Em uma Epístola aos Coríntios, S. Paulo faz uma afirmação que é de grande significado para o estudante de Ciência Cristã. Diz (II Coríntios 5:8): “Estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor.”
Visto que — como a Ciência Cristã ensina — somos os filhos espirituais de Deus, em realidade sempre habitamos “com o Senhor”. Não há nenhum outro lugar para estarmos, pois o Espírito é onipresente. O que significa êsse fato para nós, em têrmos de Cristianismo prático? Em seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy escreve (p. 14): “Habitar com o Senhor é ter, não mero êxtase ou fé emocional, mas sim demonstrar e compreender verdadeiramente a Vida como a Ciência Cristã a revela. Estar com o Senhor é obedecer a lei de Deus, é ser inteiramente governado pelo Amor divino — pelo Espírito, não pela matéria.”
Nem sempre sentimos que “habitamos com o Senhor”, nem sempre damos a impressão de que aí estamos habitando. Ao contrário, seguidamente nos parece habitar em um sentido do ser finito e material, estar olhando para prazeres estreitos e pessoais na matéria, para satisfação em possessões e posições, e tentando, por competição, ser ao menos tão bons quanto nosso próximo. Dêsse sentido medíocre de alma, que não é de modo algum nosso verdadeiro sentido de eu, teremos, algum dia, que nos livrar. É um falso sentido que, se não fôr negado, parece privar-nos de uma grande parcela do bem.
“Habitar com o Senhor” é pensar cientìficamente, refletir a Mente divina, Deus, empenhar-se em compreender e conhecer o homem e o universo como a Mente os criou. Isso certamente é obediência ao conselho de Paulo (Filipenses 2:5): “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.” É pensar como Jesus pensava.
“Habitar com o Senhor” significa algo mais do que ter pensamentos bons e amáveis e sentir-se próximo a Deus. Tem mais Ciência do que isso. É uma renúncia ao sentido finito do eu e uma negação da crença em uma alma, ou mente, separada de Deus. Significa reconhecer Deus como nossa própria Vida e Mente e saber que Deus é a Vida e a Mente de todos.
Essa ação produz uma perspectiva mais elevada e mais espiritual. Começamos a ver cada indivíduo, ao menos em certo grau, como sendo em realidade o reflexo espiritual de Deus, da Mente, do Amor, da Vida, do Princípio. E nos regozijamos com a Alma na pureza, bondade, beleza, harmonia e alegria de sua criação. Isso significa não parar à porta da Ciência, adorando a letra e a aparência exterior; significa passar pela porta e viver essa Ciência na vida diária.
Cada tratamento autêntico pela Ciência Cristã é a utilização da Palavra de Deus. É “habitar com o Senhor”. É alegrar-se na verdade de que Deus é a Mente, a Alma e a Vida do homem e discernir o que o homem sente, e sabe, e é, como o filho de Deus, como consciência espiritual individual, o reflexo da Mente divina. É a percepção das idéias que constituem a substância e a consciência do homem, e a conseqüente rejeição e aniquilação dos erros do sentido mortal. Como lemos nos Salmos (63:2): “Assim eu te contemplo no santuário para ver a tua fôrça e a tua glória.”
Mrs. Eddy diz em Ciência e Saúde (p. 14): “Tornai-vos conscientes, por um só momento, de que a Vida e a inteligência são puramente espirituais — que não estão na matéria nem são da matéria — e então o corpo não proferirá queixa alguma. Se sofreis duma crença na doença vos achareis repentinamente curados.”
A maioria dos Cientistas Cristãos deseja estar profundamente consciente da verdade de que “a Vida e a inteligência são puramente espirituais”, mas não são muitos os que o acham fácil de conseguir. As tentativas humanas intensas, embora fervorosas e sinceras, nem sempre conseguem alguma coisa. Às vêzes, entretanto, quando há um simples achegar-se a Deus com amor e confiança, um vislumbre dessa consciência real aparece suavemente, trazendo consigo a cura, a liberdade e a paz. Então, por fim, torna-se claro que o segrêdo consiste em reconhecer amável e humildemente nosso ser inteiro como sendo aqui e agora a idéia composta de Deus, a expressão direta do ser divino, a evidência da presença do Senhor.
Na medida em que nos tornamos cientes da verdade de que a nossa própria Vida, Mente e Alma, é Deus, e que nossa verdadeira consciência é infinita em alcance, expressamos a natureza crística do ser, a qual traz cura. Quando compreendemos claramente a falsidade da crença de que a matéria exista, de que exista mal, sentido ou personalidade na matéria, e de que exista na matéria alguma coisa em que confiar ou de que temer, vemos que o pecado e a doença são impossíveis na Ciência. Então nossa verdadeira consciência, tôda inclusiva em vez de finita e exclusiva, espiritual em vez de material, universal em vez de localizada, eterna em vez de temporal, está livre para desenvolver sua própria natureza espiritual e para identificar-se como a expressão individual das idéias divinas.
A natureza ilimitada e inconfinada da consciência real, ou homem espiritual, é belamente expressada por Mrs. Eddy em um de seus escritos (Pulpit and Press — Púlpito e Imprensa, p. 4): “Aquêle que vive no bem, vive também em Deus — vive em tôda Vida, através de todo espaço. É seu um reino individual, seu diadema uma coroa de coroas. Sua existência é imperecível, para sempre manifestando seu eterno Princípio. Esperai pacientemente no Amor ilimitável, o senhor e doador da Vida. Refleti essa Vida, e com ela vem o poder inteiro do ser. «Fartam-se da abundância da Tua casa».”
“Habitar com o Senhor” é estar ausente do corpo. É compreender que não estamos vivendo na matéria ou na corporalidade, nem estamos incluídos em um ambiente e localidade materiais. Como nos será possível ter domínio sôbre a matéria se ela é real e dependemos dela e estamos submergidos nela? A compreensão que nos dá domínio é que em nosso ser verdadeiro somos feitos à imagem e semelhança de Deus e incluímos tôdas as idéias que são essenciais à harmonia, inteireza, saúde e alegria.
A percepção vital da verdade de que não estamos contidos na matéria ou em um ambiente material, tal como um peixinho dourado em seu aquário, mas que somos espirituais e vivemos em Deus, o Espírito, que sempre expressa em nós a idéia infinita e eterna reveladora de Si mesma, finalmente nos guiará à demonstração de preferirmos “deixar o corpo e habitar com o Senhor”.