Não faz muito tempo, percebi que estava me deixando afetar pelas agitações políticas, e as guerras, em muitos lugares do mundo. Queria orar a respeito, mas a situação me parecia opressiva.
A Ciência Cristã ensina que Deus, o Amor divino, é onipotente, totalmente bom, e a tudo governa, por isso todo tipo de mal é de fato irreal. Eu aceitava esse raciocínio, mas parecia difícil sentir isso, então me perguntava se minhas orações podiam realmente fazer diferença. Diante de doenças e tragédias, bem como conflitos, injustiças e situações provocadas por personalidades humanas imperfeitas, será que podemos verdadeiramente confiar em que um Deus todo-poderoso esteja governando tudo? E onde, exatamente, podemos encontrar esse governo?
Quando comecei a sentir rigidez muscular, dor e falta de energia, percebi que estava profundamente angustiado com os problemas mundiais e precisava me dedicar mais seriamente à oração. Senti que seria bom começar com a vida de Cristo Jesus.
Jesus viveu na Judeia, uma província do Império Romano. O império era, em muitos aspectos, corrupto, tirânico e injusto. Por ser território ocupado, a Judeia estava à beira da insurreição, com facções rivais que lutavam entre si. Havia muita desigualdade econômica, conflito étnico e partidarismo violento.
Apesar de ter sido frequentemente hostilizado e ameaçado durante seu ministério de cura, Jesus não deixou que isso o intimidasse. Ao ser questionado sobre um tema controverso, os impostos, a postura de Jesus foi: “…Dai… a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21). Ele sabia que era governado unicamente por Deus, não por autoridades ou instituições, fossem elas religiosas ou seculares. Aliás, ele nunca se deixava impressionar pelo poder do mundo.
Certa ocasião, uma multidão tomada pela ira tentou matá-lo, mas Jesus passou por ela e saiu ileso (ver Lucas 4:23–30). Continuou a ensinar e a curar, consciente de que era sujeito somente a Deus, até mesmo quando foi preso e crucificado. Embora essa provação fosse totalmente injusta, Jesus deixou claro que passaria por ela, devido à sua fidelidade a Deus e à missão que o Pai lhe incumbira, dizendo sobre sua vida: “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la” (João 10:18).
A vida e o ministério de Jesus são únicos, mas muitas outras pessoas na Bíblia também comprovaram a supremacia do governo de Deus. Para citar apenas dois exemplos: Daniel sobreviveu a uma noite na cova de leões, ocasionada por uma lei injusta (ver Daniel 6); e Paulo e Silas, seguidores de Jesus, presos pelo “crime” de pregar o evangelho, foram libertados da prisão romana de modo aparentemente milagroso (ver Atos 16:16–40).
Cada um desses exemplos mostra o poder de Deus para cuidar daqueles que se voltam a Ele de todo o coração; em geral, salientam a verdade mais ampla de que o governo de Deus está sempre em ação, sempre à nossa disposição e sempre capaz de vencer quaisquer perigos que os governos mundiais possam apresentar.
A maioria de nós provavelmente não precisará lidar com nada comparável ao que esses personagens bíblicos enfrentaram. Mas seus exemplos me fizeram perceber que não posso orar com convicção a respeito do governo que Deus exerce sobre o mundo a menos que eu esteja demonstrando, por pouco que seja, Seu governo em minha própria vida. Por isso, comecei a reconhecer persistente e constantemente o governo de Deus em todos os aspectos de meu dia a dia, não apenas nos acontecimentos mais importantes, mas também nos pequenos, inclusive nas tarefas rotineiras e interações sociais.
Mary Baker Eddy nos diz em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “A Mente infinita cria e governa tudo, desde uma molécula mental até a infinidade” (p. 507). Isso não deixa espaço para algo que não seja governado por Deus!
