Existe alguma coisa que possamos fazer para ajudar a trazer mais unidade e paz em tempos de divisões sociais, cinismo generalizado, e uma crescente falta de confiança nas instituições? Existe alguma coisa que possamos fazer para fortalecer nossa própria convicção e confiança e nos sentirmos mais esperançosos com relação ao futuro, tanto da sociedade, quanto nosso próprio?
Lembrem-se de que, na época em que o Cristianismo era novo, havia turbulência política e insegurança quanto ao rumo que a sociedade estava tomando. Enquanto os discípulos de Cristo Jesus estavam divulgando o Evangelho do reino de Deus, a comunidade cristã recém-começada no Oriente Médio ainda estava sob o poder de um governo invasor, cujo centro cultural e político era a grande cidade de Roma. O que hoje se chama “guerra entre culturas” certamente teria sido o problema de muitas pessoas que viviam no vasto Império Romano havia dois mil anos.
O Apóstolo Paulo, que viajou extensamente na região, divulgando o Evangelho de Jesus Cristo, demonstrou específico interesse pela comunidade cristã que tentava se estabelecer no coração da capital romana. Em suas cartas aos seguidores de Jesus, Paulo evidentemente não estava buscando convencê-los a empenharem esforços segundo o modelo dos poderes políticos convencionais. Em vez disso, ele repetidas vezes encorajava esses dedicados homens e mulheres a perceberem quão vitais a oração e o pensamento espiritualizado deveriam ser para tornar melhor o mundo em que viviam. Por exemplo, na Bíblia, a comovente carta de Paulo a esses cristãos romanos atesta o poder espiritual que o Evangelho de Cristo poderia ter na vida de uma pessoa.
Um versículo em especial, da epístola de Paulo, pode ser muito pertinente hoje em dia. Apresenta orientação simultaneamente prática e espiritual para abrir caminho na selva das visões políticas divergentes e as frequentes argumentações agressivas quanto ao que é melhor para a sociedade. Conforme a Bíblia em português, na versão revista e atualizada, traduzida por João Ferreira de Almeida, lemos o que Paulo escreveu em Romanos 12, versículo 2: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Esse versículo coincide perfeitamente com a versão King James da Bíblia em inglês.
Outras versões acrescentam informação a esse versículo. A Bíblia em inglês New Living Translation [Nova Tradução Vivente],por exemplo, propõe o seguinte (nossa tradução ao português): “Não imite o comportamento e costumes deste mundo, mas deixe Deus transformar você em uma nova pessoa, mudando o modo como você pensa. Então você aprenderá a conhecer a vontade de Deus para com você, a qual é boa e agradável e perfeita”. Da mesma forma, a versão de J. B. Phillips em inglês (nossa tradução ao português), declara diretamente: “Não deixe que o mundo ao seu redor o restrinja de acordo com o molde desse mundo...” (Versão inglesa chamada The New Testament in Modern English, Revised Edition [O Novo Testamento em Inglês Moderno, Edição Revisada]).
Quando nos dispomos a pensar por nós mesmos a partir de uma base mais espiritual, sem sermos influenciados por interesses egoístas de outros, nem limitados ao molde restrito das opiniões humanas que ainda não foram provadas, isso sim, oferece um fundamento a partir do qual podemos orar seriamente e encontrar o que é verdadeiro e benéfico para nossa vida, assim como para o progresso da sociedade. Então começamos a ver com mais clareza que, ao discernirmos e seguirmos a vontade de Deus, podemos fazer uma diferença para melhor.
Quando nossos pensamentos e ações são motivados primeiramente pela silenciosa atenção à orientação vinda de Deus, nossas atividades para melhorar a sociedade e o governo são isentas de pontos de vista meramente materialistas ou finalidades egoístas. E tais esforços serão honestamente impelidos a alcançar objetivos voltados para o bem mais elevado de nosso próximo, de nossas comunidades, e do mundo.
Mary Baker Eddy, que descobriu a Ciência Cristã, se interessava vivamente pelo que ocorria na sociedade em que viveu. Em dezembro de 1900, por exemplo, na virada do século, ela escreveu um pequeno artigo para o jornal New York World. “No meu entendimento,” escreveu ela, “os perigos mais iminentes que ameaçam o século vindouro são: que as pessoas sejam despojadas da vida e da liberdade, sob a justificativa das Escrituras; as alegações da política e do poder pessoal, a escravidão industrial, e insuficiente liberdade de concorrência honesta; e rituais, credos, e crenças, em vez da Regra Áurea: ‘Tudo quanto pois quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles’ ” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos], p. 266).
Ela previu com clareza quais seriam os perigos, se as divisões na política e a mera busca por poder pessoal viessem a obscurecer o propósito mais elevado de levar em consideração os interesses legítimos dos outros. De modo direto ela apresentou a Regra Áurea como um modelo para o progresso. De acordo com a Ciência Cristã, essa consideração, desprovida de ego, para com nosso próximo, tanto homens quanto mulheres, ganha poder graças ao nosso entendimento da verdadeira natureza de Deus e de Sua criação.
Deus, que é o puro Espírito, e é o Amor totalmente divino, criou cada um de nós à Sua semelhança, como reflexo desse mesmo Amor. Ao amarmos o nosso próximo como gostaríamos de ser amados, fazendo para com ele como gostaríamos que fizesse para conosco, o resultado na vida humana é transformador, especialmente quando nos baseamos no reconhecimento espiritual de que todos somos filhos de Deus, de que cada um de nós é a expressão da Vida, da Verdade e do Amor divinos, de que ninguém está fora do reino de Deus, ou deixa de merecer Seus cuidados. Parece simples, mas é uma abordagem radical, pois se afasta do padrão dos interesses pessoais materialistas que muitas vezes tentam direcionar a política, determinar os procedimentos sociais, e até mesmo definir como conduzirmos nossa vida diária.
Ainda de acordo com o que Mary Baker Eddy escreveu em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “É chegada a hora dos pensadores. A Verdade, independente de doutrinas e sistemas consagrados pelo tempo, bate ao portal da humanidade. O contentamento com o passado e as frias convenções do materialismo estão desmoronando” (p. vii).
Ninguém tem de ficar restringido ao molde dos pontos de vista meramente materialistas. Cada um de nós pode ser inspirado por meio da oração e “transformado pela renovação da [nossa] mente” para pensar e agir com mais espiritualidade, de modo desprovido de ego, de maneira produtiva, fazendo uma diferença sanadora nas nossas comunidades, na política e até no governo, e na construção de uma sociedade verdadeiramente ética e amorosa. “É chegada a hora dos pensadores” é um poderoso lembrete hoje em dia.
William E. Moody
Redator convidado para este editorial
