Quando nossa família estava enfrentando um momento de grande necessidade há vários anos, aconteceu de eu passar por uma Sala de Leitura da Ciência Cristã na cidade e apanhar um pequeno panfleto que tinha um título significativo: “O triunfo do bem”. O panfleto continha uma série de artigos e testemunhos de cura reimpressos das publicações dessa denominação e incluía dois testemunhos originalmente publicados em um dos periódicos em 1955.
Há mais de um século esta revista e outros periódicos religiosos de nossa denominação vêm publicando testemunhos de cura. A maioria deles é escrita de uma maneira simples. Os testemunhantes são pessoas comuns, provenientes de várias camadas da sociedade e de diversos níveis educacionais. Em geral, o motivo primordial para escreverem é a simples gratidão, ou seja, é dar graças a Deus. Tal como uma pedrinha lançada sobre a água tranquila de um lago causa uma sucessão infindável de ondulações, o efeito do ato genuíno de dar graças se propaga indefinidamente, muitas vezes trazendo incentivo e inspiração espiritual exatamente nos momentos em que mais precisamos. Essa foi minha experiência naquele dia na Sala de Leitura.
Eu já havia lido os dois testemunhos reimpressos no panfleto. Aliás, eu conhecera um dos testemunhantes, alguns anos após ele ser curado. Mas eu ainda não estava preparado para entender o impacto poderoso e renovador dessas curas.
Um desses testemunhos fora escrito por um Cientista Cristão da Inglaterra que estivera paralisado durante quase dez anos devido a uma doença para a qual fora diagnosticada pouca probabilidade de cura. O outro testemunho fora escrito por uma praticista da Ciência Cristã do estado de Nova York, a qual se tornara Cientista Cristã ao ser curada de um tumor interno diagnosticado como incurável pela medicina, e terminal.
O primeiro testemunhante havia escrito que, durante todo o tempo em que estivera doente e, aparentemente, sem nenhum progresso físico, “continuava a haver crescimento espiritual”. À medida que ele “estudava e recebia tratamento” por meio da oração na Ciência Cristã, recordava ele no texto do testemunho, foi “sentindo grande alegria espiritual, a alegria de saber que Deus governa o universo e que coisa alguma poderia impedir a realização de Seus desígnios de propiciar perfeição e satisfação reais para todos” (Peter J. Henniker-Heaton, Journal, edição de abril de 1955). Então, ocorreu a cura. Muitas pessoas que o conheceram anos mais tarde notavam essa alegria como um aspecto permanente de seu caráter.
No segundo testemunho, a testemunhante contava que se voltara à Ciência Cristã como último recurso, quando o tratamento médico já não lhe oferecia esperança de recuperação. Ela também escreveu sobre a alegria que lhe sobreveio com a renovada compreensão espiritual, em meio a dificuldades físicas extremas. Seu esforço sincero para compreender a verdade espiritual se e agarrar a essa verdade de que “Não existe poder a não ser o de Deus” (Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 228) inundou seu pensamento com repentina convicção. “Meu coração cantava alegremente”, ela relatou. “Eu não pensava em viver ou morrer. Eu pensava sobre a verdade” (Lois B. Estey, Journal, edição de dezembro de 1955). A cura ocorreu pouco tempo depois, quando o tumor foi completamente eliminado.
Fiquei profundamente comovido ao deparar-me de novo com esses testemunhos. Um membro de minha família estava lutando havia vários meses com uma doença incapacitante que drenava suas forças e limitava gravemente sua atividade física. Ele tivera de recusar ofertas de emprego. A doença não foi diagnosticada. Nós estávamos conscientemente recorrendo à oração em busca da cura, como sempre havíamos feito, durante muitos anos. Mas desta vez não havia nenhum benefício aparente.
Os dois testemunhos tiraram o enorme peso de desânimo do meu pensamento. Em realidade, para mim foi como se eles me dissessem: “Espere um pouco, o que você está vendo não é toda a verdade a respeito da situação. Não é a verdade, de maneira alguma. Não precisamos ficar desanimados devido a esse quadro material. A bondade de Deus é real. Não precisamos fazer com que ela se torne real. Ela já é a natureza e a substância do existir e da vida de todos nós. O Amor divino é real e está aqui, é o único poder nesta situação, e nos inclinamos com reverência diante da presença dessa realidade divina”.
Esse não foi o momento em que a cura completa aconteceu, mas foi, para mim, um momento decisivo em que entendi melhor a Deus, e em minha oração pela cura entendi o que é o Espírito. Senti muita gratidão pelos testemunhantes, pela Ciência Cristã e, acima de tudo, pela realidade descomplicada, completamente presente, do Amor divino. Essas curas davam testemunho dessa verdade.
