Talvez alguns de nós já tenhamos enfrentado desafios relacionados a carência ou escassez para os quais achávamos impossível haver solução. A preocupação de não ter recursos suficientes, e o medo de não conseguir fazer o que precisamos, agitam o pensamento e podem nos levar a conclusões equivocadas quanto à fonte de nossa real suficiência, que é Deus.
No Evangelho de João, lemos que uma multidão seguia Jesus devido ao modo como ele curava os doentes (ver 6:5–13). Nessa passagem, Jesus põe à prova um dos discípulos, chamado Filipe, perguntando-lhe onde poderiam comprar pães para dar de comer àquela multidão de mais de cinco mil pessoas. A resposta de Filipe demonstrou que ele duvidava bastante de que isso seria possível. Ele disse: “Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu pedaço”. Outro discípulo de Jesus, chamado André, disse que ali havia um rapaz que tinha cinco pães de cevada e dois peixes, os quais, no seu entender, seriam insuficientes para alimentar tantas pessoas.
Segue-se então um trecho desse relato que, a meu ver, foi de fundamental importância para que Jesus multiplicasse aqueles pães e peixes de modo a satisfazer a todos, e com sobra suficiente para encher 12 cestos: Jesus pediu que o povo se assentasse. Mas qual seria a importância dessa simples ação? Será que Jesus não poderia ter multiplicado e distribuído os pães para a multidão se todos tivessem continuado em pé? É claro que sim. No entanto, penso que talvez a instrução para que se assentassem tenha sido uma forma de acalmar o pensamento deles.
O pensamento de escassez, a crença de que o bem esteja disponível somente para uns poucos escolhidos, é algo que pode e deve ser refutado, porque Deus não reserva o bem somente para alguns de Seus filhos. O bem é ilimitado e está acessível a todos! E Jesus sabia disso. Ele reconhecia a suficiência divina — o poder de Deus que atende às necessidades de todos. E esse reconhecimento permitiu a Jesus realizar essa maravilhosa multiplicação.
Outro relato, desta vez no Evangelho de Lucas (ver 10:38–42), diz que uma mulher chamada Marta hospedara Jesus em sua casa. Sua irmã, Maria, ficava assentada aos pés de Jesus ouvindo seus ensinamentos, enquanto Marta se agitava de um lado para outro em muitos serviços. Em determinado momento, Marta pede que Jesus ordene a Maria que vá ajudá-la. Mas Jesus responde: “Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”.
A agitação causada pelas preocupações não permitia que Marta usufruísse da oportunidade de assentar-se aos pés de Jesus para ouvir-lhe os ensinamentos. Essa história bíblica me ensina que nosso pensamento deve estar calmo para se alinhar com a realidade divina. Precisamos impedir que o medo, a dúvida e a agitação decorrentes de nossas obrigações nos desviem da verdade espiritual de que a suficiência vem de Deus. Para o “pensamento calmo e elevado”, ao qual Mary Baker Eddy se refere em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras (p. 506), nunca há carência ou falta de comida, de suprimento ou de compreensão espiritual. Essa perspectiva elevada traz à luz o bem sempre presente que nos é dado pelo Princípio divino, Deus, que continuamente governa o universo.
Há alguns anos, tive a oportunidade de aplicar, em uma experiência pessoal, esse entendimento a respeito da suficiência divina demonstrada nesses dois relatos bíblicos. Na época, eu estava realizando uma transação imobiliária em que precisava vender, quase que simultaneamente, dois apartamentos para poder adquirir o imóvel de que nossa família necessitava. Parecia algo impossível de ser feito, tanto devido aos valores de avaliação dos imóveis, quanto à situação de estagnação do mercado. O senso pessoal de responsabilidade me levou a uma agitação como a de Marta.
A falta de progresso, nas semanas seguintes, me fez questionar se meu pensamento a respeito do negócio estaria mesmo correto. Foi quando me lembrei da passagem bíblica sobre a multiplicação dos pães e dos peixes, e da importância, no meu entender, de a multidão se assentar na relva como um modo de acalmar o pensamento e de estar receptiva às orientações de Deus.
Minhas ações precisavam ser orientadas, em primeiro lugar, pela confiança na suficiência divina, e não pelo medo de não conseguir realizar a transação. E o negócio deveria abençoar todos os envolvidos: o vendedor, o comprador, a imobiliária, o corretor e a comunidade. Entendi que eu não precisava mais ficar me agitando, indo de um lado para o outro, fazendo muitas coisas. Eu deveria apenas, como fez Maria, assentar-me aos pés de Jesus, por assim dizer, e ouvir-lhe os ensinamentos — a inspiração que viria do Cristo, a Verdade.
No livro-texto da Ciência Cristã, lemos: “Ao tomar consciência das tarefas infinitas da verdade, nos detemos — esperamos a direção de Deus” (Ciência e Saúde, p. 323). Foi exatamente o que fiz.
Procurei manter o pensamento calmo e aguardei o direcionamento da Mente divina, Deus. Nada mais de agitação, nem de medo de o negócio não dar certo.
Em pouco tempo, surgiu uma excelente oportunidade, tanto para minha família quanto para a vendedora da propriedade que desejávamos adquirir. Ela aceitou um dos apartamentos como parte do pagamento e, em poucas semanas, uma pessoa interessada em comprar o outro imóvel nos ofereceu o valor exato de que necessitávamos para saldar a dívida.
Sou imensamente grato por essa experiência, que nos permitiu demonstrar que o “pensamento calmo e elevado” supera o medo e a ansiedade, confirmando que Deus, o bem, está continuamente suprindo todos os Seus filhos de tudo o que necessitam. Aprendamos a lição dos Evangelhos e assentemo-nos, aos pés de Jesus, para elevar o pensamento em atitude de receptividade a seus ensinamentos, e aplicá-los em nossa vida.