Um dia, quando eu ainda morava em Angola, onde nasci, fui com meu pai visitar uma pessoa perto do porto, em Luanda. Fiquei impressionado ao ver tanta pobreza. E lembrei-me dos muitos carros de luxo que andam pela cidade. O contraste me deixou muito preocupado. Depois comentei isso com alguns amigos, na escola. Eles disseram que eu deveria me conformar. “É assim mesmo”, comentaram “sempre vai haver gente miserável e gente muito rica. Não há nada que você possa fazer”.
Mas eu não concordei. Sabia que somos todos filhos de Deus e Deus não tem alguns filhos favoritos. Ele ama todos os Seus filhos da mesma maneira. Por isso, não podia aceitar o raciocínio de meus amigos, embora as aparências lhes dessem razão. Nós podemos ajudar a mudar as coisas, mudando nossa própria maneira de pensar. Afinal, o pensamento da sociedade é a soma dos pensamentos de cada um.
Reparei que estamos muito acostumados a pensar mais nas diferenças entre nós, do que nas semelhanças. Com base nas aparências, dizemos que alguém, ou determinada raça, é superior ou inferior. Isso produz a discriminação racial e social e traz, como conseqüência, o preconceito, a injustiça e a pobreza. Então resolvi prestar mais atenção às características boas que todos temos em comum. Eu gosto de buscar idéias que me ajudam a orar. A Bíblia diz: “Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus?” (Malaq. 2:10). Então, para início de conversa, todos temos algo muito valioso, isto é, o mesmo Pai-Mãe, Deus. E o Pai não dá mais para um filho do que para outro. E o bem que provém dEle não está mais disponível para uns do que para outros. Seria absurdo pensar que alguém tenha o direito de nascença de respirar mais ar do que os outros. A lei estabelecida por Deus é que todos recebamos dEle, igual e infinitamente, dons e talentos que podemos descobrir e utilizar. Quando reconhecemos que essa lei de Deus é real em nossa vida, nosso aproveitamento na escola e nossas perspectivas para o futuro acabam melhorando.
Em minha escola, aqui no Brasil, onde estou morando agora, eu noto que muitos jovens negros se consideram inferiores em relação aos outros e isso atrapalha o aproveitamento escolar deles. Isso é totalmente errado. A maioria das pessoas sabe que não é certo sentir-se superior aos outros, porque significa que não enxergamos as boas qualidades dos outros. E eu estou convencido de que é igualmente errado sentir-se inferior, pois significa que não reconhecemos os talentos que Deus nos deu. Ele expressa a Si mesmo em cada um de nós e dá-nos a força para progredir na vida. Ele não pode expressar nada que seja de qualidade inferior, por isso é errado e desnecessário sentir-se diminuído.
Isso não quer dizer que devamos ser cópias uns dos outros. Igualdade social não significa mesmice. Os talentos que Deus nos dá podem se manifestar de forma individual e variada, sem que isso signifique superioridade ou inferioridade. Podemos apreciar as diferenças individuais como uma expressão do fato de que Deus é infinito e se manifesta de formas infinitas, mas todas igualmente boas. E essas formas infinitas não obedecem a classificações raciais ou sociais.
Para mim, pensar espiritualmente significa basear os próprios pensamentos na criação espiritual e perfeita de Deus e não se fixar nas aparências. Tenho certeza que, à medida que a gente aprender a pensar espiritualmente, as diferenças sociais vão diminuir, até desaparecer por completo. Dessa maneira, todos podemos contribuir para um mundo melhor.
