Recebi um e-mail da redatora de uma revista para a qual eu escrevera um artigo, informando que a publicação do meu texto havia sido adiada para uma data posterior. Ela também disse que havia sido bom postergar a publicação do artigo, pois os termos eu, me e meu apareciam ali 64 vezes. E acrescentou que o artigo falava mais sobre mim do que sobre o tema central, que deveria ter sido os golfinhos e o Mar de Cortez, no qual eu nado frequentemente.
Imediatamente, vi os comentários da redatora como um insulto pessoal, não como uma crítica construtiva. Além disso, eu não sabia o que poderia fazer para revisar o texto, pois me parecia impossível atender aos padrões dela. Disse a mim mesma que ela não estava sendo razoável. Comentei com meu marido que eu iria deixar de escrever para aquela revista.
Após descer a esse estado emocional lamentável, dei-me conta de que não queria continuar a pensar assim. A raiva estava nublando meus pensamentos, e percebi que a única forma de me libertar da mágoa e da decepção seria buscando a orientação de Deus.
O hábito de começar cada dia com a oração e o estudo da Lição Bíblica semanal, que se encontra no Livrete Trimestral da Ciência Cristã, faz com que eu me sinta mais próxima de Deus e em sintonia com Suas mensagens, que sempre nos orientam na direção certa. Já na manhã seguinte, orei e estudei como sempre, e em seguida contactei uma praticista da Ciência Cristã, pedindo-lhe apoio espiritual em oração. Depois, fui nadar.
A natação me ajuda a acalmar o pensamento, e isso me torna mais receptiva às ideias que vêm de Deus. Mary Baker Eddy escreve: “Os pensamentos de Deus são perfeitos e eternos; são a substância e a Vida” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 286). Pensamentos sombrios, tais como ressentimento e mágoa, não têm sua origem em Deus, a Mente divina; não são perfeitos, portanto, não são dotados de inteligência nem de realidade. Deus é a Mente única, ou seja, a única fonte de inteligência e de sentimentos corretos. A crença, de que tenhamos uma mente separada de Deus, é simplesmente um mito.
Com os golfinhos nadando à minha volta, perguntei humildemente a Deus como poderia escrever melhor sobre eles. Naquele momento, senti-me cingida pelo Amor divino, em um maravilhoso senso de união com Deus e com todas as Suas amadas criaturas, inclusive meus amigos golfinhos. A raiva começou a desvanecer, e minha consciência ficou repleta de paz.
Quando, parei de nadar, o que me traz muita satisfação, e saí da água, reli o artigo e de imediato reconheci que a redatora estava completamente certa em tudo o que dissera. Aparentemente, o senso pessoal estava se intrometendo e interferindo em minha tentativa de descrever os maravilhosos golfinhos e minha interação com eles.
À medida que eu orava sobre o tema, pensamentos reconfortantes foram vindo, eliminando toda dúvida. Eu já não achava que reescrever o artigo seria impossível. Isso só seria difícil se eu acreditasse que teria de me apoiar no meu cérebro — ou seja, em uma mente individual limitada — para ter as ideias certas. “Tu te apoias no que é inerte e não inteligente, e nunca discernes que isso te priva da superioridade da Mente divina sempre ao teu alcance”, escreve a Sra. Eddy em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras (p. 143).
Com calma, procurei me apoiar na Mente divina que tudo sabe e, em seguida, escrevi sobre as ideias que me vieram ao pensamento. Em menos de trinta minutos, concluí um novo rascunho. Estava claro que este se originara em Deus, pois não houve esforço nem dificuldade, apenas um livre fluir de ideias e confiança no resultado.
Eu havia agendado uma ligação com a redatora para a semana seguinte. Poucos dias antes da data marcada, enviei o rascunho para ser revisado. Uma hora antes de nos falarmos, recebi dela um e-mail bastante positivo, e durante nossa conversa ela disse que a nova versão mostrava que eu havia compreendido onde estava o erro. Gentilmente, ela fez comentários sobre cada parágrafo, explicando como eu poderia deixar de pôr tanta ênfase em “mim”. Em vez de tomar o comentário dela como algo pessoal, eu me dispus a fazer mais correções e combinei de logo enviar um novo rascunho.
No mesmo dia, recebi um e-mail da praticista, compartilhando comigo o link para um artigo de Paul Stark Seeley, publicado no The Christian Science Journal em julho de 1955, com o título em inglês: “I—YOU—HE—SHE”, que em português seria: “EU—TU—ELE—ELA”. Esse artigo chegou bem na hora certa! O autor diz que, quando usamos tais pronomes, estamos geralmente nos referindo a uma personalidade humana, e não à nossa verdadeira identidade espiritual como a imagem e semelhança de Deus. O artigo dá exemplos da Bíblia e do livro Ciência e Saúde, nos quais são usados os pronomes “eu” e “nós”, referindo-se à nossa identidade espiritual.
Um dos exemplos é a afirmação que ouvimos ao término dos cultos, nas igrejas da Ciência Cristã: “Amados, agora, somos filhos de Deus…” (1 João 3:2). O artigo explica: “Aqui, a Bíblia não se refere a nenhum mortal, nem a um senso transitório de identidade. Refere-se a ‘nós’ dotados de uma identidade de filhos de Deus, semelhantes a Deus, não mortais nem materiais”.
Percebi que essa identidade semelhante a Deus é minha verdadeira individualidade como reflexo de Deus. É inteiramente espiritual, sempre completa e em paz; não se revolta nem se sente presa às circunstâncias humanas; não busca confiar em um cérebro humano para realizar coisa alguma. Por sermos reflexo de Deus, a Mente divina, nós possuímos inteligência, sabedoria e toda ideia correta ou atributo semelhante a Deus.
Logo após pensar assim sobre o artigo em questão, voltei ao meu projeto. Quem estava escrevendo esse texto? Uma individualidade mortal arrogante, ou aquela que foi curada de um senso pessoal e estava cedendo à expressão da inteligência e sabedoria de Deus?
Eu sabia a resposta. Reescrevi o artigo em poucos minutos e o reenviei à redatora. Ela respondeu prontamente e disse que essa versão era exatamente a desejada.
