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Original para a Internet

Um Cristianismo sem ambiguidades

DO Arauto da Ciência Cristã. Publicado on-line – 11 de outubro de 2021


O apóstolo Paulo não era homem de fazer concessões. No que dizia respeito à mensagem e aos padrões de Cristo, ele não recuava. Não revisava sua mensagem a fim de agradar à audiência. Suas palavras enérgicas — assim como suas palavras mais ternas — eram concebidas com o intuito de despertar os ouvintes para que mantivessem a própria maneira de viver em harmonia com o Cristo.

E isso não quer dizer que Paulo não tenha tido provações! Várias vezes quase perdeu a vida, e era frequentemente assediado e perseguido por aqueles que resistiam à sua mensagem e até odiavam o que ele dizia. Mas sua fé e, de certa maneira o mais importante, seu amor, permaneceram inabaláveis. Ele pode ter sido resoluto e inflexível, mas sua vida brilhava e irradiava amor.

Sua mensagem alcançou muitos corações. E o poder vivificador de Deus, que mudara o curso da vida de Paulo, também mudou o curso da vida de muitas pessoas. Os gentios convertidos foram introduzidos em uma nova cultura moral, ética e espiritual. Visto que grande parte dessa nova cultura estava em desacordo com a sociedade que os rodeava, era natural que eles se reunissem para se apoiar uns aos outros, a fim de se aprofundar no reino e no propósito do Espírito, e celebrar sua redenção do pecado.

Tecnologicamente falando, o mundo de hoje é muitíssimo diferente daquele em que Paulo viveu; contudo, existe uma surpreendente relação entre as forças mentais que dominavam a sociedade da época e que dominam a sociedade atual. O paganismo, a superstição, o fundamentalismo e o hedonismo de hoje não são tão diferentes dos seus congêneres do primeiro século. Até mesmo uma rápida pesquisa na Internet — nosso mais moderno meio de comunicação, no século XXI — revela quão difundidas são essas velhas crenças e práticas. Hoje em dia, os cristãos ainda precisam encontrar seu caminho através desses icebergs que virariam sua fé de pernas para o ar.

Muitas pessoas lamentam o declínio moral evidente em todo o mundo, e o preço que isso cobra em termos de vidas humanas desperdiçadas. Legisladores, assistentes sociais, educadores, pais e autoridades eclesiásticas estão ativamente em busca de soluções. Alguns estão levantando esta questão: qual é a resposta do Cristianismo para o declínio moral? Quanto mais estudamos a Bíblia e os escritos de Mary Baker Eddy, mais reconhecemos que a melhor resposta seria: o que precisamos é de um Cristianismo sem ambiguidades.

O que significa isso?

Paulo nos dá uma pista em sua carta aos Filipenses: “Para mim, o viver é Cristo…” (Filipenses 1:21). O estudioso inglês J. B. Lightfoot interpreta as palavras de Paulo desta maneira: “ ‘Para mim’, seja o que for para os outros: … ‘a vida é Cristo’. ‘Eu vivo somente para servi-Lo, somente para comungar com Ele; não tenho nenhuma outra concepção de vida a não ser a dEle’ ” (St. Paul’s Epistle to the Philippians [Epístola de S. Paulo aos Filipenses], Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1987, p. 92). A questão para o cristão de hoje, como era então, é: posso sinceramente repetir as palavras de Paulo?

Essa total dedicação ao Cristo foi notável não só entre os primeiros cristãos, mas também entre os alunos da Sra. Eddy, ao trabalhar para “...restabelecer o Cristianismo dos primeiros tempos e seu elemento de cura, que se havia perdido” (Manual da Igreja, p. 17). Cristo Jesus ensinou a seus discípulos: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte…” (Mateus 5:14). Seus verdadeiros seguidores não se voltavam para o Cristo, a Verdade, apenas quando levados pela necessidade. O Cristo era a vida deles, definia seus motivos e propósitos, animava-os dia após dia; e as obras do Cristo, a cura e a redenção, brilhavam no mundo. Esses discípulos davam testemunho do fato de que Cristo Jesus dera sua vida humana para que Deus, a própria Vida divina, fosse revelado à humanidade. O sacrifício sem paralelos do Mestre, seu amor sem ambiguidades, era para eles a força motriz e transformadora. Eles simplesmente não podiam deixar de se dedicar a uma vida de amor desprendido.

