Intuição é um atributo divino. Ê o oposto daquele falso sentido de instinto que é de natureza animal e completamente destituído de inteligência. Intuição é definido por um dicionário como “saber, sem necessidade da intervenção do raciocínio; ... percepção. ... Apreensão imediata.” Intuição espiritual é um grande bem e uma aliada da arte preventiva da Christian ScienceNome dado por Mary Baker Eddy à sua descoberta (pronunciado: Crístien Çá'iens). A tradução literal destas palavras é: Ciência Cristã.. Em nenhum outro trecho da Bíblia é isto evidenciado de maneira mais clara do que na história de Noé. A intuição possibilitou-o a prever e pressentir a calamidade que estava para cair sôbre a terra, e, portanto, tomar providências para a sua salvação e a de sua família. Lemos (Heb. 11:7): “Noé ... temeu, e, para salvação da sua família, fabricou a arca.” Para os sentidos humanos, a intuição poderá algumas vezes tomar a forma de temor. Ela assim aparece muitas vezes na Bíblia. Quase sempre que um anjo se apresentava, os homens sentiam temor! Mas o anjo sempre tinha para êles uma mensagem; aliás, o anjo era a própria mensagem. José foi prevenido, em sonho, do plano perverso de Herodes. Ê provável que tenha lhe causado medo, o que o impeliu a usar de sabedoria, expressa na fuga para o Egito com a criança e a mãe.
Quando estivermos fazendo um novo plano, que seja para o nosso progresso, ou tomando uma decisão prudente, quão necessário se torna esconder a nossa criança do olhar importuno da mente mortal! No caso de Noé, a intuição veio-lhe com extraordinária sabedoria e previsão, inspirando-o a construir uma embarcação, ou arca, para preservar a vida. O mais interessante é que em todo o seu empreendimento Noé não fez nenhum plano do ponto de vista humano. Tudo lhe veio do alto. Era sempre a voz de Deus, ou intuição divina, que lhe falava e o orientava. Ê realmente extraordinário o fato de que em tôda a história o próprio Noé nunca fala. Ê sempre Deus quem se faz ouvir. Quão diferente da maneira de orar que algumas pessoas empregam! Em longos monólogos, em que às vezes mal ouvem as respostas de Deus, chegam a Lhe sugerir como deverão ser atendidos os respectivos desejos. Isso não é a verdadeira comunhão. Noé, evidentemente, sabia ouvir. Ouvir o que? A voz da Verdade em sua própria consciência. A construção da arca deve ter sido muito ridicularizada e observada pelos vizinhos e amigos de Noé, mas nada o deteve. Êle confiou em sua intuição. Eis uma lição para nós: como devemos confiar em nossas intuições — não as ignorar jamais e sim prestar-lhes atenção e obediência.
Lembro-me de um dos nossos conferencistas me ter contado como, ao fazer uma longa viagem para atender a um compromisso, sentiu-se de repente muito apreensivo, temendo um acidente. Percebeu que se tratava de um aviso, intuitivamente discernido, para que destruísse o receio. Trabalhou e orou imediatamente, dominando a crença e afirmando a presença e onipotência de Deus, sabedoria divina, para salvar e proteger. Ao terminar a viagem, soube que um horrível acidente havia sido milagrosamente pressentido e evitado.
Passemos agora às definições de “Noé” e de “arca” no Glossário do livro-texto da Christian Science, “Science and Health with Key to the Scriptures” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras), por Mary Baker Eddy: “Noé” é definido da seguinte forma (pág. 592): “Um mortal corpóreo; o conhecimento da irrealidade das coisas materiais e da imortalidade de tudo que é espiritual.” Esta interessante definição nos mostra que não foi o esforço de preservar a humanidade a base da demonstração de Noé e sim a compreensão que teve da sua imortalidade, compreensão esta que foi manifestada, de maneira humana, na sua salvação e a de sua família. A definição de “arca” é a seguinte (pág. 581): “Segurança; a idéia, ou o reflexo, da Verdade, provadamente tão imortal quanto o seu Princípio; a compreensão do Espírito, destruindo a crença na matéria. Deus e o homem, coexistentes e eternos; a Ciência mostrando que as realidades espirituais de todas as coisas são criadas por Êle e existem para sempre. A arca indica a tentação vencida e seguida de enaltecimento.” Eis aqui salientada a mesma lógica. Segurança, o que a arca representa, é o resultado da compreensão do Espírito, destruindo a crença na matéria. Lemos ainda um pensamento muito elucidativo nesta passagem: “A Ciência mostrando que as realidades espirituais de tôdas as coisas são criadas por Êle e existem para sempre.” Não será esta uma referência ao fato de ter Noé levado consigo na arca espécimens de tôda a carne, animais, rezes, aves etc., como narra a história? O nosso livro-texto nos diz que o homem inclui tôdas as idéias corretas. A idéia correta de tôdas as criaturas viventes estava incluída na consciência de Noé, e foi, portanto, também salva. Em outras palavras, o conceito espiritual que dêles tinha era eterno e era manifestado.
