Graça não é algo que Deus tenha de conceder a Seus filhos; ela é a realidade já presente de Deus. Graça é uma realidade que sentimos em nossa vida, sempre que eliminamos o pensamento tentador de que existimos separados dEle, com capacidades, poderes, objetivos e responsabilidades próprios.
Em sua mensagem de comunhão para A Igreja Mãe, de junho de 1898, intitulada Christian Science versus Pantheism, Mary Baker Eddy explicou que o trabalho de cura dos Cientistas Cristãos "é realizado pela graça de Deus, é o efeito de Deus compreendido" (p. 10). Quando li esse trecho pela primeira vez, percebi que sempre que me entregava completamente a Deus, sentia-me envolvido por sentimentos de ternura e amor que resultavam em cura. Essa era a graça divina.
Superar o medo, que acompanha a renúncia do controle pessoal sobre as coisas, foi uma longa jornada para mim. Embora eu ainda tenha muito a percorrer para completá-la, sou grato pelos passos já dados.
Uma das primeiras vezes que lembro de ter orado, foi aos cinco ou seis anos de idade. Meu irmão e eu havíamos acabado de ir para a cama e, quando apaguei a luz, pude ouvir nossos pais discutindo no andar de baixo. Havia meses vinham ocorrendo discussões entre eles. Naquela noite, orei a Deus para que as brigas terminassem. Embora a discussão não tenha parado, adormeci com uma profunda sensação de paz por saber que todos nós estávamos sob o cuidado e o amor de Deus.
Relembrando esse incidente, vejo que foi a graça ou "o efeito de Deus compreendido", que me deu paz. Minha compreensão infantil foi suficiente para suprir a necessidade daquele momento.
No final da adolescência, defrontei-me com um problema de relacionamento. No auge, fui guiado a estes versos em 1 Timóteo: "E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, evitando os falatórios inúteis e profanos e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam, pois alguns, professando-o, se desviaram da fé. A graça seja convosco" (6:20, 21). Essa foi a primeira vez em que tomei conhecimento da palavra graça. Não sabia o que significava, mas lembro-me de me sentir imediatamente envolvido pela ternura e pelo amor, que resolveram o problema de forma rápida.
A ternura e o amor passaram a caracterizar as ocasiões em que me volvia de todo o coração a Deus em momentos de necessidade e me sentia muito próximo a Ele. Contudo, a mágoa e a decepção da vida diária pareciam retornar e contra-atacar os sentimentos momentâneos de proteção e segurança.
Um passo importante na compreensão de Deus
Depois disso, há alguns anos, uma inspiração me ajudou a progredir bastante. Ponderei que, se eu fosse Deus e tivesse a oportunidade de dar origem a toda a criação, não criaria nada que pudesse ser prejudicial. Meu amor e sabedoria não permitiriam isso. Naquele momento, compreendi que Deus simplesmente não poderia ter criado nada que pudesse causar dano, porque Ele é completamente amoroso e todo-sábio. Com mais esse vislumbre sobre a realidade, minhas orações começaram a mudar. Ao invés de implorar a Deus para mudar o mal ou pô-lo de lado, passei a ter uma compreensão mais profunda sobre quem e o que Ele é, e o que já havia criado, ou seja, uma realidade que não inclui nenhum mal.
Lembro nitidamente quando essa compreensão se tornou prática. Nosso filho adolescente entregava jornais após as aulas. Um dia, ele trouxe para casa um filhote de pássaro que havia encontrado na rua e perguntou se podíamos cuidar dele. O filhote era tão novinho que ainda não tinha nenhuma pena, por isso não sabíamos ao certo que tipo de pássaro era. Arrumamos um lugar para ele na varanda dos fundos que era protegida por uma tela e fizemos tudo o que podíamos para alimentá-lo.
Alguns dias depois, as penas começaram a surgir mostrando que se tratava de um sabiá macho de peito vermelho e lhe demos o nome de Robin. Também ficou evidente que uma das pernas do pássaro estava deformada, virada para trás e a garra traseira que deveria estar em sentido oposto, estava virada na mesma direção, de forma que ele não conseguia se segurar em um galho.
