Há alguns anos, uma senhora enviou um e-mail para uma Praticista da Ciência Cristã informando que ao voltar para casa, depois de ter passado alguns dias fora, descobrira que seu querido periquito havia, de alguma maneira, quebrado a perna. Ela havia levado o pássaro ao veterinário, que lhe dissera que a perninha do periquito não podia ser restaurada.
Um dia depois, quando conversavam por telefone, a praticista soube que aquela senhora tinha vários periquitos, como também vários papagaios pequenos e, até mesmo, uma arara que havia sido adotada de outra família. Evidentemente, esses queridos pássaros eram muito importantes na vida dessa senhora. Durante a conversa telefônica, a praticista perguntou o nome do periquito que havia quebrado a perna, mas a senhora lhe respondeu que, com exceção da arara adotada (cujo nome fora dado pela família anterior), nenhum de seus pássaros tinha nomes.
É claro que um nome não pode constituir, por si só, a identidade de alguém. Poderíamos, contudo, considerar que ele representa a importância e o valor da distinta individualidade que o Amor divino concede a cada uma de suas ideias valiosas e profundamente amadas. A praticista leu para a senhora esta declaração em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy: “O Espírito dá nome a tudo e a tudo abençoa. Sem uma natureza particularmente definida, os objetos e os seres seriam indistintos, como forasteiros em um mato emaranhado, e a criação estaria cheia de uma prole sem nome, desgarrada da Mente paterna” (p. 507).
Nessa ocasião, veio à tona um conceito errado que essa senhora abrigava no pensamento fazia muito tempo, a respeito do significado e do valor da individualidade. De fato, ela explicou depois que acreditara que o conceito de individualidade simplesmente não parecia ser importante, parecia até mesmo descartável, especialmente quando consideramos a vastidão da infinidade.
Essa senhora foi muito humilde, compreendeu imediatamente o erro que havia cometido e passou o dia estudando e refletindo sobre a individualidade espiritual de cada ideia, ou seja, a manifestação individualizada de Deus, o Espírito, a qual nunca pode estar separada da “Mente paterna”. Ao final daquele dia, como fruto de sua nova compreensão sobre a importância e o valor de cada ideia individual, ela havia dado nomes a todos os seus passáros, inclusive a Pearl [Pérola], o periquito branco para o qual havia pedido ajuda em oração à praticista.
No dia seguinte, a fratura da perna de Pearl estava consolidada e, no terceiro dia, a perna já funcionava perfeitamente. Mas a maior bênção dessa experiência foi a mudança completa na compreensão que aquela senhora tinha a respeito da individualidade.
Para mim, a Sra. Eddy explicou, no livro Pulpit and Press [Púlpito e Imprensa], a metafísica pura, que é base da importância, do valor e do poder de cada um: “Não é o homem, metafísica e matematicamente, como o número um, uma unidade e, portanto, um número inteiro, governado e protegido por seu Princípio divino, Deus? Tu tens de simplesmente preservar um senso firme e científico da união com tua fonte divina e demonstrar isso diariamente. Então, tu descobrirás que um é fator tão importante como duodecilhões em ser e agir da maneira certa, e assim demonstrar o Princípio divino. Uma gota de orvalho reflete o sol. Cada um dos pequeninos do Cristo reflete o Um infinito e, portanto, é verdadeira a declaração de um escritor inspirado de que ‘um com Deus é maioria’ ” (p. 4). Claramente, nada excede a importância, o valor e o poder de cada um.
A Bíblia celebra essa ideia. O Salmista escreve a respeito de Deus: “[Deus] conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu nome” (Salmos 147:4). No livro de Neemias, o terceiro capítulo é inteiramente dedicado a identificar pelo nome os indivíduos que trabalharam na reconstrução do muro de Jerusalém, desempenhando diferentes funções. Nosso querido Mestre, Cristo Jesus, ensinou que se deve reconhecer e preservar, individualmente, até mesmo os menores seres e objetos na criação, quando declarou: “Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (Lucas 12:6, 7).
