Durante muitos anos, lutei contra a depressão com tendências suicidas, intensa ansiedade e baixa autoestima. Eu almejava compreender quem eu era. Frequentava a Escola Dominical da Ciência Cristã, mas me debatia com perguntas como: “Por que Deus me fez como eu sou?” “Quem me ama de verdade?” “Quem me vê e se importa com o espaço que eu ocupo?”
Eram muitos questionamentos, mas eu relutava em aceitar tudo aquilo que aprendera na Ciência Cristã, porque a maior parte do que eu lera na Bíblia e no livro-texto, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, escrito por Mary Baker Eddy, estava relacionado com Deus. E não era a respeito de Deus que eu queria saber. Eu queria respostas sobre minha própria identidade, que parecia não ter nenhuma conexão com aquilo que eu ouvira na infância a respeito de como Deus criou a todos nós — ou seja, que somos bons e Ele nos ama.
Eu tinha crises frequentes, ficava desnorteada, chorava e me sentia profundamente infeliz. Durante essas crises eu geralmente enviava mensagens de texto a algum amigo, em busca de aprovação. Era constrangedor perguntar aos amigos o que eles achavam de mim, e eu realmente nunca acreditava nas palavras amorosas de suas respostas. Em vez de me sentir encorajada, essas trocas de mensagens me deixavam ainda mais inquieta e infeliz.
Certo dia, comecei a ter mais uma dessas crises. Enquanto chorava, vinham-me à mente alguns nomes de amigos com quem poderia falar, mas eu não queria incomodá-los com esses pensamentos e sentimentos já velhos e conhecidos. Em vez de entrar em contato com eles, enviei uma mensagem de texto para meu irmão. “Você acha que eu sou um desperdício de tempo e espaço?”
“Olhe a definição de homem em Ciência e Saúde”, respondeu meu irmão, por mensagem. “Aí está quem você é.”
Fiquei chateada por ele não me dizer que eu era especial, maravilhosa ou algo do gênero. Furiosa, peguei o que pensei ser um exemplar qualquer de Ciência e Saúde e agressivamente abri o livro, no Glossário, no qual li esta definição espiritual: “Homem. A ideia composta que se origina no Espírito infinito; a imagem e semelhança espiritual de Deus; a plena manifestação da Mente” (p. 591).
Era exatamente o oposto do que eu queria ouvir. Fechei o livro com força, atordoada pela raiva e pela tristeza.
Mas por mais frustrada que estivesse, dei-me conta de que havia pedido ajuda ao meu irmão e essa fora a sugestão dele. Então, com relutância, peguei o livro de novo e estudei aquele trecho. À medida que ia lendo, percebi que esse exemplar especificamente tinha cinco marcadores coloridos. Escolhi um deles e abri em uma passagem grifada: “A individualidade espiritual do homem nunca está sujeita a errar” (p. 491).
Senti que estava um pouco mais calma e, depois de ler aquela frase novamente, a ânsia enlouquecedora por uma compreensão mais profunda de minha identidade diminuiu. O choro furioso transformou-se em lágrimas de alívio e reverência. Essa frase em especial era o que eu queria ouvir havia muito tempo. Queria saber que eu era única e especial, mas também que podia fazer parte do todo — não na visão do mundo sobre quem eu deveria ser, mas em minha própria individualidade. Eu queria estar em paz comigo mesma.
Acalmei-me e tudo silenciou dentro de mim. Continuei lendo o restante do parágrafo. Li, então, os outros trechos marcados. Cada um deles ia aprofundando o conceito de que a identidade é espiritual, completa e boa. Fiquei folheando por essas passagens grifadas por um tempo. À medida que fui lendo, deparei-me com um adesivo na capa interna. Havia nele meu nome escrito com a minha letra da primeira série.
Dei-me conta de que eu usara esse exemplar de Ciência e Saúde quando frequentava a Escola Dominical, marcando cuidadosamente essas passagens com a ajuda de meu professor. Agora, quase dezoito anos depois, eu estava redescobrindo essas ideias com uma compreensão mais profunda de seu significado e de seu verdadeiro poder.
De repente, ouvi ecoar uma voz dentro de mim: “Pegue seu computador! Digite isso agora!”
Em pouco tempo eu havia escrito um “contrato de identidade” divinamente inspirado, com base nos textos destacados. Foi uma espécie de acordo comigo mesma, afirmando que eu era suficiente devido à maneira como Deus me criara.
Cada passagem teve grande significado, mas a que mais mexeu comigo começa com a frase citada anteriormente: “A individualidade espiritual do homem nunca está sujeita a errar”, e continua: “Ela é a semelhança do Criador do homem. A matéria não pode conectar os mortais com a verdadeira origem e os fatos do existir, nos quais tudo tem de convergir. Só reconhecendo a supremacia do Espírito, que anula as alegações da matéria, é que os mortais podem se desfazer da mortalidade e encontrar o vínculo espiritual indissolúvel, que estabelece o homem para sempre na semelhança divina, inseparável de seu Criador”.
Ao escrever esse “contrato” espiritual para mim mesma, percebi que estava descobrindo a verdade fundamental de que não podemos estar separados da fonte divina de nossa identidade, Deus — não importa o quanto nos digladiemos com nosso senso do que é Deus ou lutemos contra a ideia de nossa união com Ele. Esse documento terminava com a definição de Deus, do Glossário em Ciência e Saúde, e pude perceber que, visto que Deus é a ação e o existir ilimitados e eu sou o reflexo de Deus, meu Criador, eu também expresso o existir ilimitado.
Eu antes não entendia como aprender a respeito de Deus podia ajudar-me com meu próprio senso de identidade. Mas, a partir desse ponto, compreendi que Deus é a base de tudo o que eu sou. E pude ver que todos os pensamentos negativos, que me diziam que eu não tinha valor, que eu não me encaixava em lugar nenhum, que eu não deveria existir, e outros como esses, não eram legítimos, por isso eu podia rejeitá-los.
Eu aprendera desde criança que podia dizer não a esse tipo de pensamento, mas esse conceito fora difícil de compreender. Sentira-me tão bombardeada pela depressão e pela ansiedade, que deixar esses sentimentos de lado e dizer: “Não, essa não é quem eu sou!” parecera difícil demais. Mas agora eu estava percebendo que sou — todos nós somos — seres espirituais: bons, dignos, amados. Por isso, tudo aquilo que é negativo não vem de Deus, então não tem nada a ver conosco e, sendo assim, temos o poder de dizer não a tudo isso.
Desde essa experiência, constatei que escrever sobre minhas percepções espirituais se tornou uma importante ferramenta de cura para mim, permitindo que eu me conecte e me envolva com qualquer texto espiritual que estudo. Já não luto com a depressão e tendências suicidas, com a ansiedade opressora ou a falta de autoestima, porque me sinto próxima de Deus, e isso me permite expressar livremente tudo o que sou. E cada vez que leio de novo meu contrato original de identidade, vejo um poderoso lembrete de que minha individualidade espiritual nunca está errada, nunca está perdida, e que estou sempre no meu lugar certo.