte mais elevada para estabelecer a ordem e a cortesia na turma. Minha inspiração foi Jesus, cujos ensinamentos e exemplo iluminam nossa individualidade espiritual e nossa identidade dada por Deus, revelando a indissolúvel conexão que cada um de nós tem com nosso Princípio divino, o Amor. Como filho de Deus, Cristo Jesus foi a expressão mais completa da individualidade divina, e reconheceu que essa natureza espiritual — a saúde, em vez da doença, a cooperação e o desprendimento do ego, em vez da disputa, a calma e o autodomínio, em vez de volatilidade e reação impetuosa — pertence a todos. Foi essa compreensão espiritual, a respeito da bondade inata e da perfeição espiritual da criação de Deus, o que permitiu a Jesus subjugar o medo e sanar tanto a discórdia quanto a doença.
Em vez de me sentir presa em uma luta entre personalidades teimosas, recorri à natureza mais elevada dos alunos, a qual lhes fora dada por Deus. Isso evitou que eu me intimidasse ante o comportamento agressivo deles ou suas repetidas ameaças de abandonarem o curso.
Os outros professores daquela turma, bastante experientes e que eram romancistas, dramaturgos e jornalistas premiados, também estavam lutando com os confrontos e a baixa frequência daqueles mesmos alunos. O diretor do departamento marcou uma reunião de emergência, na qual foi proposto o cancelamento do curso, antes do vencimento da última mensalidade, que ocorreria em três semanas. Era a primeira vez que se pensava em adotar uma medida tão drástica, naquela faculdade.
Pedi que esperássemos até a terceira semana, para ver se conseguiríamos reverter a situação. Todos os outros professores se mostraram céticos, dizendo que não havia nada mais que eles pudessem fazer, pois quase ninguém comparecia às suas aulas. Mesmo assim, o diretor do departamento concordou em aguardar.
Senti-me encorajada pelo fato de que Deus, o Amor, o Princípio divino, é o único verdadeiro legislador e governante. Eu já tivera demonstrações disso até certo ponto em outras situações, e era libertador reconhecer que a vontade humana e as tentativas de coerção não constituem o governo verdadeiro. Elas se submetem ao controle do poder espiritual, a suprema autoridade de Deus, o poder pacífico e benevolente que sustentava as curas realizadas por Jesus, e que está, agora e sempre, declarando a verdade à consciência humana.
Convoquei uma reunião com os dois alunos, e compartilhei ideias a respeito da oportunidade que eles tinham de beneficiar a turma e de se beneficiarem eles mesmos com as contribuições um do outro. Em outras ocasiões, tentativas como essa haviam resultado imediatamente em acusações mútuas, mas não dessa vez. Foi emocionante vê-los atentos, em silêncio, e concordando, e em seguida expressaram genuína admiração um pelo outro.
Todos os alunos retornaram às aulas naquela semana, e a atmosfera entre eles passou a ser revigorante e de cooperação. Como resultado, foi anulada a decisão do departamento de cancelar o curso. As sessões de análise crítica se tornaram tão construtivas que todos os alunos daquela turma tiveram poemas publicados no periódico da faculdade. Eles haviam vivenciado o que é o governo de si mesmo — o autodomínio orientado pelo impulso de sua verdadeira natureza, o reflexo do Amor divino. Talvez não tenham reconhecido isso, mas ainda assim foram abençoados.
Ser governado por si mesmo é ser governado por Deus, de modo ilimitado e todo-poderoso. Todos podemos permanecer alerta e rejeitar a noção de que haja qualquer outra autoridade verdadeira além de Deus e reconhecer o Deus único, o único poder governando a todos, curando e fortalecendo o gênero humano por meio do Cristo, a verdadeira ideia de Deus. Agindo assim, vivenciaremos mais do reino dos céus na terra, a eterna harmonia do Amor divino.