É interessante observar que, antes do amplo reconhecimento bíblico da importância e do valor de um único indivíduo, não existe nenhuma evidência na história de que a humanidade percebesse de alguma forma essa verdade sagrada. O que poderia ter feito com que a consciência humana despertasse para essa verdade?
No livro A Dádiva dos Judeus, que nos incita à reflexão, o autor, Thomas Cahill, explica que, quando o patriarca Abraão obedeceu à ordem de Deus e partiu de sua “terra” e “da casa de seu pai” (ver Gênesis 12:1), ele estava deixando a cultura sumeriana que adorava ídolos, uma cultura que, como a de outras civilizações da antiguidade, conhecia somente a repetição daquilo que acontecera antes e que fora passado adiante através de incontáveis gerações; uma sociedade estática e genérica, que não tinha a mínima noção de avanço ou de progresso, e nenhuma percepção do valor, do propósito ou do destino de cada indivíduo. O fato de Abraão, com toda confiança, ter deixado essa homogeneidade e seguido adiante em uma missão individual, sem sequer saber para onde estava indo, foi, de acordo com Cahill, um evento único em toda a história da humanidade até aquele momento (ver pp. 3, 5, 19, 63, 94).
Abraão era monoteísta. Ele tinha somente um único Deus, que é absoluto e inclui tudo. Então, acaso não foi a revelação de Deus à humanidade do fato de que Ele é uno e único, ou monoteísmo – a verdade de que Deus é um e uno, indivisível, infinito, possuidor do poder supremo, em vez da suposta existência de muitos deuses finitos, antropomorfos e que compartilham poder – o que foi progressivamente despertando a humanidade para a importância, o valor e o poder do um?
Provavelmente, a verdade mais fundamental sobre Deus é o fato de que Ele é um e uno. O próprio Deus nos fala exatamente isso, ao dar à humanidade o primeiro dos Dez Mandamentos: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20:3).
Em Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883-1896, a Sra. Eddy declara: “Deus é a Mente e é individual” (p. 101). Visto que a criação espiritual é feita à semelhança exata dessa Mente individual, cada identidade na criação tem de ser, antes de tudo, individual.
Além disso, não somos somente individuais, mas somos também únicos. Como o próprio Deus, cada uma das incontáveis ideias que habitam na Mente infinita não pode ser duplicada.
A Bíblia inteira tem exemplos claros da enorme autoridade e poder de cada um. Os homens e as mulheres individuais, ao viverem em obediência ao uno e único Deus e demonstrarem a unidade com Deus que tal obediência traz, salvaram a vida de multidões, livraram cidades e nações, encorajaram, fortaleceram e abençoaram inúmeras gerações, e mudaram completamente o curso da história humana.
Nós brilhamos porque a glória de Deus ilumina cada um de nós, assim como o sol ilumina a lua.
Todavia, a Bíblia também relata que aqueles que, por meio de sua obediência a Deus, expressaram sua individualidade, individualidade essa que tem origem em Deus e glorifica a Deus, provocaram ciúme e ódio em outras pessoas. Essa foi a experiência do profeta Daniel (ver Daniel 6). Por ter o pensamento profundamente espiritualizado e ser obediente a Deus, “Daniel se distinguiu [dos] presidentes e sátrapas, porque nele havia um espírito excelente”. Sem medo e despojado de ego, Daniel se recusou a reprimir esse espírito excelente, embora o fato de ser tão especial fizesse com que seus inimigos conspirassem para destruí-lo. Com firmeza, Daniel se negou a deixar de estar diariamente em comunhão com o uno e único Deus. Corajosamente, ainda que por apenas 30 dias, ele se negou a ceder ao pecado da idolatria para acalmar a mente mortal, embora isso pudesse ter livrado a Daniel da cova dos leões.
A libertação de Daniel certamente provou que “um com Deus é maioria” e que preservar “um senso firme e científico da união com [nossa] fonte divina” revela o poder que nos defende e nos salva do mal. Essa libertação também provou que o ódio, a inveja e o despotismo não constituem poder algum e que não devemos temê-los nem nos submeter a eles.
