“Excursões ao sertão são o máximo”, pensou Catarina, já cansada, “mas podem ser fatigantes também!” Ela e sua amiga Janete estavam pela terceira vez carregando, naquele dia, sua canoa nos ombros, para alcançarem outro trecho navegável de rio.
“Quase dois quilômetros desta vez”, resmungou Janete, “e depois tudo de volta para apanhar os mantimentos”.
Aparentemente a excursão não havia sido bem planejada. As bagagens e os mantimentos estavam mal organizados, contendo pesadas latas de comida, que eram volumosas e difíceis de carregar. Aquela parte da rota, em que tinham de carregar as pesadas canoas, por trilhas tortuosas, era penosa e cansativa. Aqui se encontravam elas há três dias nas matas canadenses, — um grupo cansado e desanimado. E Catarina tinha ainda essa enjoada dor de estômago que não queria passar.
No meio da noite, ela acordou sobressaltada. A dor enjoada parecia dar nós no estômago deixando-a quase sem ar. Ela puxou a ponta de seu saco de dormir mais junto do pescoço para proteger-se do ar gelado. Através de uma das aberturas da barraca ela mal podia divisar a margem do lago — frio, silencioso e proibitivo. Catarina estremeceu. Ela não queria acordar as outras companheiras. Suas amigas se preocupariam com ela e insistiriam para que tomasse algum remédio. Provàvelmente não havia outro Cientista Cristão a menos de mil quilômetros dali, e mesmo se houvesse, não havia meios para entrar em contacto.
“Desta vez estou por conta própria”, pensou. “Tenho que resolver isto sòzinha.”
Mas Catarina não estava realmente só. Deus enche todo o espaço, e o homem nunca pode ir além de Seu todo. O Amor divino é onipresente — está além da estrêla mais distante ou do mais profundo dos oceanos, e ainda assim, está sempre onde nos encontramos. A distância não apresenta nenhum obstáculo à presença e ao poder da Vida, pois o Espírito, a Mente divina, é infinito. Mrs. Eddy escreve em Ciência e Saúde (p. 559): “O «cicio tranqüilo e suave» do pensamento científico estende-se sôbre continentes e oceanos, até às extremidades mais remotas do globo. A voz inaudível da Verdade é para a mente humana como quando «ruge o leão». É ouvida no deserto e nos lugares tenebrosos do medo.”
Há uma espécie de campo, selva ou deserto, que não é físico, mas mental. É uma crença de desamparo e dúvida, um falso mêdo de que estejamos fora do alcance do amor de Deus e longe de Seus cuidados. A Ciência Cristã nos ensina que podemos vencer tais pensamentos de dor e temor. Podemos sentir a presença de Deus com muito mais clareza e eliminar o mêdo, quando nos volvemos a Deus com confiança. Descobrimos então, que ali mesmo onde a solidão e a dúvida parecem estar, há tesouros da Verdade para nos abençoar e curar. Em Ciência e Saúde (p. 546) Mrs. Eddy escreve: “As grandes verdades espirituais do ser, como raios de luz, brilham nas trevas, embora as trevas, por não as compreenderem, talvez lhes neguem realidade.” E o Salmista escreveu: “Se eu digo: As trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma cousa” (Salmos 139:11, 12).
Catarina estava vendo que o mais difícil era controlar seu pensamento. Quanto mais tentava firmar seu pensamento na Verdade, mais alto e mais ràpidamente o êrro gritava. “Se eu apenas pudesse vencer êsse mêdo”, pensou. “Mas, como é que se faz para parar de sentir mêdo?” Ela tentou lembrar-se de algumas afirmações da Ciência Cristã. “Eu sou uma filha perfeita de Deus”, pensou. “Se afirmar isso com bastante insistência, e fechar meu pensamento para qualquer outra coisa, não sobrará lugar para o mêdo.”
“Mas, e se não fôr verdade?” Novamente falava baixinho aquela dúvida, tentando penetrar em seu pensamento, mesmo antes que ela começasse a afirmar a verdade. Catarina sabia que muitas vêzes temos que responder categòricamente ao êrro. Ela murmurou enèrgicamente: “Eu sei que é verdade porque eu já o comprovei. Havia aquelas dores de ouvido; e aquela vez que queimei a mão; e aquela ocasião quando parecia que eu estava com escarlatina. Eu o comprovei com muitas curas.”
“Eu sou uma filha perfeita de Deus”, Catarina repetiu refletidamente várias vêzes. Pouco a pouco foi se tornando mais fácil saber apenas isso. Gradativamente êsse pensamento proveniente do Cristo foi se firmando, expandiu-se e encheu sua consciência.
“Essa é a minha resposta,” pensou. “Essa é a verdadeira demonstração — superar o mêdo e a dúvida e as crenças errôneas em nosso próprio pensamento. E um único pensamento correto é suficiente, se realmente fizermos uso dêle. Não tenho mais mêdo e sei que tudo dará certo. Isso deve ser o que minha professôra da Escola Dominical quer dizer, quando diz que a cura ocorre no pensamento. Eu jamais havia entendido isso antes.”
A dor estava desaparecendo, e Catarina começou a ficar sonolenta e livre da tensão. Ela lembrou-se de umas frases de um dos poemas de Mrs. Eddy (Poems — Poemas, p. 4):
“Aqui está perto a habitação de Deus,
Que a todos envolve nos braços Seus.”
Que pensamento reconfortante! Sabendo isso podemos enfrentar qualquer situação.
Alguém a sacudia pelo ombro. “Está quase na hora de partirmos.” Janete estava sorrindo. “Puxa vida! Você dormia como uma pedra!”
As garôtas já haviam desarmado a barraca, e Catarina estava deitada com o sol batendo sôbre ela. Deslizou para fora do saco de dormir e espreguiçou-se. Sentia-se maravilhosamente bem.
“Olhe para o sol batendo no lago!” exclamou Janete. “É como bilhões de diamantes na água.”
Catarina sorriu. Era o mesmo lago, a mesma costa, e a mesma água, que durante a noite pareciam tão escuros e amedrontadores. O sol havia revelado a verdadeira paisagem e tocava cada ondulação com uma luz ofuscante. “Exatamente comos os tesouros da Verdade”, pensou. “Nós os vemos quando nossos pensamentos estão cheios de luz. Êles estão sempre à nossa volta, não importa onde nos encontremos. Sempre há diamantes no sertão.”
Assim diz o Senhor, o que vos redime, o Santo
de Israel: (...) Eu sou o Senhor,
vosso Santo, o criador de Israel, vosso rei.
Assim diz o Senhor, o que outrora preparou
um caminho no mar,
e nas águas impetuosas uma vereda.
Eis que faço cousa nova, que está saindo à luz;
porventura não o percebeis?
Eis que porei um caminho no deserto,
e rios no êrmo.
Isaías 43:14–19
