Não faz muito tempo, assisti a um concerto de Natal em uma igreja de minha comunidade. O repertório, que continha uma seleção do Glória, de Vivaldi, e do Messias, de Händel, foi muito inspirador e vivificante. Ao olhar ao meu redor e ver os rostos de amigos, vizinhos e desconhecidos, constatei que a música parecia gerar um ambiente de segurança, encorajamento, conforto e tranquilidade. Talvez a paz, a alegria e a elevação espiritual da música clássica na época natalina enterneçam nossos corações todos os anos. Mas, recentemente, tenho almejado sentir esse fortalecimento e restauração que alimentam a alma, onde quer que os encontremos, seja na música, na arte, ou, até mesmo, em momentos tranquilos de solitude e reflexão.
Diante dos recentes atos de terrorismo que estão ocorrendo no mundo todo, provavelmente todos nós já ouvimos (ou já fizemos) a pergunta: “A que ponto o mundo está chegando”? É fácil ficar com medo ou fascinado com as reportagens perturbadoras que nos mantêm informados sobre as últimas ameaças e desastres. Nosso pensamento pode ficar rapidamente cheio de preocupação, ansiedade e incerteza diante das recomendações para estarmos constantemente alertas.
Talvez estejamos vivendo momentos difíceis. Mas seriam esses momentos mais desafiadores do que aqueles vivenciados pelos primeiros cristãos? Para os discípulos e seguidores de Cristo Jesus, os quais viveram quando o Cristianismo era incipiente, muitas vezes era uma questão de risco de vida mencionar o nome de Cristo, assumir que era um cristão ou ser considerado como tal. Mas aqueles que captaram a ideia da verdade e compreenderam o valor ilimitado dos ensinamentos do Cristo seguiram em frente, apesar dos obstáculos e da severa oposição que enfrentaram. Eles não se prenderam à pergunta: “A que ponto o mundo está chegando”? Ao contrário, conforme um evangelista deste século escreveu, eles estavam vendo o poder do Cristo e proclamando: “Vejam o que veio ao mundo!” (E. Stanley Jones).
Cristo Jesus veio para mostrar nossa conexão e nossa união com Deus, o Amor divino. A ideia-Cristo tem sido definida como “Deus conosco” (ver Mateus 1:23). O grande amor de Deus por Sua criação e por todos nela é constante, imparcial e universal.
Diante das notícias que mostram violência e atividades terroristas, aprendo muito quando desafio a mim mesmo a não ficar fascinado ou desanimado com as imagens das vítimas e dos vitimizadores, e, ao invés disso, a tomar consciência do domínio ilimitado do bem e a manter a expectativa de que minhas orações terão resultados de grande alcance. Quando nosso pensamento desperta e compreende a conexão que temos com Deus, verdadeiramente vemos como esse fato se relaciona com a emocionante declaração: “Vejam o que veio ao mundo”!
Aprendo muito quando desafio a mim mesmo a não ficar fascinado ou desanimado.
Além de revelar nosso verdadeiro relacionamento com Deus, Cristo Jesus também nos mostrou o caminho para “vencermos o mundo” (ver João 16:33) ou, poderíamos dizer, para derrotar as crenças opressoras do mundo, tais como: desespero, perigo, intolerância e medo, que pareciam ter domínio sobre o pensamento das pessoas. Ele disse aos seus discípulos que eles ouviriam falar de “guerras e rumores de guerras”, mas lhes recomendou: “Vede, não vos assusteis” (ver Mateus 24:6). Mas como deveriam eles fazer isso? A instrução de Jesus foi: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação ... permaneçam no lugar santo” (Mateus 24:15, conforme a Bíblia em inglês, versão King James). Em outras palavras, permaneçam com Deus, mantenham seus pensamentos em comunhão com o Todo-Poderoso, uma vez que é a compreensão da totalidade onipotente de Deus que libertará eficazmente da escravidão mental que o medo e a crença no poder do mal tentam impor.
As palavras de Jesus são tão aplicáveis a nós, seus seguidores de hoje, como o foram quando Jesus falou com os discípulos de sua época. Podemos reconhecer que o “lugar santo” a que ele se referiu está em nossa consciência; que consiste em ver que estamos cingidos pela natureza divina e reconhecer essa verdade para toda a humanidade.
