Quando cremos que ouvir é uma faculdade mortal, admitimos ser isto conseguido por meio de uma estrutura orgânica. Ouvir, então, é classificado como agudo ou surdo; é considerado sujeito a enfraquecimento ou desaparecimento; é tido como dependente de condições materiais.
De acôrdo com a Christian Science, ouvir não é na realidade uma função material, mas percepção espiritual. Porque seus discípulos compreenderam suas parábolas, Cristo Jesus lhes disse (Mateus 13:16): "Bem aventurados os vossos olhos, porque vêem: e os vossos ouvidos, porque ouvem." Percebemos ou ouvimos a Palavra da Verdade pelo exercício das qualidades espirituais, tais como receptividade, reconhecimento e compreensão. Estas qualidades, não sendo pessoais nem físicas, não podem ser sujeitas às pseudas leis ou condições materiais.
Qualidades espirituais são possuidas e expressas por Deus, portanto eternas e perenemente perfeitas. No Science and Health with Key to the Scriptures (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras), à página 489, Mary Baker Eddy pergunta: "Como pode o homem, refletindo Deus, depender de meios materiais para saber, ouvir ou ver?"
Atenção espiritual é manifestada pelo silenciamento do mortal para que o espiritual possa ser ouvido. Tal escuta exige abandono de obstinação, amor-próprio, justificação própria e o exercício de despreen-dimento, humildade e firme lealdade para com a Mente divina. Não estamos realmente escutando quando ao egotismo é permitido arguir a favor de teorias e análises formadas pela mente mortal. À medida que fazemos calar o falso testemunho da mente mortal, provamos ser os obedientes ouvintes que o Salmista exortou que fôssemos quando disse (Salmo 78:1): "Escutai a minha lei, povo meu, inclinai os vossos ouvidos às palavras da minha boca."
Quando procuramos ouvir a Palavra de Deus, mostramos disposição para ser beneficiados pela totalidade e onipresença de Deus. A avidez de expor o mal para personalizá-lo e um esfôrço para justificar nossas afirmações da existência do êrro são barreiras, ou obstruções, erigidas pela mente mortal, que impediriam sentirmos a totalidade de Deus, o bem. Crítica grosseira, escarnecimento e condenação indicam que fomos levados a crer que o mal é rela, que admitimos o êrro na consciência, aceitando-a como uma pessoa, um lugar ou uma coisa.
Na verdade, porém, o homem é perpètuamente o amado de Deus e, portanto, sempre o recipiente do bem. Que o Seu bem é instantâneamente disponível, onde quer que estejamos ou onde quer que encontremos os nossos irmãos, é um fato, não uma ilusão. O homem é eternamente receptível e está eternamente recebendo o bem de Deus, pois, como reflexo espiritual, o homem deriva tudo de Deus.
Compreensão é a consciência da realidade. Fala do reino do Espírito como revelado pela Ciência divina, e está à disposição do ouvido que ouve, de todo pensamento receptível. Mrs. Eddy diz no Science and Health (p. 259): "Idéias imortais, puras, perfeitas e duráveis, são transmitidas pela Mente divina através da Ciência divina, a qual corrige o êrro com a verdade e exige pensamentos espirituais, conceitos divinos, a fim de que êstes produzam resultados harmoniosos."
Um praticista da Christian Science foi procurado por uma senhora muito preocupada porque não conseguia prestar atenção aos serviços e conferências da igreja ou às observações que lhe eram dirigidas. Desanimada, ela ia deixar de tomar parte em trabalhos da igreja e atividades sociais. O seu receio era estar sofrendo de um mal herdado. O praticista explicou-lhe então que ouvido não é físico nem pessoal. Disse à paciente que se regozijasse pelo fato de ser perfeito o ouvido de Deus, a Sua clara compreensão da Sua totalidade, e fôsse grata por refletir êste ouvido com a mesma certeza com que refletia sabedoria, integridade, amor, alegria e outras qualidades de Deus.
No dia seguinte, a paciente comunicou que havia abandonado a crença que vinha mantendo de que ouvido era algo pessoal e, como resultado, havia vencido mêdo e desânimo. Contou que passara a declarar com veemência que sòmente Deus é fonte de audição e ela não pensava mais em pessoa alguma como tendo bom o mau ouvido. Na manhã seguinte, satisfeita, informou que sentira de repente estar ouvindo perfeitamente. A cura foi completa e permanente.
O homem reflete e inclui todo o bem que Deus concede, e, porque o bem é espiritual, a matéria então—sem vida nem mente—nada pode tirar ou acrescentar ao homem.
Na infinitude do Espírito, onde o homem realmente vive, não há matéria para ser transmitida e matéria para ser recebida. Àquele que compreende a totalidade de Deus e o quanto é completa a Sua expressão é assegurada a presente e eterna posse de bom ouvido. Lemos em Provérbios (20:12): "O ouvido que ouve, e o ôlho que vê, o Senhor os fêz a ambos."
