Uma frase no livro dos Salmos, na Bíblia, capta bem aquilo que, muitas vezes, pensamos sobre os políticos que têm ideias contrárias às nossas. O trecho menciona o homem [ou mulher] “que leva a cabo os seus maus desígnios” (Salmos 37:7)!
Mesmo que os candidatos em questão fossem realmente a ameaça existencial que, em nossa opinião, representam, a orientação dada pelo Salmista no mesmo versículo, é a seguinte: “Descansa no Senhor e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios”.
Não se irritar significa não deixar que a preocupação reine em nós. Tanta coisa parece estar em jogo nas eleições, que talvez pareça racional temer um determinado resultado que consideramos ruim. Mas o medo abala nosso senso de domínio, ao passo que olhar para além das oscilações diárias do cenário político nos permite reconhecer o único poder que já está empossado e que sempre está em atividade, o governo estabelecido para sempre, incorruptível e imparcialmente bom para todos. Acima de tudo, trata-se de um poder que não causa danos, mas sim ama e cura: o poder do Cristo, a verdadeira ideia de Deus, tão evidente em Jesus, “…o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele…” (Atos 10:38).
O “diabo” opressor, do qual Jesus libertou muitos indivíduos, não era uma pessoa ou um grupo de pessoas maldosas; aqueles que ele curava eram libertados da influência daquilo que a Bíblia chama de mente carnal. Essa mente carnal, mortal, é a percepção errônea de que haja vida e poder independentes da Mente divina e infinita, Deus — a verdadeira origem de toda identidade individual. Mary Baker Eddy, que descobriu a Ciência divina que fundamentava as curas de Jesus, descreve assim o que ele comprovou: “Não existe poder a não ser o de Deus. A onipotência tem todo o poder, e reconhecer qualquer outro poder é desonrar a Deus” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 228).
Podemos seguir os passos de Jesus e honrar a Deus abrindo nosso coração para essa Ciência atemporal, que reconhece que todo o poder pertence a Deus. Cada vislumbre da onipotência de Deus, o bem, contraria a narrativa da mente mortal de que a opressão seja inevitável. E cada cura individual comprova que a mente mortal é desprovida de poder, frente ao poder absoluto da Mente divina. Por sua vez, essas provas de cura mostram que, na verdade, não há nenhum apoio divino para as invasivas alegações de que a mente carnal tenha o controle sobre uma comunidade ou uma nação. Visto que o “…controle da Mente sobre o universo, que inclui o homem, já não é uma questão a discutir e sim uma Ciência demonstrável” (Ciência e Saúde, p. 171), não existe a possibilidade de a mente carnal assumir o poder.
Quando somos curados, naturalmente transparece em nós o regozijo de que fala Ciência e Saúde: “Regozijemo-nos por estarmos sujeitos às divinas ‘autoridades que existem’. Essa é a verdadeira Ciência do existir” (p. 249). Esse regozijo provém unicamente do fato de Deus ser o detentor de todo o poder, como Ele realmente é, e essa causa espiritual de regozijo continuará válida no futuro, independentemente do que venha a acontecer.
Mas como podemos sentir de maneira mais tangível essa fonte de regozijo? A resposta está um pouco antes, em Ciência e Saúde, quando é mencionada a necessidade de cada um “…formar modelos perfeitos no pensamento e contemplá-los continuamente…”, pois assim “os esculpiremos em uma vida sublime e nobre” (p. 248). Ao fazer isso, nós nos regozijamos, não apenas porque estamos sujeitos ao poder divino, mas também pelo efeito inevitavelmente mais amplo dessa verdade. Conseguir continuamente formar esses modelos perfeitos no pensamento, e viver cada vez mais uma vida sublime e nobre, constitui a cura para nós mesmos, e nos habilita a ajudar os outros a serem curados também.
Na mesma página de Ciência e Saúde, encontramos a orientação sobre como podemos fazer isso: “Que o desprendimento do ego, o bem, a misericórdia, a justiça, a saúde, a santidade, o amor — o reino dos céus — reinem em nós, e o pecado, a doença e a morte diminuirão até finalmente desaparecerem” (p. 248).
Investir tempo e energia dando prioridade a essas etapas do crescimento espiritual individual não significa ficar indiferentes ao caldeirão de ideias do período eleitoral. Ao contrário, significa exercer uma influência para o bem que alcança a vida de outros. Tornamo-nos transparências mais claras para Deus, a Vida, a Verdade e o Amor. Expressamos habitualmente a Vida divina em qualidades como cortesia e compaixão incondicionais; honramos a Verdade divina, recusando-nos a acreditar ou divulgar mentiras, não dando crédito à noção de que elas terão algum efeito; e amamos nossos inimigos, reconhecendo a verdade espiritual de que não existe um possível inimigo, verdade essa que transforma a nós mesmos e aos outros.
Regozijarmo-nos porque estamos sujeitos às divinas “autoridades que existem” também nos ajuda a discernir se estamos sendo levados a endeusar autoridades humanas que existem (ou alegam existir!) por considerar alguém como um salvador a ser adulado, ou como um demônio a ser temido e odiado. Precisamos deixar o senso pessoal a respeito dos outros e de nós mesmos, e nos voltar para a Verdade — quaisquer que sejam as notícias mais recentes sobre o desenrolar dos acontecimentos — e abrir espaço à influência do Cristo, que traz à luz a própria autoridade de Deus, a qual, conforme Jesus demonstrou, tem o efeito sanador mais profundo e de maior alcance.
O reconhecimento do poder de Deus também nos liberta do perigo de ficarmos excessivamente fascinados ou ansiosos com as eleições. Isso não significa que devamos ignorar as questões em jogo —– ou deixar de usufruir o privilégio e direito de votar, nas localidades em que se tem esse direito. Em verdade, esse reconhecimento nos eleva para que sintamos a influência da atuação do Princípio divino, Deus, e vejamos sua supremacia, mesmo na disputa humana entre candidatos e eleitores. Podemos manter firmemente esse ponto de vista mais elevado e sanador ao longo de todo o processo eleitoral, inclusive durante a contagem dos votos. Em vez de acompanharmos apaixonadamente a apuração com empolgação ou nervosismo, podemos declarar a continuidade do controle de Deus, em uma oração que busca compreender, reconhecer e, sim, se regozijar na realidade que abençoa a todos, a realidade das divinas “autoridades que existem”, permanentes e perpétuas.
Evidentemente, os resultados das apurações são muito importantes para cada nação que esteja realizando uma eleição, e até para as nações vizinhas. Mas, nos dias após a eleição, independentemente de quem for eleito para o governo humano, ainda podemos seguir a orientação do Salmista: “Descansa no Senhor e espera nele”. Podemos descansar, reconhecendo que o Amor divino, Deus, realmente reina sobre todos, e que esse poder do Amor está sempre presente para ser demonstrado na cura das comunidades e das nações.
Tony Lobl
Redator-Adjunto