Dei-me conta de que, se esses testemunhantes haviam podido receber a influência dessa verdade espiritual em face de dificuldades tão extremas, então nós também podíamos. Se eles haviam podido orar e continuar a orar com integridade e determinação naquelas condições e, até mesmo encontrar alegria espiritual cada vez maior, então nós também podíamos. Logo depois, o estado de saúde desse parente começou a melhorar e a cura completa tornou-se evidente nos meses seguintes. Quando, não muito tempo depois, ele assumiu um novo trabalho, que exigiu uma autorização médica, pois demandava extremo esforço físico, nós dois percebemos que estávamos dizendo em voz baixa: “Obrigado, Deus”.
Perco a conta das inúmeras vezes em que me senti elevado e inspirado pela luz espiritual compartilhada nos testemunhos de cura de Cientistas Cristãos e pelo senso simples, indubitavelmente genuíno, da bondade de Deus, que com tanta frequência transparece nesses testemunhos. Naturalmente, a inspiração não é algo que alcançamos graças ao esforço dos outros. A mera leitura das curas de outras pessoas não pode substituir o estudo dos temas espirituais, a oração e o crescimento conquistado pelo nosso próprio esforço para crescer em graça e em compreensão, que vêm com a prática convincente da cura em nossa própria vida.
Ainda assim, testemunhos como esses nos ajudam a ver que a compreensão espiritual não está fora do nosso alcance, ou seja, que pessoas comuns podem vivenciar e apreender a verdade espiritual de forma tangível. Esses testemunhos não nos falam apenas de curas ocorridas no passado. Eles nos falam da realidade do Amor divino presente aqui e agora. A força desses testemunhos permanece intacta, capaz de mudar pensamentos de foro interior e nos curar de forma perceptível exteriormente.
Os testemunhos de cura publicados nos periódicos da Ciência Cristã ao longo das décadas são muitos e chegam a dezenas de milhares. É justo, porém, dizer que representam somente uma fração das inúmeras curas significativas que têm continuado a ocorrer na vida dos Cientistas Cristãos ao longo de todos esses anos. As doenças curadas e relatadas em primeira mão nesses testemunhos abrangem uma vasta gama de males humanos. Elas incluem casos muito graves que evidentemente não “melhoraram simplesmente com o decorrer das coisas”, como sugeriram algumas pessoas que questionaram esses testemunhos. Em um número significativo desses casos, as curas vivenciadas foram descritas por médicos ou por outras pessoas que as testemunharam, constatando que eram curas inexplicáveis sob o ponto de vista médico, até mesmo milagrosas. Embora os próprios Cientistas Cristãos não considerem essas curas como milagres, no sentido tradicional da palavra, muitas delas são fisicamente tão definidas e espiritualmente tão vivas, que não estariam fora de lugar no Novo Testamento.
À sua maneira especial e silenciosa, esses testemunhos publicados falam ao coração exatamente como as narrativas bíblicas de cura. Conforme comentou outro testemunhante da metade do século XX, ao relatar uma de suas primeiras curas: “Foi uma experiência tão extraordinária, que minha esposa e eu sabíamos que havíamos sido tocados pela presença do Cristo, com tanta certeza quanto aqueles que estavam nas praias da Galileia na época de Cristo Jesus” (J. Woodruff Smith, Christian Science Sentinel, edição de 22 de novembro de 1947). Embora, de acordo com as estatísticas, a Ciência Cristã nunca teve enorme número de adeptos, esses relatos de cura encheriam muitos volumes de um livro de Atos da era moderna.
A questão inevitável é o simples fato de que essas curas de fato aconteceram. Os testemunhos são obviamente documentos de teor religioso, não são histórias de casos médicos, mas as curas neles relatadas são experiências reais de pessoas reais. Nada têm de ficcional ou lendário. Eles não se referem a um passado distante. Mesmo quando a linguagem dos escritores reflete os usos e os costumes de uma geração anterior, a importância dessas experiências é muito clara. A tendência a negar e a não crer, características de um mundo cético, não pode apagar o fato simples e marcante da cura, muitas vezes desafiando a expectativa médica, na vida de milhares de pessoas.
“As impossibilidades jamais acontecem”, a fundadora desta revista, Mary Baker Eddy, observou de maneira sucinta no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 245). A Sra. Eddy, uma pensadora profunda cuja perspectiva espiritual emergiu de suas próprias experiências com a cura cristã, compreendeu que essas aparentes “impossibilidades” têm implicações importantes para a maneira como vemos o mundo. Deixando atrás as perspectivas religiosas mais tradicionais, ela passou a considerar as curas que estavam ocorrendo, não como intervenções sobrenaturais de um Deus que ocasionalmente deixa de lado as leis físicas, mas como evidências que apontam para uma compreensão vastamente diferente em relação à existência e à vida.
