É perfeitamente natural que desejemos manter viva a memória daqueles que já não estão conosco. Nossa gratidão pelo que fizeram — sua influência e suas realizações — talvez esteja nas profundezas de nosso próprio pensamento, mas nem por isso deixa de ser genuína.
Também é natural que devamos manter-nos lembrados de que as qualidades que tornam os indivíduos estimados uns dos outros são imortais. Essas qualidades são derivadas da Mente imortal; elas refletem a natureza da Alma. Segue-se, então, que a pessoa que manifesta essas qualidades deve continuar a manifestá-las de acôrdo com a lei da Vida imortal, ou imorredoura.
As conclusões que tiramos de nossos sentidos e experiências pessoais não são capazes de absorver as gloriosas realidades da existência eterna do homem. Isso, entretanto, não nos priva da certeza de que aquêle que desapareceu continua a viver. Em realidade, a vida do homem reflete a Vida, Deus, que não conhece comêço nem fim.
A percepção humana é tão limitada que, de vez em quando, nós nos afastamos daquilo que vemos através da vista e confiamos em alguma coisa mais substancial. Assim têm feito os povos através dos séculos. “Andamos por fé, e não pelo que vemos”, assim declarou Paulo na sua segunda epístola aos Coríntios (5:7). Precisamos confiar na fé “não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas”, como disse Paulo no capítulo anterior (vers. 18).
Isto não significa que se tenha fé naquilo que é desconhecido; significa ter fé naquilo que não é visto — naquilo que a Verdade revela ao pensamento humano mesmo que não se torne aparente aos sentidos físicos.
A fé, para que inspire confiança, deve estar baseada no fato. A simples fé humana, baseada no testemunho dos sentidos físicos e finitos, merece tão pouca confiança quanto a razão humana baseada em tal testemunho. Mas a fé em Deus, Vida imortal, como fonte e substância da existência imorredoura do homem, assenta sôbre a Verdade revelada. “É a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hebreus 11:1).
A Ciência Cristã [Christian Science] ensina que o ser humano sobrevive à morte porque a verdadeira individualidade espiritual de cada um de nós nunca morre. Mary Baker Eddy escreve em “Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras” (p. 426): “Quando se compreender que a doença não pode destruir a vida e que não é pela morte que os mortais são salvos do pecado ou da doença, essa compreensão nos vivificará de novo.” A seguir acrescenta: “Ela superará tanto o desejo de morrer como o pavor ao túmulo e destruirá assim o grande mêdo que aflige a existência mortal.”
Se identificamos uma pessoa corporalmente, acreditamos que ela vive e morre num corpo físico. Então, quando enterramos o corpo, supomos que foi a pessoa que enterramos. Mas, assim não é. Enterramos apenas o conceito que fazíamos da pessoa. Não poderíamos enterrar o conceito que tal pessoa fazia de si mesma. Nossa crença de que ela morreu e foi enterrada coloca-nos num estado mental inteiramente diferente do estado mental daquela pessoa, do mesmo modo que duas pessoas adormecidas no mesmo aposento são incapazes de se comunicar uma com a outra a menos que ambas despertem.
Uma ilustração muito útil daquilo que estamos discutindo é a diferença que existia entre a experiência por que passou Jesus e a experiência por que passaram outras pessoas por ocasião do falecimento de Lázaro, segundo o relata o décimo-primeiro capítulo de João. Aquêles que aceitavam o sentido mortal de vida acreditavam que Lázaro estava morto. Por isso, colocaram-no num túmulo. Mas o que Jesus aceitou em referência à natureza do homem habilitou-o a ressuscitar Lázaro do túmulo.
Mrs. Eddy explica a situação nestas palavras (Ciência e Saúde, p. 75): “Jesus ressuscitou Lázaro pela compreensão de que Lázaro nunca havia morrido, e não por admitir que seu corpo havia morrido e depois voltara a viver.” A seguir, ela continua: “Tivesse Jesus acreditado que Lázaro havia vivido ou morrido no corpo, o Mestre teria estado no mesmo plano de crença em que estavam aquêles que enterraram o corpo, e não o poderia ter ressuscitado.”
Nós nos submetemos à crença de que um amigo está morto apenas em razão de um sentido material de existência e porque não temos compreensão espiritual que nos habilite a negar e repreender êsse falso senso de existência como impostor que é. Assim não aconteceu com Jesus. Seu sentido espiritual de existência fê-lo superior ao falso testemunho do sentido material. E nós, também, seremos superiores a êsse falso sentido quando, através da Ciência divina, formos capazes de discernir os fatos espirituais do ser.
Quando o sentido espiritual nos habilita a substituir as ilusões do sentido material pelas realidades da Alma, nós despertaremos do sono mesmérico do materialismo, e nos daremos conta daquilo que a Ciência revela no que concerne à existência imorredoura do homem. Passo a passo, o nosso pensamento será iluminado até que não mais ponhamos em dúvida as possibilidades de superarmos a morte, e provaremos a verdade da afirmação do Mestre (João 8:51): “Se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte.”