“Vá para casa e fique em casa.” Jamais imaginei que eu ia ouvir essas palavras em março de 2020. Eu vinha coreografando um número de dança para a apresentação anual na minha escola, a qual se realizaria alguns meses depois. Já havia selecionado os membros do elenco e passado muitas horas ensinando a eles minha obra coreográfica.
E então veio essa ordem! Todos na faculdade tiveram de ir embora até novo aviso, devido à deflagração da Covid. As aulas seriam realizadas on-line. Quando todos os alunos se reuniram para receber as notícias, eu também recebi uma mensagem no celular para nos reunirmos no estúdio de dança naquela noite.
Mais tarde, entrei no estúdio com medo do que poderia estar prestes a ouvir. Os esportes da temporada já haviam sido cancelados para o resto do ano. Minha professora de dança veio com a notícia de que nossa apresentação provavelmente não se realizaria. Todos ficaram com o coração partido. Fiquei chocada e totalmente decepcionada. Eu vinha trabalhando nessa apresentação de dança desde o verão anterior e agora parecia tudo em vão devido a essa pandemia?
Após nossas duas semanas de férias da época, minha professora de dança se comunicou com os coreógrafos e, em seguida, com o elenco. Ela disse que, devido a ainda termos de cumprir com nossas horas do curso, nessa altura não tínhamos realmente feito isso com a apresentação de dança, como pensáramos que tínhamos. Em vez disso, cada um de nós, individualmente, faria vídeos das danças das quais participaríamos, com base na orientação dos coreógrafos. Então, harmonizaríamos isso com o trabalho que já havíamos feito antes de nos ausentarmos da faculdade em março, e transmitiríamos essa apresentação on-line. Foi uma excelente ideia. Significava que, mesmo assim, teríamos nossa apresentação de dança!
Durante as duas semanas seguintes, além de nossas aulas por Zoom e das seções de exercícios de aquecimento, oramos juntos e compartilhamos ideias espirituais que estavam nos ajudando a seguir em frente com o nosso trabalho. No último sábado em que nos reunimos on-line, a professora de dança compartilhou um artigo da edição de outubro de 1949 do The Christian Science Journal, intitulado “Todo o caminho”, de Milton Simon. Eu já havia lido esse artigo, mas ele nunca me tocara tanto quanto nesse dia. O autor explica que uma amiga estava orando, quando lhe veio uma clara ideia de Deus, dizendo: “O Amor nunca deixa alguém na metade do caminho. Ele nos leva por todo o caminho”.
Quando a professora de dança leu essas palavras em voz alta, lembrei do mês de março, quando eu havia ficado com o coração partido, saindo do estúdio de dança em lágrimas. Nessa ocasião, nós estávamos apenas na metade do caminho do projeto de realizar juntos a apresentação, e parecia que tudo havia chegado a um fim inesperado e repentino. Nessa noite, parecia que todo o meu árduo trabalho fora em vão.
Em vez disso, aqui estava eu, sentada no meu quarto com todo o grupo de dança no meu computador. Sim, havíamos trabalhado arduamente e confiáramos na criatividade e na singeleza. Mas nesse momento, pude perceber que algo muito maior estava acontecendo. De fato, Deus nos conduzira do início ao fim. Não podia haver interrupção na continuidade do bem de Deus, pois o bem é aquilo que é sólido e real. Por isso quando compreendemos as coisas espiritualmente, vemos que não há nada que possa interferir na completude do bem de Deus.
Pensei que isso era a coisa mais legal, isto é, que a ideia da apresentação voltou a ser completa, mesmo que não fosse aquilo que eu havia idealizado no início do projeto. Ainda teria a oportunidade de compartilhar com todos a minha dança, “Uma mensagem de esperança”. Senti que a mensagem da música que eu escolhera era algo que a comunidade universitária precisava ouvir, e gostei muito da maneira como essa ideia viera a mim em junho de 2019, muito antes de saber como estaria a situação em maio de 2020. Para mim, essa foi mais uma prova de que Deus realmente estivera no comando dessa ideia do começo ao fim.
Todos os aspectos da apresentação final se encaixaram harmoniosamente. Toda a apresentação foi transmitida ao vivo. Nós apresentamos uma versão das danças que haviam sido filmadas um dia antes de irmos embora do campus, seguida de uma versão que incluía filmagens de todos nós dançando, cada um em sua casa. Todos ficamos orgulhosos do nosso trabalho e empenho.
Essa experiência é uma boa indicação de que Deus está sempre governando cada aspecto de nossa vida, e de que, quando reconhecemos isso, somos abençoados, não importam as circunstâncias. Essa é a melhor percepção que podemos ter.