Aqui está outra visão a respeito da natureza “sem ambiguidades” do Cristianismo. É um relato de Eusébio, o historiador do Cristianismo. Ao visitar uma igreja perto de Éfeso, o apóstolo João encontrou um jovem que ele considerou particularmente promissor e, portanto, pediu a um dos anciãos da igreja que cuidasse dele com atenção. Isso foi feito durante algum tempo.

No entanto, à medida que o rapaz crescia, esse cuidado foi sendo relaxado. Depois de algum tempo, conforme Eusébio relata, o rapaz “foi tristemente enganado por outros rapazes da sua idade, os quais estavam ociosos, vivendo dissolutamente, em más ações. Primeiro, eles o levaram para se divertir em locais caros; depois, passaram a levá-lo junto quando saíam à noite para cometer roubos; em seguida, passaram a influenciá-lo para que participasse em crimes ainda maiores. Pouco a pouco, foi totalmente enredado por eles; e, como um cavalo forte e teimoso, ele se desviou do caminho reto e, levando o sabor do sucesso entre os dentes, passou a correr direto para o precipício, tanto mais violentamente devido à sua imensa vitalidade. Renunciando completamente à salvação de Deus, ele já não se contentava com pequenos delitos mas, como sua vida já estava em ruínas, decidiu cometer um grande crime e seguir o mesmo destino que os outros. Ele juntou esses mesmos jovens renegados e formou uma gangue de malfeitores na qual dominava sobre todos os demais, e os superava em violência, crueldade e sede de sangue”.

Foi nessa altura que João regressou, perguntou por esse jovem e foi-lhe relatado o que havia acontecido. Muito perturbado, João foi imediatamente ter com ele. Eusébio conta: “Quando João chegou ao local, e foi apanhado pelo grupo de sentinelas dos bandidos, não fez nenhuma tentativa de fuga nem pediu clemência, mas gritou: ‘Foi para isto que vim: levem-me ao seu líder’… quando João se aproximou, ele [o jovem] o reconheceu, e cheio de vergonha, virou-se para fugir. Mas João correu atrás dele o mais rápido que pôde, esquecido de que já estava bem entrado em anos, e gritou: ‘Por que foges de mim, filho…? Tu ainda tens esperança na vida. Darei contas a Cristo por ti. Se necessário, sofrerei de bom grado a morte por ti, assim como o Senhor sofreu a morte por nós; para te salvar, eu darei a minha própria vida. Para! Acredita! Cristo me enviou’.

“Quando ouviu isso, o jovem parou e ficou com os olhos fixos no chão; depois jogou suas armas ao chão e começou a tremer e a chorar amargamente. … Em seguida, ele [João] trouxe-o de volta à igreja, intercedeu por ele com muitas orações, compartilhou com ele a provação do jejum contínuo, … e dizem-nos que não mais o deixou, até tê-lo restituído à Igreja. O jovem deu assim um exemplo perfeito de verdadeiro arrependimento e uma prova perfeita de regeneração, o troféu de uma ressurreição visível” (The History of the Church from Christ to Constantine [A História da Igreja, de Cristo até Constantino], England: Dorset Press, 1984, pp. 129–131).

João ouvira a parábola de Jesus sobre a ovelha perdida (ver Lucas 15:3–7). Se uma ovelha entre cem se perdesse, não iria o pastor atrás dessa ovelha perdida até encontrá-la? O mundo precisa mais desses pastores, precisa de mais cristãos dispostos a dar tudo por amor aos outros. Mas muitos se perguntam: onde encontrar o tempo para fazer isso? E quanto às minhas outras obrigações? Como conseguir o efeito que João conseguiu? Essas perguntas não são levantadas sem pensar. Enfrentemos, porém, o fato de que João não tinha nada mais premente, nada mais urgente para fazer, do que cumprir os dois mandamentos sobre os quais está escrito: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”: amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento, e amar o próximo como a si mesmo (ver Mateus 22:35–40). É evidente que “todo” nesses mandamentos significava exatamente “todo” para João. Aparentemente ele também sabia que Deus estava à altura da necessidade.

