A sutileza com que o tempo passa é algo que nos surpreende a todos. É comum ouvirmos êste comentário: “Parece que foi ontem que isso aconteceu,” para depois constatarmos já terem decorrido meses ou anos desde que se deu o fato. As ferias passam tão rápidas! Um programa predileto de rádio ou televisão termina cedo demais! As crianças crescem depressa demais! Eis conceitos típicos que tentam restringir nossa felicidade associando nossas alegrias ao conceito material de tempo limitado.
Em tôda a Bíblia há referências sôbre o assunto dia, do primeiro capítulo de Gênesis, que nos conta que Deus criou o dia, ao Apocalipse, onde João nos mostra que no universo verdadeiro não encontraremos noite.
No Gênesis (1:3–5) lemos: “Disse Deus: Haja luz: e houve luz. E viu Deus que era boa a luz: e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia.” A relação entre o conceito de luz — dia — e a bondade é confirmada em várias passagens da Bíblia. Para manifestarmos a bondade de Deus, precisamos viver à luz de Seu dia único e eterno.
Temos por hábito basear nosso raciocínio no que vemos e experimentamos materialmente cada dia. Analisamo-nos quando despertamos de manhã. Calculamos o quanto nos sentimos descansados pelo número de horas que passamos na inconsciência. Ao fim do dia, julgamos o grau do nosso cansaço pela atividade física e mental exercida durante as horas de consciência. É um hábito que decorre da educação errada, material, que aceitamos como parte necessária da nossa existência material. A educação errada derivada do que vemos e parecemos experimentar é como a concepção errada que os antigos tinham do mundo. Quando não havia ainda sido provado tratar-se de um globo, êles pensavam que o mundo era plano, pois era assim que o viam. Éste é um dos muitos exemplos que nos mostram a razão porque não devemos aceitar como real, como fato, qualquer coisa da qual tomamos conhecimento por meio dos sentidos materiais. A concepção de dia, com horas contadas, fatigante, é errada e não tem relação com o verdadeiro dia de Deus, ilimitado e sem fadigas.
O caso deveras interessante de uma inglesa que não mediu o tempo é relatado no livro-texto da Christian Science, Science and Health with Key to the Scriptures (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras) por Mary Baker Eddy. À página 245, conta-nos a nossa Líder a história desta mulher: “Tendo sofrido uma decepção amorosa em sua juventude, perdeu o juízo e tôda noção de tempo. Supondo estar vivendo ainda no momento que a separara daquêle a quem amava, não contando os anos que se passavam, ficava diàriamente à janela à sua espera. Nêsse estado mental permaneceu jovem. Não tendo consciência do tempo, não envelheceu literalmente. Viajantes americanos viram-na quando ela já tinha setenta e quatro anos e pensaram que fôsse uma jovem. Não havia em seu rosto marcas de contrariedade, não tinha ela rugas nem cabelos brancos; o viço da mocidade não deixara a sua fronte e as suas faces. Pessoas que não conheciam a sua história, às quais pedia-se que calculassem a sua idade, davam-lhe menos de vinte anos.”
Para aquêles que acreditam que causa e efeito estão em um conceito material de corpo, o caso acima narrado parece extraordinário. Conservando-se jovem por não reconhecer a passagem do tempo mortal, aquela mulher conseguira um feito tido como impossível. Ela não acompanhara o decorrer dos dias transformando-se em anos, ou a sugestão sutil de que devido aos seus setenta e quatro anos precisaria de óculos, ou pudesse ficar surda. Inconscientemente ela excluira êsses erros, concentrando-se ilògicamente na volta de um ente querido. Mas saber que tôda causa e efeito estão em Deus e que, sendo idéias de Deus, refletimos a Mente infinita é estar devidamente preparado para provar o nosso domínio sôbre o tempo de maneira lógica e científica.
O material não pode jamais afetar o espiritual. Tempo é uma das falsas noções que são eliminadas ao adquerirmos conhecimento do nosso ser e existência espirituais. Esta existência é inteiramente separada do sonho material em que o homem mortal se encontra. Quando compreendemos a existência imortal, o efeito da passagem do tempo não nos afeta.
João, o amado discípulo do Mestre, encontrava-se exilado na ilha de Patmos. Foi lá que escreveu o livro do Apocalipse, contendo a realidade do ser como lhe fôra revelada. João lá estava em uma ilha material, no entanto podia ver “um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e já não havia mar” (Apocalipse 21:1). Lemos adiante (22:5): “E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada, nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumia.” Onde quer que estejamos — em casa, no escritório, na igreja —é preciso compreender que nossa presente existência nêste novo reino é livre das limitações do tempo.
Não são meios materiais que nos levam ao novo céu e à nova terra, mas temos de alcançá-los graças à nossa maior compreensão do que é a realidade. Tudo é de fato um estado de consciência. No dia de Deus, dia de compreensão, vemo-nos como a verdadeira imagem e semelhança de Deus, livres de influências materiais; não temos necessidade de relógios, nem calendários, porque não há rotações do globo a registrar. Em nosso verdadeiro ser, o estado de compreensão espiritual é perpétuo. O homem jamais deixa a existência espiritual. Chegamos ao novo céu e à nova terra pela compreensão obtida no estudo sincero e o conseqüente despertar para o fato de que já estamos nêste reino verdadeiro.
Cristo Jesus despertou a humanidade para a existente realidade da perfeição constante, e muitos foram instantâneamente curados. O Mestre destruiu o êrro do tempo mortal juntamente com o êrro de doença. O tempo nunca é um fator nas curas. Lemos que aquêles que foram comunicar a Jesus que o seu amigo Lázaro estava enfermo apressaram-se em lhe levar a notícia, mas Jesus “ficou ainda dois dias no lugar onde estava” (João 11:6). Depois, então, seguiu para ver o seu amigo Lázaro e ressuscitou-o. Não houve frustração causada pela sugestão de que já havia passado muito tempo. Jesus provou que tempo não impede a manifestação da perfeição, e demonstrou a imediata presença e totalidade de Deus.
O articulista, quando menino, em uma fazenda, passou por uma experiência desagradável, que lhe afetou os dedos. O carinhoso médico do local, que lhe enfaixou a mão, declarou que a circulação fôra prejudicada e iria ser difícil conservar os dedos aquecidos quando fizesse frio. Dessa maneira, tanto o acidente como a sutil sugestão foram aceitas como reais. Resultado: foi preciso, durante vinte anos, cuidado especial para conservar os dedos aquecidos. Os dias e os anos que se passaram, as numerosas rotações do globo, não puderam corrigir o mal. Tudo se normalizou, no entanto, graças à Christian Science, quando compreendeu a condição espiritual perfeita do homem: que o homem não pode ser afetado por crenças materiais de acidentes.
Mrs. Eddy nos dá a seguinte definição de “dia” à página 584 do Science and Health: “A irradiação da Vida; a luz, a idéia espiritual da Verdade e do Amor.” Continua: “ ‘E foi a tarde e a manhã o dia primeiro.’ (Gênesis 1:5.) Os objetos do tempo e dos sentidos desaparecem sob a iluminação da compreensão espiritual, e a Mente avalia o tempo de acôrdo com o bem que vai se desdobrando. Êste desdobrar é o dia de Deus, e ‘ali não haverá mais noite’.”