No sétimo capítulo de Génesis, lemos a interessante declaração de que “cresceram as águas, e levantaram a arca, e ela se elevou sobre a terra.” Que conforto para todos os Cientistas Cristãos! Quanto mais altas as ondas do êrro, quanto mais dura a provação, mais seremos elevados; e mais certa será a nossa segurança, se estivermos na arca da compreensão do Espírito e da imortalidade, bem como da irrealidade da matería. Quando essas provas parecerem vir, não nos amedrontemos, não nos desesperemos e não percamos a coragem. Possuímos uma arca hoje em dia graças à nossa extraordinária Ciência. Estaremos seguros, se nos mantivermos nesta arca e persistirmos na realidade da nossa imortalidade presente e do nosso ser espiritual, incorpóreo.
Lembremos que a prova não foi logo vencida no caso de Noé. Cento e cincoenta dias significam um longo período de provação, durante o qual houve necessidade de confiar sem ter nenhuma evidência, crer sem nada ver, o que Jesus declarou ser uma experiência abençoada. Noé deve ter ansiado por um sinal, que finalmente lhe foi dado. Êle soltou uma pomba para certificar-se se as águas haviam baixado. A pomba, porém, não achou repouso para a planta do seu pé e voltou para a arca. Após sete dias, Noé soltou-a outra vez, e ela voltou com uma folha de oliveira no bico, uma boa promessa; e, sete dias mais tarde, quando foi novamente solta, não mais regressou. A palavra pomba é definida no Glossário do “Science and Health” da seguinte maneira (pág. 584): “Um símbolo da Ciência divina; pureza e paz; esperança e fé.” Por que é a pomba considerada um símbolo da Ciência divina? Será porque as qualidades de meiguice, paz e conforto são justamente o que a Ciência divina nos traz? Haverá talvez uma conexão entre o fato da pomba não ter achado repouso para a planta do seu pé e o fato da Ciência divina não encontrar repouso, apoio, na terra, ou seja, na crença material? A pomba de Noé, em todo caso, simboliza de fato fé e esperança.
Chegamos agora à parte mais confortadora e iluminadora de tôda a narrativa, a que se passou quando finalmente saíram da arca, e pisaram a terra que já estava seca, como a volta da pomba anunciara. Assim que saiu da arca, a primeira ação de Noé foi a de edificar um altar ao Senhor e render-Lhe homenagem e expressar-Lhe a sua gratidão. Isto o preparou para ouvir novamente a voz de Deus, que durante os longos meses de provação estivera silenciosa. Uma vez mais, a sua intuição espiritual, ou percepção, fê-lo reconhecer acertadamente a voz de Deus, que lhe fez preciosas promessas, ou profecias, as quais se aplicariam a todos os tempos e gerações futuras.
Deus fez um pacto com Noé; e qual foi o pacto? Foi a promessa solene de que as águas não se tornariam mais em dilúvio para destruir tôda a carne (vida Gen. 9, vers. 8–17). Como atravez dos séculos o conceito do Cristo tem prevalecido, fica provado que a suposta destruição cede à preservação, à transformação, à salvação. Um dos versículos acima indicados declara que o sinal do pacto que Deus fez seria um arco posto nas nuvens, em outras palavras um arco-iris.
Haverá quem não goste de um arco-iris e da sensação de promessa que êle traz? Além disso, há uma grande lição a ser aprendida nas palavras de Génesis (9:14): “E acontecerá que, quando eu trouxer nuvens sôbre a terra, aparecerá o arco nas nuvens.” Tendes um problema que parece insistente, um obstáculo a ser vencido, ou um pesar que parece nublar vossa alegria? Procurai o arco nas nuvens. Êle lá está, e transformará e embelezará tôda experiência da vida; e vos assegurará a presença de Deus. Deus é onipresença, e, sempre que nos lembrarmos disso, saberemos que não pode haver de fato um problema, uma falta, ou um pesar, porque a onipresença de Deus os exclui, os torna impossível. Ah, sim, parecem existir, mas da mesma maneira a terra nos parece imóvel e não o é, portanto, ao negarmos a aparência, persistentemente afirmarmos a realidade, poderemos esperar com confiança pela demonstração.
Perguntemos agora a nós mesmos: “Que vem a ser o dilúvio atualmente? Trata-se de um dilúvio mental, um dilúvio de propaganda e de sugestão mental agressiva contra a idéia espiritual, contra a paz, e contra a fraternidade. Toma a forma de apatia e de indiferença à felicidade das criaturas humanas em geral e à Causa da Christian Science em particular. Sugere temor e frustração em todos os sentidos. Sugere que já é passado o tempo de organização, porque bem sabe que sem a Igreja fundada pela nossa Líder com o seu Manual a nossa organização se perderia no caos.
Temos, porém, a promessa de que êste dilúvio mental não causará destruição e o arco está nas nuvens, Ê necessário que ao mesmo tempo conservemos a nossa consciência imune a tais sugestões, firmes em nossa arca da compreensão espiritual, de portas fechadas. Diz-se de Noé que o Senhor o fechou por fora. Deixai que o Senhor feche o nosso pensamento aos rumores e às sugestões traiçoeiras para que possa ser aberto para o anjo de Sua presença, para que possa se abrir para a realidade e não para a fábula, para a verdade de que Deus, o bem, é Tudo-em-tudo e que, portanto, não existe o mal do qual precisamos ser protegidos. Jamais houve época em que o mundo mais necessitasse de conforto e de encorajamento, e, portanto, estivesse mais preparado para o ministério e as consolações da Ciência divina. Subindo a montanha do Senhor, a consciência da irrealidade do mal, poderemos construir uma arca, não somente para a salvação da família, mas para a salvação do nosso universo.
