1, 2, 3, 1, 2, 3.
O ritmo de minha respiração na piscina deveria me encher de alegria, mas, ao contrário, à medida eu que eu realizava a série de voltas mais difícil até aquele momento, tudo o que sentia era raiva.
Sempre nadei, desde que me lembro. Eu gostava da natação e de treinar, tanto que comecei a participar de competições. Eu ia à piscina diariamente, ou até duas vezes ao dia, e, com os campeonatos nos finais de semana, me sobrava muito pouco tempo livre.
Inicialmente, eu gostava de ser chamada de nadadora. Mas ao entrar na adolescência, comecei a sentir que estava perdendo meu senso de identidade. Eu me perguntava quem eu era fora do esporte, e como interligar todas as minhas outras áreas de interesses. Eu não sabia como era que todos os aspectos da minha vida se encaixavam.
Eu ainda praticava natação, e achava que estava gostando. Qualifiquei-me para algumas competições de alto nível e até alguns campeonatos nacionais, junto com a equipe de minha escola do ensino médio. Mas algo parecia não estar certo. Meu desempenho tinha altos e baixos, e eu me sentia descontente e desapontada, ficando furiosa comigo mesma fora da água.
O mais estranho é que embora esses sentimentos viessem com respeito à natação, eu me sentia melhor quando estava treinando. A natação se tornou ao mesmo tempo inimiga e amiga, e apesar de me dar conta de que isso não era saudável, pensei que de alguma forma o problema se resolveria por si só.
Depois de anos me sentindo desse modo, algo mudou quando fui estudar nos Estados Unidos, e lá comecei a nadar com a equipe principal da minha faculdade. Era uma instituição de ensino para Cientistas Cristãos e, ao me rodear de amigos vindos do mundo inteiro, que abordavam a natação a partir de uma perspectiva diferente, comecei a compreender que eu podia repensar o meu enfoque quanto ao esporte.
Durante muito tempo pensei que as horas que eu passava na piscina e o quanto eu estava me aprimorando eram os dois fatores que me faziam ser quem eu sou. Mas a convivência com esses novos amigos me ajudou a começar a perceber que essas coisas não me definem realmente — e a natação também não. Por ser esse um esporte que cada um pratica por si mesmo, eu pensava que tudo dependia de mim. Mas os colegas de minha equipe me ajudaram a compreender que, além do meu próprio mundo infeliz, existe muito mais.
Algo que transformou meu modo de pensar aconteceu quando o primeiro ano estava para acabar, e um colega me dizia, antes de cada competição: “Apenas esteja presente”. Bem ali, pertinho, enquanto eu me preparava mentalmente, ele se esgueirava e dizia baixinho aquelas palavras, de modo que eu não podia esquecê-las. Isso realmente repercutiu em mim e me levou a fazer uma breve pausa — um momento em que eu podia reconhecer que o bem estava presente, porque Deus estava presente.
Eu queria sentir isso mais perfeitamente, e algo dentro de mim me dizia que era assim que tudo deveria ser. Mas como poderia eu me sentir sempre desse modo? Eu havia orado pelas minhas competições antes, mas agora seriamente me comprometi a orar quanto ao meu relacionamento com o esporte, tendo como base o que eu havia aprendido na Ciência Cristã.
Duas ideias realmente me ajudaram. A primeira está no início de um poema escrito por Mary Baker Eddy: “Gentil presença, gozo, paz, poder; / Vida divina, reges o porvir” (Hino 207, Hinário da Ciência Cristã, trad. © CSBD). Para mim a presença de Deus significa a presença do bem. E saber disso me ajuda a reconhecer que posso estar consciente do bem e sentir o poder de Deus junto de mim. “Reges o porvir” me faz lembrar de que necessito mudar o foco de meu pensamento, da atenção única à velocidade atingida para o reconhecimento do que Deus está fazendo naquele momento.
Orei também com a ideia do significado de “habitar com o Senhor” (ver 2 Coríntios 5:8). Esse versículo me ajudou a compreender que sou realmente una com Deus, então não tenho de me sentir ansiosa ou furiosa; em vez disso, posso sentir o conforto de Deus, tanto antes da competição, quanto na piscina.
Orei com essas ideias durante dois anos. Com essa dedicação veio o desdobramento do bem em todos os aspectos de minha vida. Senti outra vez amor pela natação e passei a expressar com menos esforço as boas qualidades espirituais vindas de Deus. Com isso se fortaleceu, se expandiu e se espiritualizou meu senso de identidade, e pude perceber o quanto todas essas características se relacionavam com cada parte da minha vida, inclusive meus interesses fora da área da natação. Adquiri um senso de completude e inteireza ao reconhecer que sou espiritual e que posso expressar de maneira ilimitada todas essas qualidades, porque elas vêm de uma fonte infinita.
Agora compreendo não apenas de que realmente se trata a natação, como sei também quem eu sou.