Será que existe uma forma de sair do caos e entrar para a ordem e a harmonia? Essa é uma necessidade dolorosamente sentida, e a resposta é muito procurada em toda parte. Mas, ao procurarmos uma saída em meio a um mundo totalmente desordenado, será que o caos possa ser o próprio precursor da paz que almejamos ver realizada?
Uma promessa nesse sentido é encontrada nesta notável declaração de Mary Baker Eddy, em seu livro A Unidade do Bem: “O caos da mente mortal se converte no degrau que leva ao cosmos da Mente imortal” (p. 56).
Talvez o caos desperte em nós o desejo natural de sair dele. Para nos libertarmos da exaustão que a desarmonia nos causa, é natural — e espiritualmente inato — que procuremos algo distinto, invertamos nossa direção e avancemos em direção a um terreno mais seguro e mais pacífico. Aí podemos começar a ver o oposto, o universo ordenado e harmonioso — o cosmos — da Mente imortal, Deus. A vida materialista e caótica, decorrente das limitações da mentalidade material que pareceria obscurecer a presença da Mente divina, gera uma insatisfação que se transforma em um forte impulso para avançarmos em direção contrária.
Por exemplo, se nos sentimos odiados ou cheios de ódio, podemos remover esse sentimento voltando-nos diretamente para o Amor divino, Deus, e expressar um amor que tire tanto a nós mesmos como aos outros da discórdia e da desarmonia. Não importa quantas vezes sintamos a necessidade de reverter nosso curso de pensamento e de ação, porque esse poderoso senso do Amor é o Princípio e, portanto, está sempre presente e ativo.
Se estivermos atentos, podemos detectar antecipadamente o medo que está por trás do caos ou do ódio, e podemos deixar que nossos pensamentos sejam alimentados pela Mente divina e sigam em direção oposta, geradora de paz. O caos realmente não pode nos controlar. Nenhuma mente caótica e mortal pode influenciar ou manipular nossa vida e confundir nossa visão a respeito do verdadeiro caminho que leva à liberdade, à concórdia e à estabilidade.
Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Sra. Eddy expôs sua descoberta — as leis divinas que governavam Cristo Jesus e que o capacitaram a realizar as obras primordiais do Cristianismo, pregando e dando provas das leis de Deus. Essas leis nos governam hoje de modo tão consistente quanto o princípio do voo, que até hoje mantém nas alturas pássaros e aviões.
Nesse livro, a autora nos pergunta se aceitamos o modelo mortal acerca de nós mesmos e dos outros, modelo esse que o mundo mantém constantemente diante de nossos olhos. Talvez esse modelo apareça como o caos da vida baseada na matéria, e que talvez se apresente tão atrativo quanto assustador. Mas trata-se de um modelo imperfeito, pois pode ser cruel, hediondo, e limitar a obra de nossa vida e nossa visão da humanidade. O remédio é evidente: “… temos primeiro de volver o olhar para a direção certa, e então seguir esse caminho” (p. 248).
Que palavra é esta: olhar! Vai além de simplesmente dar uma vista d’olhos, inclui a intenção de contemplar. Ao contemplar as estrelas, optamos por descobrir algo que nos é novo — uma constelação, um satélite ou uma aurora. Ou, mais próximo de nós, ao contemplarmos através das lentes do Espírito, discernimos a incrível e infinita individualidade do gênero humano.
Para onde deveríamos volver o olhar, a fim de inverter a tendência de contemplar o modelo mortal, a escuridão e o caos da crença mundial, que parecem prender a humanidade na aparente realidade da matéria com seus conflitos ruinosos — e tão frequentemente trágicos? O inverso, o modelo perfeito, é “o desprendimento do ego, o bem, a misericórdia, a justiça, a saúde, a santidade, o amor — o reino dos céus” reinando dentro de todos nós (ver Ciência e Saúde, p. 248). Não há nada de caótico nisso; na verdade, à medida que essas qualidades divinas são vividas, as condições discordantes de pecado, doença e morte perdem sua influência até desaparecerem. Conforme diz o Hino 346 no Hinário da Ciência Cristã:
Tua Palavra, Pai,
Nas trevas ressoou,
E os céus formou.
(John Marriott, alt.)
Por quê? “As trevas e o caos são os opostos imaginários da luz, da compreensão e da harmonia eterna, e são os elementos do nada” (Ciência e Saúde, p. 479). Eles não têm lugar em Deus, a Mente, nem na infinita harmonia e ordem que estão realmente presentes. Quando volvemos nosso olhar para Deus, descobrimos que a luz e a alegria da Mente superam e excluem a escuridão e a tristeza do caos. Então o caos se torna o trampolim para o cosmos, a harmonia eternamente presente e imortal da Mente divina, e não causa mais medo.
Um exemplo bíblico de como volver nosso olhar na direção certa, é naturalmente Saulo, mais tarde conhecido como Paulo (ver Atos 9:1–20). Ele temia que os novos ensinamentos de Jesus, o cristão por excelência, perturbassem o mundo que ele conhecia, ou alterasse o precário equilíbrio que existia entre os fariseus e os invasores romanos. Ele ficou do lado dos repressores do Cristianismo nascente. Mas seu próprio momento de despertar, em Damasco, fazendo volver seu olhar para o Cristo e encontrar a luz em meio às trevas, levou-o a uma vida inteira de contínua expansão do poder amoroso do Cristo e sua paz. Essa era a nova ordem — o verdadeiro cosmos da Mente divina — a realidade espiritual na qual devemos fixar nosso olhar, realidade essa que o Paulo transformado nunca deixou de seguir e comprovar.
Não precisamos temer o caos. Em vez disso, podemos vê-lo como o precursor de nossa mudança de direção, de um passo em direção à ordem e à harmonia da Mente imortal.
Rich Evans
Membro da Diretoria da Ciência Cristã