Os setenta discípulos, que Jesus certa vez designou para uma missão nas cidades vizinhas, retornaram dessa primeira tarefa e, cheios de entusiasmo, contaram ao Mestre sobre as curas que haviam ocorrido durante essa missão, dizendo: “...Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome”! Diante desse relato, a resposta de Jesus fez com que o pensamento deles se elevasse acima dos fenômenos exteriores da cura, que tanto os havia impressionado, para poderem entender o relacionamento eterno com Deus, de onde brota a cura: “...alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus” (Lucas 10:20).
O céu a que Jesus se referia significava evidentemente mais do que o lugar esperado para ser vivenciado depois da morte. Era a extraordinária realidade espiritual que ele em outro momento chamara de reino de Deus. Jesus não considerava esse reino como algo futuro, nem totalmente remoto em relação à experiência presente. Ele falou que esse reino está “próximo” (Marcos 1:15) e, até mesmo, “dentro de vós” (Lucas 17:21). Sua vida inteira demonstrou o imediatismo dessa ordem divina no aqui e agora. Ao enviar os discípulos a ensinar e a curar, ele os instruiu a dizer aos seus ouvintes: “...A vós outros está próximo o reino de Deus” (Lucas 10:9).
Para muitos Cientistas Cristãos, a experiência de cura também trouxe, da mesma forma, a extraordinária realidade espiritual do reino de Deus, do Amor divino. Isso é o que torna essas curas tão profundamente significativas, mesmo em uma era tecnológica. Elas não são curas por métodos “alternativos” de saúde, mas sim têm significado sagrado e provêm de uma fonte sagrada. Elas indicam o sempre presente universo espiritual de luz, do Amor e da bondade que a própria vida e as obras de Jesus deixaram evidente.
A cura é o que acontece quando o espírito do cristianismo do Cristo liberta, em certa medida, o pensamento humano, para que já não aceite sem questionar a crença no poder e nas condições materiais. Longe de ser uma curiosidade religiosa de menor importância, ultrapassada pelo imenso desenvolvimento da cultura médica no século passado, as curas na vida dos Cientistas Cristãos abalam os fundamentos do materialismo e viram de cabeça para baixo as atuais suposições convencionais a respeito da vida. Os aparentes enredamentos mentais do materialismo em nossa vida obscureceriam, se pudessem, nosso senso do Amor divino como um poder e ajuda presentes. O efeito da cura genuína é romper o lacre que fecha a caixa do pensamento humano material, e deixar que ela fique inundada pela luz do Amor.
Quando o jornal Boston Globe pediu a Mary Baker Eddy em 1900 que comentasse sobre “o último Dia de Ação de Graças do século XIX”, sua resposta começou assim: “O último Dia de Ação de Graças deste século, na Nova Inglaterra, mostra à mente dos homens que a Bíblia está sendo mais bem compreendida, e que a Verdade e o Amor são postos em prática em grau maior...” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 264).
Os sinais mais marcantes desse entendimento espiritual prático foram as experiências generalizadas de cura na vida das pes-soas. Mas essas curas físicas, essenciais como eram e são, também indicaram uma profunda transformação espiritual no pensamento humano. Como a Sra. Eddy escreveu sobre aquele Dia de Ação de Graças: “Significa que o amor, despojado de ego, bate mais forte do que nunca à porta do coração da humanidade, e encontra acolhida; ...
“É o sinal de que a Ciência do Cristianismo despontou sobre o pensamento humano, para surgir em pleno fulgor na glória do Milênio; ...” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 265).
Não deveria a verdadeira ação de graças significar algo mais do que gratidão por bênçãos pessoais ou favores dispensados de forma desigual, em um mundo material que caiu em desgraça? Faria pouco sentido moral pensar que Deus iria escolher e selecionar a quem abençoar e curar, e a quem não. O Amor divino, conforme a Ciência do Cristianismo deixa claro, é imparcial, universal, constante e, acima de tudo, real, de uma maneira silenciosa, mas poderosa. Tal como o pai na parábola de Jesus a respeito do filho pródigo, essa realidade irresistível do Amor “corre” ao encontro dos corações que se voltam para ele quando se sentem nas profundezas da necessidade humana. O reino de Deus, Seu universo espiritual do bem, está aqui para cada um de nós, para que o vivamos, sintamos, compreendamos e amemos. As palavras do Salmo 100 continuam a celebrar em verso esse sentimento: “Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor”.
Tradução do original em inglês publicado na edição de novembro de 2016 do The Christian Science Journal.