Ao manter essa disciplina mental, percebi algumas mudanças acontecendo. As atividades em meu dia a dia passaram a acontecer com mais facilidade: as circunstâncias que anteriormente teriam me frustrado ou causado incômodo eram enfrentadas com tranquilidade e sem maiores dificuldades; as ideias corretas surgiam quando necessárias. À medida que o governo de Deus se tornava mais real e mais evidente em meu cotidiano, minha atitude em relação aos acontecimentos mundiais se tornava mais tranquila, mais equilibrada. Eu não ignorava as notícias, mas não mais me deixava ser levado por elas, nem ficava obcecado por elas. Sentia que minhas orações pelo mundo eram menos abstratas, e a ideia de que Deus a tudo governa, independentemente das aparências externas, tornou-se mais real e concreta em meu pensamento.
Senti-me mais confiante de que a oração individual eleva e espiritualiza a atmosfera mental coletiva e, assim, abençoa toda a humanidade. Também me lembrei de que o Império Romano continuou a passar por mudanças e decadência, mas o exemplo e os ensinamentos de Jesus inspiraram seus seguidores, a tal ponto que a vida de muitas pessoas, em regiões que se encontravam sob o controle do Império, foi transformada, e o Cristianismo acabou se difundindo pelo mundo.
Por fim, lembrei-me de que não oramos para consertar os problemas humanos, mas para demonstrar a verdade de que o homem já é espiritual e completo, permanente e perfeitamente governado por Deus, o Espírito. Assim sendo, ao orar pelo mundo não precisamos, de alguma maneira, projetar nossos pensamentos no mundo e tentar consertá-lo ou salvá-lo por força de vontade humana e boas intenções. O mundo já foi “salvo”: em realidade, Deus criou um mundo espiritual e para sempre harmonioso, que não precisa ser salvo, e esse é o único mundo que existe.
Nossa tarefa é perceber que isso é verdade tanto no geral quanto em nossa própria vida. As mudanças positivas aparecerão à medida que formos ficando cada vez mais conscientes do governo de Deus, o qual está sempre presente. A Ciência Cristã ensina o fato de que o mal é uma nulidade — é zero. Às vezes isso parece ser mais fácil de entender quando o zero é pequeno. Mas mesmo um zero enorme continua sendo zero.
Em Ciência e Saúde lemos: “O senso humano talvez se admire da desarmonia, ao passo que, para um senso mais divino, a harmonia é o real e a desarmonia é o irreal. Podemos até ficar atônitos perante o pecado, a doença e a morte. Podemos até ficar perplexos ante o medo humano; e ainda mais assombrados ante o ódio, que levanta sua cabeça de hidra e mostra seus chifres nas muitas invenções do mal. Mas por que deveríamos ficar apavorados ante o nada?” (p. 563). Decidi não “ficar apavorado ante o nada”.
Quase sem perceber, à medida que minha agitação mental diminuía, o mesmo acontecia com os problemas físicos. A dor desapareceu, a facilidade de movimento voltou e a letargia foi substituída por vigor e atividade, mentais e físicos.
Por isso, voltemos à pergunta feita anteriormente: “Onde está o governo de Deus em tempos difíceis?” A resposta é: “Exatamente aqui e agora, conosco e ao nosso redor, todo-poderoso, constante, tão perto quanto o pensamento”. Não precisamos nos intimidar com imagens de situações caóticas ou perigosas, em nível nacional ou mundial. Talvez não saibamos o efeito exato que nossas orações estão tendo e pode ser que esse efeito nem sempre apareça rapidamente. Mas podemos ter a certeza de que nossas orações fazem diferença no mundo, assim como em nossa própria vida.
Esta declaração da Sra. Eddy se refere às orações das congregações das Igrejas de Cristo, Cientista, mas penso que também se aplica às nossas orações em qualquer lugar, a qualquer momento: “As orações silenciosas nas nossas igrejas, ressoando nos escuros corredores do tempo, propagam-se em ondas sonoras, um diapasão de corações pulsando, vibrando de um púlpito a outro e de um coração a outro, até a verdade e o amor, fundindo-se em uma única sagrada oração, cingirem e consolidarem o gênero humano” (A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Textos, p. 189).