Se Deus é todo o poder e o único poder, como poderia então o mal ser uma presença ou um poder? À medida que ampliamos nossa compreensão de que Deus é Tudo, essa compreensão resolve a questão de nossa proteção. O que se exige de cada um de nós é que possamos progredir para além da percepção limitadora de que Deus está distante, desinteressado ou indiferente a nós. Deus é nosso Pai amoroso, o Pai de todos nós. Quanto maior nossa percepção de Seu amor infinito, menor se torna qualquer problema, que começa a se dissolver quando compreendemos o amor sanador de Deus. Podemos conhecer a Deus, e somente Ele governa. Podemos encontrar conforto e segurança nesta promessa bíblica: “...para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim...” (Isaías 9:7). Essa promessa pode ser comprovada hoje, exatamente aqui e agora, por maior e mais ameaçador que pareça ser o mal.
Embora possa parecer inegável que o mal e o terrorismo sejam aterrorizantes e temíveis, nossa luta é realmente contra a aceitação de que a malícia, o ódio, a intolerância e a tirania são forças de pensamento reais e potentes.
Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, há esta declaração radical e imperativa: “A humanidade tem de aprender que o mal não é poder” (p. 102). A Sra. Eddy comprovou isso, ao enfrentar e superar muitas situações difíceis e, em outra de suas obras, ela escreveu: “O mal não é nem qualidade nem quantidade: ele não é inteligência, uma pessoa ou um princípio, não é um homem nem uma mulher, um lugar ou uma coisa, e Deus nunca o criou” (Message to The Mother Church for 1901, [Mensagem À Igreja Mãe para 1901], pp. 12–13).
As ameaças ou situações ameaçadoras que possamos enfrentar, não se tratam fundamentalmente de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. As pessoas talvez tenham sido manipuladas pelo mal e estejam fazendo ameaças, mas deveríamos entender claramente qual é a verdadeira ameaça. O verdadeiro culpado é o subterfúgio enganoso da “mente carnal” (Romanos 8:7) que, sob o disfarce de uma causa justa ou de terrorismo justificado, faria um irmão se voltar forçosamente contra outro irmão.
Quando pensamos que já ouvimos e vimos de tudo, parece que o pensamento mortal apresenta novas formas e meios de ameaçar e intimidar. E quando conseguimos neutralizar um método de destruição e devastação, surge outro para substitui-lo. Mas que poder tem o pensamento mortal? Na verdade, a crença mortal não tem nenhum poder para enganar. Poderíamos perguntar a nós mesmos como é possível que o Amor onipresente deixe algum espaço para o mal e o ódio. Isso é totalmente impossível. A eterna totalidade de nosso Pai não nos mostra nenhuma história do erro que seja verdade, nem lugar algum fora ou para além da vontade e onipotência divinas.
Cristo Jesus disse a seus seguidores: “Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5:14). Nós vivemos nosso cristianismo por meio do nosso reconhecimento iluminado do grandioso poder do Amor divino, que cinge a todos, e que o homem reflete. Podemos fazer uso desse poder por meio da oração. Sinto que uma determinada passagem de Ciência e Saúde indica claramente como orar e inclui poderosas verdades espirituais com as quais podemos orar: “Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; estabelece a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’; aniquila a idolatria pagã e a cristã — tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais, políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos; anula a maldição sobre o homem, e não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído” (p. 340).
Nós temos o privilégio santo e sagrado de poder comprovar de forma tangível a soberania de Deus. Manter ativamente a supremacia do bem em nosso pensamento nos liberta dos supostos grilhões do mal e nos dá a liberdade de expressar e viver o amor. Exercer nosso senso espiritual ao defender o caráter cristão que está em todos nós, ajuda-nos a compreender melhor quem é nosso irmão e, assim, a libertar a humanidade das sugestões desestabilizadoras de que a guerra e o terrorismo são desejáveis, inevitáveis ou necessários. Tenho certeza de que a segurança e a proteção se tornarão mais evidentes ao estarmos cada vez mais conscientes da presença de Deus. Veremos mais paz e proteção em nossa vida e na vida daqueles que nos rodeiam.
Nós certamente não necessitamos ver os recentes ataques de terrorismo como se fossem algo normal. Não somos mortais vulneráveis. Ao contrário, somos “os amados do Senhor” e habitamos “seguros com ele” (ver Deuteronômio 33:12). O reino dos céus, o reino da harmonia, está aqui. Jesus nos disse que esse reino está dentro de nós. Você vai permitir que esse reino seja tirado de você ou dos outros? Sua decisão de ficar do lado de Deus, o Amor divino, e de defender a onipotência divina como a força governante fará muito bem para curar um mundo que necessita desesperadamente sentir a realidade e o poder protetor do bem.
Tradução do original em inglês publicado na edição de 1º de fevereiro de 2016 do Christian Science Sentinel.
