Diante de um problema, talvez perguntemos: “Por que isso aconteceu comigo? O que fiz de errado? De quem é a culpa? Deve haver algum motivo para isso!”
Em outras palavras, somos tentados a buscar uma causa para o sofrimento, assim como os discípulos de Jesus fizeram em algumas ocasiões. Lemos no Evangelho de João que, certa vez, ao verem um homem cego de nascença, os discípulos de Jesus perguntaram: “…Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Jesus respondeu: “…Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (João 9:1–7).
Jesus não se esquivou da pergunta dos discípulos, mas desviou o foco da pergunta “quem” e “por quê”. Ele conhecia apenas uma causa, o Deus onipotente, o único Criador, e disse que a boa obra de Deus — a perfeição de Sua criação espiritual — se manifestaria no homem. Era só isso o que eles precisavam saber, e Jesus o comprovou, curando o homem da cegueira.
A Descobridora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, estabeleceu as Lições Bíblicas semanais, publicadas no Livrete Trimestral da Ciência Cristã. Cada lição é uma compilação de trechos da Bíblia e de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria da Sra. Eddy, é específica para cada tema, e sempre traz à tona a natureza mental da desarmonia e da doença, revelando o fato de que ambas são irreais porque Deus, o bem, não criou nada contrário a Ele mesmo. Não se trata de pensamento positivo; é uma lei espiritual que dissipa qualquer crença nas chamadas leis da matéria, a quais alegam ter o poder de causar algo.
O livro-texto da Ciência Cristã afirma: “O corpo parece agir independentemente só porque a mente mortal é ignorante a respeito de si mesma, de suas próprias ações e de seus resultados — ela ignora que a causa predisponente, remota e estimulante de todos os maus efeitos é uma lei dessa chamada mente mortal, não da matéria” (Ciência e Saúde, p. 393). Também afirma: “Visto que a chamada mente mortal, ou seja, a mente dos mortais, é a causa remota, predisponente e estimulante de todo o sofrimento, a causa da doença tem de ser apagada pelo Cristo na Ciência divina, senão os chamados sentidos físicos obterão a vitória” (pp. 230–231).
Recentemente, as palavras “remota, predisponente e estimulante” me fizeram pensar e me levaram a refletir mais profundamente sobre seu significado nesse contexto. Depois de uma breve pesquisa, cheguei a uma compreensão mais clara:
Causa remota
Uma causa remota é aquela que parece estar separada de seu efeito, no espaço ou no tempo, e não é sempre óbvia. O livro-texto afirma: “A causa remota ou crença remota de doença não é perigosa por ter se apresentado anteriormente, nem por haver conexão entre os pensamentos mortais do passado e os do presente” (p. 178). E cita o exemplo de um adulto com um problema físico devido ao fato de sua mãe ter levado um susto antes de seu nascimento, e explica que o “…caso crônico não é difícil de curar, quando arrancado da crença humana e fundamentado na Ciência, na Mente divina…”. Isso foi demonstrado no caso do cego, quando Jesus refutou a crença injusta de que o homem estava sujeito a sofrer pelos pecados ou pensamentos de seus pais, e comprovou a Ciência do Cristo, a regra e o poder do Amor divino.
A causa predisponente
Uma causa predisponente prepara o caminho para que algo aconteça. Prepara-nos para uma atitude, ação ou circunstância específica. Por exemplo, às vezes ouvimos alguém dizer que tem predisposição a determinada condição ou doença, como sentir dores em certas temperaturas, sentir cansaço a menos que durma um mínimo de horas, ou ter propensão a uma doença recorrente em sua família. A crença na hereditariedade — a predisposição a traços de caráter bons ou maus como herança congênita vinda de algum membro da família — é crença que se origina na mente mortal errônea, não na Mente única e infinita, Deus, a qual é refletida pelo verdadeiro homem, descrito no primeiro capítulo de Gênesis, na Bíblia.
