Quando os atores em um filme desempenham seus papéis de modo convincente, acabamos acreditando que eles mesmos tenham o caráter dos personagens que estão interpretando. Mesmo sabendo que se trata de um trabalho de interpretação, o desempenho deles pode ser convincente a ponto de nos afetar emocionalmente.
Da mesma forma, o senso pessoal, ou seja, o senso falso e material a respeito de nós mesmos, dos outros, e de nossa própria experiência, pode ser ainda mais convincente. Ele apresenta um cenário e nos faz acreditar que somos o herói orgulhoso, o vilão malvado ou a vítima indefesa — e passamos a agir de acordo com essa crença.
Mas, a Ciência Cristã mostra que a existência material não é a realidade do existir. A realidade é que cada um de nós é espiritual, criado por Deus e cuidado por Ele com amor, o tempo todo. Deus é o bem infinito, que abrange toda a Sua criação, que é totalmente boa. Portanto, nunca existe um único momento em que estejamos sozinhos para enfrentar quaisquer circunstâncias ou condições. Tudo o que parece ser injusto, frustrante ou assustador não vem de Deus, mas sim, é um produto dos sentidos materiais, e não tem poder real sobre nós — a menos que acreditemos nele. Independentemente do cenário que se nos apresente, nossa parte consiste em compreender e expressar nossa verdadeira individualidade como filhos de Deus, e não desempenhar um papel falso.
Para isso, é importante escolher quais pensamentos temos em mente. Os pensamentos harmoniosos, inteligentes, úteis, alegres e pacíficos têm sua origem na Mente divina, que nos criou. Os pensamentos de medo, desarmoniosos, críticos, raivosos ou que condenam a nós mesmos ou a outros não nos pertencem, porque Deus não é sua fonte. Eles provêm do senso errôneo de que haja uma mente ou individualidade separada de Deus a qual, nas Escrituras, é chamada por Paulo de “mente carnal” e, na Ciência Cristã, é denominada “mente mortal”.
Durante vários anos, depois de iniciar o estudo da Ciência Cristã percebi, para minha surpresa e desapontamento, que, às vezes, eu sentia raiva em relação a eventos comuns, e que era difícil retornar ao estado de equilíbrio, alegria e leveza de coração que é natural para nós, como filhos amados de Deus. Sempre que ficava com raiva, eu me sentia mal com isso. Então orava, e a raiva se aplacava. Certa vez, a raiva foi tão forte que me causou um problema físico. Depois de alguns dias, a oração trouxe cura, com o reconhecimento de que a raiva é um traço de caráter que não faz parte da identidade que Deus dá a cada um de nós.
Com o estudo dedicado da Bíblia e dos escritos de Mary Baker Eddy, bem como com a aplicação, em meu dia a dia, daquilo que aprendia nesses livros, parei de sentir raiva por um longo tempo. Foi então que um dia, há alguns anos, quando eu estava trabalhando como enfermeira da Ciência Cristã, fiquei muito irritada no momento em que as tarefas diárias estavam sendo atribuídas à equipe de enfermeiros. Notei que eu estava recebendo uma tarefa que exigiria de mim novas habilidades, e logo comecei a sentir tanta raiva que eu mal conseguia pensar. Era como se eu estivesse sendo devorada pela raiva.
Mas então, um versículo da Bíblia me veio ao pensamento: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mateus 7:15). Eu sabia que essa raiva não vinha do Amor divino. Era um “falso profeta” — uma mentira sobre meu caráter e, por isso, eu tinha autoridade divina para rejeitá-la. Neguei, em espírito de oração, todos os pensamentos que pretenderiam justificar a raiva em relação a essa oportunidade de aprendizado, e comecei a recuperar meu equilíbrio.
Assim como fez Davi, quando enfrentou Golias no campo de batalha, usei as “pedras” que eu tinha à minha disposição, como a Oração do Senhor, os hinos do Hinário da Ciência Cristã e “a declaração científica sobre o existir”, que está na página 468 do livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria da Sra. Eddy. Isso ajudou a me agarrar à verdade a respeito de minha pureza inata como imagem e semelhança de Deus, até que finalmente consegui me sentir em paz. Pude então refletir com clareza a respeito da situação, e sentir gratidão pela oportunidade de aprender e praticar novas habilidades.
Ao analisar toda essa experiência em maior profundidade, compreendi como é importante vigiar atentamente nossos pensamentos, a fim de detectar os traços ruins de caráter que o senso pessoal nos atribui, como timidez, mau humor, preguiça, orgulho, indisciplina, desorganização, raiva, autogratificação e esquecimento. A crença universal é de que todos temos falhas, e que essas falhas simplesmente fazem parte de nós, por sermos humanos. Mas Deus não cria seres humanos com mentes separadas, que cometam erros, e que sejam uma mistura de características boas e más. O filho de Deus é espiritual e reflete todas as qualidades salutares da única Mente divina, e nada mais.
As chamadas falhas humanas são rótulos falsos, não leis, e por isso não temos de aceitá-las como se nos pertencessem e, consequentemente, fizessem parte do roteiro de nossa vida. Acreditar que não podemos melhorar porque fomos criados com essas falhas ou pecados, seria desonrar a Deus. A Sra. Eddy diz em Ciência e Saúde: “O homem é incapaz de pecar, adoecer e morrer. O homem real não pode se apartar da santidade, nem pode Deus, de quem o homem provém, engendrar a capacidade ou a liberdade para pecar. … Na Ciência divina, Deus e o homem real são inseparáveis como Princípio divino e ideia divina” (pp. 475, 476).
Por ser o reflexo perfeito de Deus, o homem expressa qualidades derivadas de Deus, como discernimento, paciência, obediência, humildade, amor e o desejo de ser útil e de servir a Deus de uma forma que abençoe a todos.
Eu consegui vencer o impulso de ficar com raiva ao compreender que se trata de um engano do senso pessoal, um cenário irreal, que não faz parte de minha verdadeira natureza como filha de Deus. Ainda que abandonar o errôneo senso material exija esforço, eu sou muito grata por essas lições aprendidas ao viver o Amor divino. Nós podemos e devemos corrigir tudo o que nos impediria de refletir o Amor, porque refleti-lo é nossa parte na criação de Deus, é a própria razão de nosso existir.