Algumas pessoas tentam atenuar as exigências morais e espirituais do Cristianismo — receosas, talvez, de que tais exigências possam afastar os outros ou venham a expor a sua própria resistência a seguir os padrões que a vida cristã exige. Não existe tal imprecisão no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras. Por exemplo, a Sra. Eddy escreve: “O mandamento: ‘Não adulterarás’, não é menos imperativo que este: ‘Não matarás’ ” (p. 56). Mais adiante, no mesmo livro ela escreve: “A honestidade é poder espiritual. A desonestidade é fraqueza humana que fica desprovida da ajuda divina” (p. 453). Não há aqui nenhuma ambiguidade. O verdadeiro Cristianismo está para esta época como uma estrela guia, dando a orientação espiritual necessária para evitar o sofrimento que vem do pecado — a orientação que capacita muitas pessoas a encontrar o caminho de volta à saúde e ao bem. Como poderíamos fazer esse percurso, se nunca tivéssemos a certeza absoluta de onde estava a nossa estrela guia?

A disciplina moral é uma manifestação do Amor divino. Os Dez Mandamentos, o Sermão do Monte, e os ensinamentos da Ciência Cristã, os quais englobam essa instrução bíblica, revelam o amor de Deus. A humanidade necessita dessa orientação isenta de ambiguidades. A ressurreição de Jesus revela o poder moral e espiritual dessa orientação; e hoje, a prática fiel dos preceitos bíblicos, juntamente com a compreensão da lei divina que está na base desses preceitos, continua a ressuscitar a vida que jaz no pecado, livrando do sofrimento que o pecado traz. À medida que reconhecemos o propósito do Amor que está por trás da lei moral, reconhecemos os padrões imutáveis da vida cristã. Isso não nos torna rígidos ou propensos a condenar, nem nos leva a nos considerarmos mais santos do que os outros. Nós simplesmente refletimos em maior grau o poder sanador e ressuscitador do Cristo, a Verdade. Expressamos o amor que poupa muito sofrimento à humanidade.

Como podemos alcançar esse ponto de elevação espiritual? Teria o significado da vida de Jesus realmente tocado nosso coração? Seu exemplo está vivo em nós? Estamos sendo batizados e despertados para a vida em Deus e de Deus? Teriam a potência e o propósito do Amor divino, revelados a esta época pela Ciência Cristã, começado a calar fundo em nós? Será que estão calando em nós com força suficiente para que estejamos dispostos a deixar tudo pelo Cristo, e começar uma nova vida com o Cristo ao leme? Aqui começamos a compreender a natureza da batalha a que o Cristianismo dá início. É a luta travada entre o nosso próprio senso de vida e a vida a que o Cristo nos conduz. Quando estamos prontos a renunciar a um senso material de identidade, com seus desejos e objetivos e o senso de certo e errado, e a ceder à realidade do existir do homem no Espírito, só então começa nossa transformação espiritual.

A Sra. Eddy escreve: “A renúncia ao ego, a tudo o que constitui um homem material, assim chamado, e o reconhecimento e a realização de sua identidade espiritual como filho de Deus, é a Ciência, que abre as próprias comportas do céu; de onde o bem flui por todos os canais do existir, limpando os mortais de toda impureza, destruindo todo sofrimento e demonstrando a verdadeira imagem e semelhança” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 185). À medida que isso acontece, os cristãos descobrem que têm a estatura moral e espiritual necessária para curar e redimir a humanidade.

Em vista desses fatos, o leitor já percebeu que, hoje em dia, a ênfase que nossa cultura dá à autorrealização é realmente anticristã? O foco intenso na autorrealização é um dos produtos inescrupulosos do materialismo e enfraquece o senso moral das pessoas. São sacrificados o cultivo e a admiração pelo desprendimento. Nessa atmosfera, a carreira vem antes da família, fechar o negócio vem antes da ética, fazer as coisas “à minha maneira” vem antes da cooperação ou consideração pelos outros, a indulgência sexual vem antes da moralidade, e a condenação vem em lugar da cura e da reforma. Assim, o cristão é confrontado com questões, tais como: quando coloco acima de tudo minhas necessidades e desejos pessoais, minha carreira, minha própria realização, minha vontade, como é que poderei cumprir os dois mandamentos citados por Jesus? Poderia eu ter o mesmo êxito que João teve ao resgatar o outro do pecado?

