Minha vida era boa, mas eu tinha um segredo. Eu ia bem na escola, minha família era feliz e usufruía de boa situação financeira, mas eu não conseguia livrar-me de uma pergunta que me atormentava havia tempo: para que tudo isso?
Ou seja: qual é a razão de tudo isso, se um dia todos vamos morrer?
Um pensamento negativo, concordo, mas era como eu me sentia. Em eventos sociais eu agia com sarcasmo. Pensava que todos estavam enganando a si mesmos com futilidades, conversas insignificantes, compras e viagens. Parecia que todos ignoravam que, a longo prazo, nada justificava tudo aquilo. Pelo menos era assim que eu pensava.
Ninguém sabia de minha luta interior, pois eu não queria preocupar os outros. Fugia dessa escuridão, mantendo-me ocupada com deveres da escola, ensaios de peças de teatro, TV e amigos.
Eu não levava muito a sério meu estudo da Ciência Cristã, e nunca havia pensado que esses ensinamentos poderiam ser importantes para eu me curar da angústia e falta de propósito. Ninguém se dava conta de meu problema. Eu me sentia no fundo do poço. A melancolia estava sempre ali, à flor da pele, e perdurou por dois anos. Cheguei a pensar em suicídio, mas amava muito minha família para fazê-los passar por um problema desse tipo.
As tardes de domingo eram as mais difíceis. Não havia escola, nem ensaios, nada para ocupar meu tempo e empurrar para a frente o fardo. Um domingo à tarde eu estava sozinha, muito triste em meu quarto, remoendo a pergunta “para que tudo isso?”, quando um pensamento surgiu do nada e me surpreendeu: “você poderia tentar orar”.
“Não me venha com essa!”, eu pensei. “A oração não vai mudar nada a respeito dos problemas básicos da vida.”
Mas eu estava me sentindo tão deprimida, que tentei orar. Para mim, orar significava ouvir. Uma espécie de espera para sentir um senso de bondade a me encobrir. Eu queria sentir que Deus é bom, o Amor total, presente em toda parte. Enquanto aguardava esse senso de paz, um pensamento negativo se insinuou: “Isso pode ser verdade no plano espiritual, mas o que tem a ver com a vida aqui?”
Então, a resposta veio em um pensamento grandioso: “Você tem razão. Tudo isso não tem nada a ver com a matéria. Você está procurando no lugar errado!”
Foi como se alguém tivesse falado comigo. Dei-me conta, então, de que eu estava procurando sentido e propósito na existência mortal, na qual não há, nem jamais haverá, sentido nem propósito.
Na mesma hora me senti mais leve, e um grande alívio tomou conta de mim. O ponto decisivo foi não me deixar enganar pela versão limitada e sombria da vida, pois na verdade vivemos para sempre na realidade de Deus, do bem — a realidade espiritual. Basta olhar em outra direção, olhar para o lado certo. Percebi que era perfeitamente natural usufruir das coisas boas da vida. No entanto, para ser de fato gratificante, a satisfação para mim tinha de vir de uma fonte mais profunda.
Suponhamos que você passe um final de semana na praia. Se você participa das atividades de maneira superficial — banhos de sol e longas caminhadas — você corre o risco de ficar desapontada. Sua felicidade depende dos amigos, de que o tempo esteja bom, ou de que todos estejam de bom humor. Mas tudo isso pode falhar, e é então que a vida pode parecer inútil.
Em vez disso, em todas as situações precisamos procurar o bem no senso mais profundo das coisas. Por exemplo, na praia podemos:
- Reconhecer que a beleza natural do lugar tem origem na Alma, a fonte de toda a beleza. (Nesse caso, não importa se chover.)
- Apreciar a gentileza que as pessoas expressam, pois é uma manifestação do Amor; e se alguém for descortês ou indelicado, negar a realidade desse ato, porque só o Amor enche todo o espaço.
- Perceber a energia e a força da Vida, a qual pode ser vista na habilidade dos surfistas e nos esportes de praia, ou na brisa em nosso rosto quando andamos pela praia, ou na alegria de dançar durante horas.
Minha vida mudou completamente quando entendi que, diante da pergunta “para que tudo isso?”, há uma resposta espiritual. Procurei “sentir a Deus” nas pequenas coisas do dia a dia. Algo que Mary Baker Eddy escreveu em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras resume essa ideia: “Temos de examinar profundamente o que é real, em vez de aceitar apenas o senso exterior das coisas” (p. 129). Ou seja, ao invés de viver superficialmente, comecei a enxergar conversas, amizades — a vida! — a partir de um ponto de vista espiritual.
E continuei a agir assim. Não que tenha me tornado santa ou alheia ao mundo. Foi uma sutil mudança de atitude; passei a ver a vida sob outra perspectiva.
Agora vejo meu dia a dia como um grande laboratório, no qual posso explorar o que Deus é, o Amor, observar como o Amor se expressa de maneiras infinitas, e como posso vivenciar a cura.
Esse é o significado da vida. Tão simples! Tão profundo!