Lá estava eu, em um encontro com um rapaz de quem eu gostava, e sem saber o que falar. Eu não conseguia pensar em algo interessante para dizer, e minhas respostas às perguntas que ele fazia eram pequenos murmúrios. Ele me levou para casa, e nunca mais o vi.
Essa foi uma experiência dolorosa — mas também não foi a única. Durante minha adolescência e juventude, às vezes eu sofria com baixa autoestima, que eu considerava ser uma característica recorrente na minha família. Eu já havia visto parentes meus com a mesma dificuldade em se expressar e com o embaraço associado a esse problema. Isso me fazia sentir sem valor nenhum, como se mais cedo ou mais tarde as pessoas fossem descobrir que eu era uma impostora. Eu tinha medo de que os outros pudessem chegar à conclusão de que talvez eu realmente não tivesse nada a dizer.
Desenvolvi alguns mecanismos de defesa bastante úteis, como chegar tarde em eventos e sair cedo, para não ter de falar com ninguém. Esse procedimento podia até ajudar a evitar o constrangimento de conversar, mas não resolvia o problema. Contudo, eu não me esforçava muito para buscar outra solução, pois eu achava que autoestima baixa era simplesmente algo com que eu teria de conviver.
Eu havia frequentado a Escola Dominical da Ciência Cristã desde pequena. Lá, eu tinha aprendido como orar por mim mesma, mas, na maioria das vezes, eu só fazia isso quando estava me sentindo mal. Naquele momento, eu estava querendo aplicar o que havia aprendido sobre Deus em outros tipos de coisas na minha vida. Para começar, procurei conhecê-Lo melhor.
Inicialmente, não fiz nenhuma conexão entre aprender a respeito de Deus e encontrar um jeito de me desvencilhar desses sentimentos de inferioridade. Mas, um dia, houve um momento decisivo. Meu chefe me chamou à sala dele para uma conversa. Gelei, imediatamente, pensando: “Ele descobriu”. Então, veio-me ao pensamento a seguinte pergunta: “Descobriu o quê?”
Parece uma pergunta tão simples, mas senti um poder sanador por trás dessa indagação e, então, reconheci que a pergunta vinha de Deus. Naquele momento, dei-me conta do quão absurdo era o medo que eu sentia, e este desapareceu. Consegui participar com calma e confiança da reunião com meu chefe, que acabou sendo apenas uma análise de rotina de um projeto no qual estávamos trabalhando.
Depois da pergunta “Descobriu o quê?”, tomei a decisão de orar mais profundamente a respeito da sensação de que eu era uma impostora. A primeira ideia que me ocorreu foi reconhecer que minha verdadeira identidade era derivada unicamente de Deus, sendo, portanto, harmoniosa em todos os aspectos. Não era algo que eu herdara de uma longa linhagem de pessoas. Esse raciocínio tinha como base uma declaração de que eu gostava muito, escrita por Mary Baker Eddy em seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Na Ciência o homem é gerado pelo Espírito. O belo, o bom e o puro constituem sua ascendência” (p. 63). Ao aplicar essa ideia com relação a mim mesma, comecei a desemaranhar os pensamentos que sugeriam que eu estava predestinada a me sentir inferior, como se isso fosse uma lei.
Sim, esse conceito de quem eu era parecera convincente durante um longo tempo, mas, por meio de minhas orações, eu estava compreendendo que essa noção era uma percepção errônea, nada mais do que uma sugestão, que não precisava ser minha realidade. Em vez disso, tornou-se claro para mim que eu sou a filha de Deus, que é meu Pai-Mãe, e que esse é o fundamento de minha identidade.
Era como se eu estivesse saindo de um túnel escuro, rumo a uma luz brilhante; uma sensação maravilhosa de paz e entusiasmo me envolveu. Senti a presença de Deus. Reconheci esse sentimento como sendo a confirmação de minha filiação legítima e individual, não como uma impostora, e sem nunca ter herdado a baixa autoestima.
Embora não tenha me tornado instantaneamente mais falante, eu realmente comecei a me sentir mais à vontade ao conversar. Uma compreensão mais profunda quanto à minha relação permanente com Deus havia silenciado meu medo, e permitido que eu sentisse o amor de Deus. Isso me ajudou também a prestar menos atenção em mim mesma e mais nos outros à minha volta, e a me esforçar por ser compassiva quando alguém estivesse em dificuldade.
Ainda hoje, passados muitos anos, essas lições permanecem comigo — e continuam a se expandir! Tornou-se natural para mim reconhecer que todos somos filhos do Espírito divino, que expressamos nossa identidade genuína por sermos o reflexo de Deus, e nos relacionamos uns com os outros tranquila e livremente.