Foi o imaculado Jesus que revelou plenamente a unidade inquebrantável do homem com sua fonte divina, o Amor infinito, uma unidade que é comprovadamente inquebrantável, tanto na terra como no céu, uma unidade que o capacitou a individualizar o poder divino. Jesus nos deixou ensinamentos que, quando obedecidos, nos capacitam a fazer o mesmo, por meio da demonstração da nossa própria identidade espiritual como filhos e filhas de Deus.
Jesus foi o exemplo supremo do fato de que “um com Deus”, quando espiritualmente compreendido, “é maioria”. O inimigo mais poderoso do mal é a unidade do homem individual com Deus. E é exatamente por essa razão que a mente carnal, que é “inimizade contra Deus” (Romanos 8:7), tenta, com malícia e astúcia, eliminar da consciência humana o conhecimento de que cada indivíduo tem importância, valor e poder para realizar o bem, e leva as pessoas a acreditar que elas, individualmente, não têm importância, valor nem poder.
Como a mente carnal faz isso?
Ela elabora os argumentos mais sutis, que nos fazem acreditar que é errado desenvolver e expressar nossa individualidade. Por exemplo, a mente carnal argumenta: 1) que a melhor forma de alcançar a unidade, a igualdade, a inclusão e a paz entre os homens é acabar com a diversidade, as qualidades únicas e especiais que temos; ou seja, esconder nossa luz debaixo do alqueire e “ser como os outros”, para que não se sintam “excluídos”; e 2) que é a falta de humildade — o orgulho e o egotismo — o que motiva as pessoas a desejar que seus talentos e realizações sejam honestamente reconhecidos.
O primeiro argumento sugere basicamente que tornar a humanidade homogênea traz unidade, igualdade e paz. Mas a unidade e a verdadeira fraternidade entre os indivíduos e as nações são alcançadas somente na proporção em que a humanidade cresce na compreensão de que há uma Mente única, um único Pai-Mãe de todos, e coloca em prática essa compreensão. Necessitamos nos aprofundar e ir além da superfície da dissensão e confrontar o que verdadeiramente a causa: a crença em mais de uma mente, crença que é idêntica ao antigo pecado da idolatria. Aceitar o desafio de subjugar a mente carnal, com sua obstinação, justificação do ego e amor ao ego, é o que nos capacita a estar em união com a Mente una e única.
Promover a igualdade e a unidade por meio da homogeneidade é se opor à realidade primordial do existir espiritual: a Mente individual e sua manifestação individual única. Temos de estar muito alertas para não aceitar sugestões que parecem ser boas, gentis, amorosas, atenciosas e abrangentes — mas que, na verdade, são superficiais, metafisicamente incorretas, de caráter meramente humano e totalmente contrárias ao Cristo sanador, a Verdade. Em vez disso, elas servem ao pretenso objetivo da mente carnal de exterminar aquilo que a destrói, ou seja, a unidade do indivíduo com o Amor, e, dessa forma, retardam a aniquilação do erro e o progresso da ideia espiritual.
Ironicamente, engajar-se na destruição da individualidade com o objetivo de alcançar a unidade reverteria o desenvolvimento constante que a humanidade tem vivenciado nos milhares de anos desde que Abraão iniciou uma jornada única e deixou a cultura estagnada dos sumérios. A tentativa de reprimir ou destruir a expressão individual e, dessa forma, reverter a jornada da humanidade para fora da ilusão, para sempre estática, de que exista mente na matéria é magnetismo animal.
Em seu artigo “Caminhos que são vãos”, a Sra. Eddy dá a seguinte explicação a respeito do efeito do magnetismo animal, ou hipnotismo: “As vítimas perdem sua individualidade e se prestam a cooperar na execução dos desígnios de seus piores inimigos, até mesmo daqueles que visam a induzir à sua autodestruição” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 211).
Se, por falta de compreensão espiritual e por não estarmos vigilantes, permitimos que nossa individualidade seja roubada, tornamo-nos suscetíveis à influência pessoal, à manipulação e ao despotismo, o que, por sua vez, resulta na crescente incapacidade de ouvir a Deus, em menos inspiração, no desgaste de nossa capacidade de pensar por nós mesmos e na disposição de deixar que os outros pensem por nós.