Em Ciência e Saúde e em seus outros escritos, a Sra. Eddy menciona os valores morais que são necessários para o progresso e a prática da cura cristã. Ela escreve sobre as virtudes cristãs da imolação do ego, da renúncia ao ego, do sacrifício do ego, do desprendimento do ego, da negação do ego, da consagração de si mesmo. Expõe também a tendência pecaminosa de satisfazer o ego, amar o ego, obedecer à vontade do ego, preocupar-se com o ego, engrandecê-lo e justificá-lo. Em muitos aspectos, esses termos mostram até que ponto muitos segmentos da sociedade se recusam a abraçar o carácter essencial da vida cristã.

São a consciência e a vivência do poder e do amor divinos de Deus que nos capacitam a seguirmos uma vida diferente, uma vida verdadeiramente satisfatória. Um homem que Jesus curou de cegueira declarou: “…uma coisa sei: eu era cego e agora vejo” (João 9:25). O cristão reafirma as suas palavras, havendo adquirido uma nova visão a respeito do existir, uma visão daquilo que a vida de Jesus continua a dizer à humanidade a respeito da vida, a respeito de Deus, de Seus filhos, e de Sua vontade. A oração do cristão deixa a mera súplica e esperança e passa para a afirmação, ou seja, a afirmação de que só Deus, o Espírito, é a Vida, o único Criador, o Amor supremo, e que o homem é Sua semelhança espiritual e eterna. O Amor divino se reflete no existir mais íntimo do cristão e se expressa em cada pensamento e ação. Esse ânimo divino é muito necessário nos dias de hoje.

Alguém dirá: “Mas eu não sinto isso. Como eu gostaria de sentir! Mas não sinto”. Não se desespere. Se realmente desejar alcançar esse estado de consciência, certamente o alcançará. Podemos começar por renunciar às imposições que a materialidade faz sobre nosso tempo e nossos pensamentos. Começaremos a encontrar cada vez mais ocasiões para nos submergirmos no Espírito, para sentirmos profundamente, na oração, a infinitude do Espírito e a pureza inata do homem como a imagem do Espírito. Se, como Naamã, precisarmos nos lavar sete vezes no rio, na consciência da Vida, nós o faremos (ver 2 Reis 5:1–15). Podemos até fazer isso setenta vezes por dia. A pureza é a chave para o crescimento. A pureza moral. Um amor puro. Uma pura devoção ao bem, ao desprendimento do ego, à honestidade, à espiritualidade. Isso não está além de nossas possibilidades, porque a pureza caracteriza o nosso verdadeiro existir.

O amor ao ego nos enterra na matéria e no chamado conforto material. Aqui ou no além, esse é um túmulo que teremos de abandonar. Estava nos planos de João passar dias trabalhando com aquele jovem? Contudo, ele deixou tudo pelo Cristo. Outras considerações foram postas de lado, pois o Amor o levou a fazer tudo o que podia para salvar uma ovelha perdida. Ele estava disposto a dar sua própria vida por amor ao outro.

Estava nos planos de Paulo passar três anos no deserto, comungando com Deus, para seguir em frente a partir da estrada de Damasco? Sabemos que não. No entanto, a glória de Deus, que a princípio o cegara, tornou-se a luz condutora de sua vida e ele permaneceu fiel a essa luz.

Quanto mais tempo os discípulos passaram com Jesus, mais eles cresceram em força moral. Quanto mais nós nos embebemos do espírito do Cristo revelado na Bíblia e em Ciência e Saúde, mais cresce nossa força moral. A nossa vida se torna mais pura e arde com a chama mais pura da Verdade. Os afetos desprendidos florescem, e o fruto é uma maior capacidade de curar e de ressuscitar os mortos em pecado. O Amor divino não está consciente do “ego”. O coração que está em sintonia com o Amor bate fortemente em favor da humanidade. Quando Jesus via as multidões, sentia compaixão por elas.

Um Cristianismo sem ambiguidades defende firmemente a adoração do Espírito único, no pensamento e na vida. Defende a dedicação total a manter a visão do homem como Deus o criou, em toda a sua pureza e glória — e a fidelidade diária a esse ideal. Significa amar o próximo como a si mesmo. Essa é a força moral que a Ciência Cristã traz ao mundo de hoje.

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