Eu havia acabado de entrar para a prática pública de cura pela Christian Science e comecei a orar por Robin. Ao longo das semanas seguintes, ele cresceu e ficou muito bonito com suas penas coloridas. Também era muito manso e dócil.
Contudo, a deformidade permanecia inalterada.
Como sanador, o que faço é ceder a Deus, a Verdade, permitindo que a presença da verdade espiritual realize Sua obra perfeita, sem qualquer interferência da minha parte.
Um dia, enquanto estava sentado com ele nos degraus da escada da varanda, fiquei desanimado, pois queria muito vê-lo curado. À medida que era honesto ao lidar com esses pensamentos (ao invés de ignorá-los), percebi que temia que essa situação fosse tão complicada que talvez não pudesse ser curada. Portanto, comecei a orar especificamente apenas a respeito do medo, que tomava a forma de desespero e desânimo.
Graça e saúde coincidem
Várias coisas vieram à tona com a oração, as quais me ensinaram bastante sobre a graça de Deus e sua relação com a cura. Fiquei frente a frente com a compreensão de que eu não sabia como mudar algo que Deus não podia ter criado (a deformidade física), em algo que representava uma visão mais clara de Sua criação (uma normalidade física). Com essa compreensão, veio a resposta consoladora de que eu não precisava saber, humanamente, como ocorreria a mudança para melhor, pois essa é uma prerrogativa de Deus, responsável por manter cada um de Seus pequeninos e Ele nunca havia transferido essa responsabilidade para mim ou para qualquer outra pessoa.
Como sanador, o que faço é ceder a Deus, a Verdade, permitindo que a presença da verdade espiritual realize Sua obra perfeita, sem qualquer interferência da minha parte. A própria presença dessa verdade no pensamento, fará o trabalho de mudar o quadro humano, ou seja, substituir a ignorância pela compreensão, a deformidade pela perfeição, a turbulência pela paz. Em Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy escreveu: "Tal como o grande Modelo, o sanador deve falar à moléstia como quem tem autoridade sobre ela, deixando que a Alma domine as falsas evidências que os sentidos corpóreos apresentam, e faça valer sua autoridade sobre a mortalidade e a moléstia" (p. 395).
Logo comecei a ter aquela sensação profunda de ternura e amor que mencionei anteriormente. Sabia que Deus estava cuidando de toda Sua criação, inclusive de Robin e de mim. Não tinha de assumir o controle da situação, com medo de que Deus não estivesse fazendo o que Ele devia fazer como o Pai-Mãe de todos nós. Isso não era um tipo de auto-hipnose; não era um pensamento humano positivo substituindo um pensamento humano negativo. Era o Cristo, o " 'cicio tranqüilo e suave' da Verdade..." (Ciência e Saúde, p. 323) falando comigo. Eu podia deixar que Deus fosse Deus, e podia me submeter a ser Seu filho, sem qualquer medo de que algo seria negligenciado ou deixado por fazer.
Todo poder e autoridade que temos sobre o mal são nossos por reflexo porque são inerentes à nossa unidade com Deus.
Na próxima vez que voltei a olhar para a perna de Robin, ela tinha se voltado para a frente e a garra traseira estava em sua posição normal. Após algumas semanas, durante as quais Robin aprendeu a encontrar sua própria comida e a tomar banho, ele partiu voando completamente curado e restabelecido.
Ceder traz graça
Compreendi que não importa quão tentador seja o pensamento de que temos mentes, capacidades ou responsabilidaes próprias para levar a efeito a mudança humana a que chamamos cura. O homem nunca teve o papel de trazer libertação do sofrimento. Jesus tentou alertar seus seguidores sobre isso, quando disse: "Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras" (João 14:10).
Todo poder e autoridade que temos sobre o mal são nossos por reflexo porque são inerentes à nossa unidade com Deus. Refletimos ou manifestamos esse poder e essa autoridade, à medida que conhecemos a Deus e cedemos incondicionalmente a uma compreensão maior sobre Ele. Isso é o que constitui a graça.
A família humana inteira merece conhecer o poder sanador da graça... a cura que é "o efeito de Deus compreendido."
