O Brasil Havia Sido eliminado da Copa do Mundo, em meio a muita polêmica e acusações quanto às causas do fracasso. Foi a Argentina que acabou ganhando o campeonato. Meu filho mais velho era pequeno, mas havia seguido tudo com muito interesse, como bom torcedor.
Pouco tempo depois, fizemos uma viagem à Argentina. Visitamos lindos lugares e entramos em contato com muitas pessoas. Foi uma experiência enriquecedora, que para meu filho teve um significado especial. A certa altura, ele me confidenciou: "Foi muito bom termos vindo aqui. Eu vi que os argentinos são pessoas legais, iguais a nós. Não são nossos inimigos.
O clima mental de qualquer competição muitas vezes degenera em inimizade, medo, preconceito e até ódio. Haja vista como a violência nos estádios e o comportamento das torcidas organizadas se tornaram um problema em muitos países. Será que deveríamos, então, eliminar o futebol e as outras competições esportivas? Nem pensar!
O verdadeiro culpado não é o esporte. Este pode ser uma ótima oportunidade para expressar muitas das qualidades que o homem reflete como filho de Deus: domínio, precisão, harmonia e liberdade de movimentos, superação de limites materiais, disciplina, dedicação. As partidas e os campeonatos podem manifestar o clima mental de que fala a epístola aos hebreus: "Consideremo-nos. .. uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregarnos. "Hebreus 10:24, 25. Na Copa, por exemplo, multidões provenientes de diversos países se congregam no país organizador e são um estímulo para uma boa organização, para a prestação de bons serviços, para a criatividade; diversas culturas entram em contato entre si e o mútuo conhecimento é um estímulo ao amor e à compreensão. Além disso, milhões de espectadores se congregam através da televisão, para admirar e estimular o bom desempenho, as qualidades expressas no trabalho de cada participante.
Por que haveria tudo isso de transformar-se em rivalidade, frustração, agressão verbal e física? "A moléstia é sempre provocada por um falso conceito mentalmente cultivado, não destruído", diz a Sra. Eddy, em Ciência e Saúde. Ciência e Saúde, p.411. Sem dúvida, o que ela diz com referência à moléstia vale para as "moléstias" que parecem acometer a sociedade, como a violência.
Um conceito equivocado ligado ao esporte, e a muitas outras atividades da vida, decorre do hábito de se perguntar: Quem é melhor? A Bíblia nos dá um exemplo desse processo mental errôneo. Saul era rei de Israel e, como tal, estava em luta com os filisteus, povo vizinho que constantemente invadia o país. Nesse estado de coisas, Davi, jovem valente e destemido, havia se apresentado para lutar e, em diversas ocasiões, fora de grande auxílio a Saul. Certo dia, porém, na volta de uma batalha, mulheres das cidades saíram ao encontro do rei, cantando e dançando, com tambores e instrumentos. Isso não lembra uma torcida organizada? Em seus cânticos, elogiaram a Davi, dizendo-o mais valente do que o rei. "Então, Saul se indignou muito, pois estas palavras lhe desagradaram em extremo.. . Daquele dia em diante, Saul não via a Davi com bons olhos. " Na primeira oportunidade, o rei agrediu o antigo auxiliar e tentou matá-lo. Seguiu-se uma guerra civil e Saul acabou destronado e morto. Ver 1 Samuel 17-31. Quanta violência! E tudo por causa da vontade de determinar "quem é melhor".
Esse conceito equivocado (falso porque não está de acordo com a criação perfeita de Deus) é mentalmente cultivado por diversas "torcidas organizadas": a mídia põe diariamente diante de nossos olhos quem ganha mais, nessa ou naquela profissão, quem vende mais, a mulher mais bonita, a atriz mais requisitada. Mesmo nas escolas, ouvimos constantemente falar do melhor aluno, o melhor professor, a menina mais simpática, o rapaz mais musculoso. A vida parece um campeonato contínuo. O problema com esse tipo de pensamento é que sempre há perdedores. Surgem assim sentimentos de injustiça, frustração, desânimo ou revolta, todos eles sementes da violência.
Como destruir esse conceito, em vez de cultivá-lo? Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy nos diz: "Se não fosse o erro de medir e limitar tudo o que é bom e belo, o homem viveria mais de setenta anos, conservando ainda o vigor, a louçania e a promessa." Ciência e Saúde, p. 246. Sempre que nos comparamos a outros, estamos medindo e limitando aquilo que é bom e belo. Se, em vez disso, reconhecermos que tudo o que é bom e belo provém de Deus, nosso Pai-Mãe, e portanto é infinito, distribuído a todos com amor, entenderemos que não precisamos "derrotar" ninguém, em nosso dia-a-dia. Precisamos apenas perceber o bem que o Pai já nos deu e continua dando a cada um, de infinitas maneiras diferentes, porque Ele é infinito. Nessa infinita diversidade, porém, não existe graduação de quantidade ou qualidade, que possa ser comparada ou medida. Quanto mais essa verdade ocupar nosso pensamento, mais ela se concretizará em nossa vida.
Então, nas nossas atividades diárias, veremos que todos "são pessoas legais, iguais a nós" e ninguém é nosso inimigo.
 
    