O magnetismo animal, em seu esforço para destruir a autoridade e o poder de cada um, argumentaria na consciência humana exatamente a favor do oposto da verdade a respeito desse poder. Com ironia derradeira, o magnetismo animal tentaria nos convencer de que um indivíduo tem imenso poder para fazer o mal e, ao mesmo tempo, argumentaria que um indivíduo tem pouco poder para fazer o bem. Ele argumenta por meio do desânimo, sugerindo que a oração do indivíduo a respeito do governo, da igreja, da economia, das condições atmosféricas, da tirania do mundo e do terrorismo, da violência contra as mulheres e dos maus tratos aos animais em todos os aspectos, grandes e pequenos, tem pouco ou nenhum efeito. O magnetismo animal argumentaria até mesmo que alguns são capazes de estar em comunhão com Deus, enquanto outros necessitam conhecer a Deus por meio de intermediários.
Mas não existem intermediários. Nada se interpõe entre a Alma e sua expressão individual. Nada se interpõe entre o Amor e seu amado objeto. Essa unidade sagrada é eternamente sustentada pelo Espírito Santo, a lei do Amor que rege todo relacionamento, nosso vínculo verdadeiro com nosso Criador.
Então, o que dizer do argumento que diz que é por falta de humildade que as pessoas desejam o reconhecimento honesto das suas realizações?
A verdade a respeito da humildade está declarada com notável simplicidade na declaração científica de Jesus: “Eu nada posso fazer de mim mesmo...” (João 5:30). Essa declaração da coexistência de Deus com o homem, na qual o homem nada pode fazer por meio da capacidade pessoal, mas pode fazer todas as coisas por ser a expressão do Ego uno e único, silencia para sempre a mentira de que a humildade exige a destruição da individualidade. A humildade exige somente a supressão e a destruição de um conceito errôneo, do conceito de que o ego seja pessoal, tenha origem na matéria e funcione na matéria.
Uma vez que o Princípio e sua ideia são um, não dois, a glória de Deus é vista por meio de Seu belo reflexo, o homem. Isso fica muito evidente em outra declaração do nosso Mestre: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso pai que está nos céus” (Mateus 5:16).
Isaías declara: “Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor nasce sobre ti” (Isaías 60:1). Nós não resplandecemos por meio de iluminação fosforescente própria. Nós brilhamos porque a glória de Deus ilumina cada um de nós, assim como o sol ilumina a lua, e como esse mesmo sol iluminaria até mesmo um trilhão de luas que se encontrassem em nossos céus.
A crença de que a humildade exige a supressão de nossa luz é um erro que não somente priva o mundo da beleza profunda e inspiradora da expressão individual, mas também de novas soluções para os complexos problemas do mundo. Ceder a esse erro resultaria em mediocridade em todos os campos de atuação e uma perda generalizada de iniciativa e respeito próprio. Por sermos a descendência do Amor, nós não somos igualmente medíocres! Nós somos igualmente excepcionais, porque cada um reflete a glória divina de uma maneira única.
Todavia, esse fato celestial sobre a igualdade e sobre o que Deus nos outorga não é evidente para os sentidos materiais e precisa ser demonstrado na prática e desenvolvido individualmente em nossa experiência humana. Cada um de nós tem a oportunidade e o direito divino de tomar a cruz, deixar de lado a ilusão da personalidade material e emergir de sua obscuridade, mediocridade e estagnação, para a luz da nossa individualidade e destino espirituais. Com paciência, persistência e vigilância, precisamos nos manter conscientes da nossa unidade com Deus. Por meio da espiritualização do pensamento e da prática diária do amor que essa espiritualização nos revela, nossa identidade espiritual única, como o reflexo “do infinito Um”, se torna cada vez mais evidente.
Para mim, o desafio inerente a essa tarefa e a gloriosa promessa que ela inclui nos são apresentados por meio destas palavras da Sra. Eddy: “Viver de maneira a manter a consciência humana em constante relação com o divino, o espiritual e o eterno, é individualizar o poder infinito; e isso é Ciência Cristã” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 160).