A Bíblia nos assegura que temos o direito e a autoridade divinamente outorgados para anular os prognósticos da mente mortal: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que… já não dirão: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram” (Jeremias 31:27, 29). Por que não mais afirmaremos isso? Porque nosso direito de nascença é o de filho de Deus, é domínio, não submissão. Temos autoridade divina para rejeitar quaisquer pensamentos que neguem nossa legítima e grandiosa herança de saúde e bem-estar. Quando tais pensamentos nos ocorrem, podemos desafiá-los: “Eles procedem de Deus? São verdadeiras essas alegações sobre o filho amado de Deus? Não!” Temos todo o direito de descartá-las, apoiados na firme convicção de saber quem somos, confiantes em que Deus nos sustenta.
A causa estimulante
Uma “causa estimulante” é um fator que diretamente traz certos sintomas. Quando somos tentados a investigar os sintomas de uma condição física para descobrir o que é, ou qual poderia ser sua causa, este é o momento de ficarmos quietos! Mesmo que racionalizemos que isso pode nos ajudar a entender como melhor orar sobre o problema, aprofundar-nos em causa e efeito fundamentados na matéria tende a provocar medo do que a matéria parece ter o poder de fazer. Investigar uma causa material nunca nos leva à raiz do problema. Não siga por esse caminho!
Devemos nos perguntar: “Estamos acolhendo pensamentos de Deus, o Espírito, e ficando impressionados por eles, ou estamos acreditando no que os sentidos físicos estão nos informando?” Somente o que Deus sabe a nosso respeito é verdadeiro, e descobrimos o que é verdadeiro quando nos aprofundamos e compreendemos nossa verdadeira identidade espiritual — quem e o que somos aos olhos de Deus.
Há alguns anos, tive uma experiência que resultou em uma lição de humildade e, ao refletir sobre ela, vejo que atendeu minha necessidade de enxergar bem além dessas três supostas causas. Em um um dia muito frio no inverno, após ter chovido, fui andar por uma trilha com uma amiga. Ela havia tido fraturas no passado, por isso sugeri que tomasse cuidado com as placas de gelo que haviam se formado no caminho. Eu presumia que ela tivesse predisposição a fraturas e que meu condicionamento físico, devido à prática frequente de exercícios, impediria que eu caísse ou me machucasse.
No entanto, na volta, eu caí, rolei na trilha e machuquei gravemente o pulso. Minha amiga ficou preocupada, mas pacientemente esperou enquanto eu orava em silêncio, ainda sentada no chão. Imediatamente, afirmei que eu nunca havia saído da presença ou do cuidado de Deus. Como expressão de Deus, o Espírito — Sua criação espiritual — eu estava, e estou, para sempre segura e intacta, e nada poderia mudar esse estado de permanente perfeição. Depois de afirmar por alguns minutos essas verdades a meu respeito, consegui me levantar e andar os vinte minutos restantes de volta ao carro. Mais tarde, fiquei grata por ter me recuperado totalmente.
Com essa experiência, aprendi muito sobre a necessidade de estar atenta com o que aceitamos em nosso pensamento. A causa estimulante não fora o gelo escorregadio, mas a crença errônea de que eu e a outra pessoa fôssemos frágeis mortais, sujeitas a ser separadas do cuidado constante de Deus, o Amor, portanto, sujeitas a quedas. Quando essa crença foi eliminada do pensamento, a cura ocorreu.
Diariamente, temos a oportunidade de examinar nosso pensamento e compreender melhor que existe apenas uma causa. Não existe mente mortal e, por isso, nenhuma causa remota, predisponente ou estimulante para a doença ou para o sofrimento. Podemos nos regozijar com o fato de que: “Toda a substância, a inteligência, a sabedoria, a existência, a imortalidade, a causa e o efeito pertencem a Deus” (Ciência e Saúde, p. 275). Deus é o bem, a única causa e o único Criador do homem e do universo, e Ele cria e mantém apenas o que é bom.