Um de meus tesouros de infância era um odre de couro adquirido em Stratford sôbre o Avon, Inglaterra, o qual, segundo opinião geral, era muito antigo. De tão velho, o couro estava quase preto e havia perdido tôda a flexibilidade; por isso, o odre, como tal, já não tinha serventia. Era interessante apenas como curiosa lembrança histórica; se o usasse para o fim a que originàriamente se destinava — o transporte de líquidos — talvez se rompesse.
Mais tarde, isso trouxe-me à lembrança a espécie de vazilha de couro para conter vinho à qual Jesus se referiu quando disse (Marcos 2:22): “Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho, como os odres. Mas, põe-se vinho novo em odres novos.”
Às vêzes, um pesquisador da Ciência Cristã [Christian Science] fica perplexo com a insistência de que não se podem misturar as drogas e a Ciência, e que a melhora ou a cura da matéria não passa de uma eventualidade do método científico. Tôda ênfase é posta no desenvolvimento espiritual, e a cura física é tida como um produto acessório de tal desenvolvimento — mas apenas como produto accesório, não como primeiro resultado. Uma analogia que se estabeleça com o odre de couro talvez sirva para explicar êsse fato.
No livro-texto, Ciência e Saúde, Mrs. Eddy apresenta “a exposição científica relativa ao ser” (p. 468): “Não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria. Tudo é Mente infinita e sua manifestação infinita, porque Deus é Tudo-em-tudo. O Espírito é a Verdade imortal; a matéria é o êrro mortal. O Espírito é o real e eterno; a matéria é o irreal e temporal. O Espírito é Deus, e o homem é Sua imagem e semelhança. Por isso o homem não é material; êle é espiritual.”
Como pode o homem — feito à imagem e semelhança de Deus, e, portanto, espiritual — ter um corpo material? A resposta é evidente por si mesma; êle não pode, a não ser para o suposto sentido material. Isto, de fato, é vinho novo para aquêles que habitualmente pensam estar residindo num corpo material e que, por isso, se acham em poder dêle.
Ora, um corpo material dificilmente pode ser um confortável ou possível domicílio para quem tenha a convicção de que o mesmo corpo, como matéria, é êrro mortal, irreal e temporário, uma vez que o Espírito é a única realidade. Isto é, de fato, tanto quanto pedir à mente carnal ou mortal que descreia de sua própria existência. É inevitável que tal vinho novo faça romper o pensamento material, que é incapaz de recebê-lo.
Além disso, é óbvio que, declarar a irrealidade de um corpo material e ao mesmo tempo tratá-lo com medicamentos (outra forma de matéria) a fim de melhorá-lo levaria ao cáos. Eis por que a Ciência Cristã [Christian Science] insiste em que se faça uma escolha. É também necessário reconhecer o absurdo que é o tentar-se melhorar ou curar a matéria, isto é, aquilo que não existe, ou o homem, a perfeita semelhança de Deus.
Como e que a Ciência resolve êsse suposto dilema? Na página 281 de Ciência e Saúde, nossa Líder escreve: “A Ciência divina não deita vinho novo em odres velhos, não põe a Alma na matéria, nem o infinito no finito.” Ela continua no mesmo parágrafo: “É preciso expulsar a crença antiga senão a idéia nova se derramará, e a inspiração, que deve mudar nosso ponto-de-vista, perder-se-á.” A única coisa que fica por ser curada, ou expulsa, é a crença errônea de uma pessoa, a crença de que, de algum modo, um Deus que é Espírito cometeu um engano e criou um homem material; que, de algum modo, a perfeita semelhança do perfeito Deus é um mortal imperfeito, propenso à doença.
Como é que se pode corrigir tal crença? Mediante crescimento na compreensão espiritual. Do mesmo modo que no tempo de Jesus um odre de vinho tinha de ser de couro bastante flexível para conter líquido em fermentação sem romper-se, assim, também, nosso pensamento tem de ser maleável e estar preparado para receber a inspiração espiritual que está sempre emanando de Deus. O pensamento rígido de orgulho ou têso de ansiedade, ou ainda tenso de mêdo, não é senão um pensamento limitado, encerrado nas suas próprias crenças errôneas; e tal pensamento material tem de ceder ao pensamento espiritual antes que a alegre e absoluta perfeição do homem possa ser expressada.
Às vêzes, pode ser que sintamos o processo de ceder como se fôsse um desmoronamento ou uma quebra de acalentados padrões de personalidade. Quando isso acontece, é com gratidão que podemos ter a certeza de que a única coisa que se quebrou foi a velha crença e que o nosso pensamento está sendo belamente preparado para receber a nova idéia, o vinho de uma maior compreensão espiritual.
Quando uma crença na matéria ou na mortalidade é curada, isto se evidencia exteriormente pelos efeitos de uma compreensão mais profunda acêrca de Deus como fonte e sustentáculo contínuo do homem real, mediante um melhor senso de paz, de alegria, de domínio, de cumprimento, de atividade e de saúde. Uma vez que tudo isso são apenas efeitos, o estudante da Ciência Cristã [Christian Science] se empenha sèriamente por manter o pensamento aberto à causa subjacente: Deus, expresso nas Suas idéias espirituais.
Manter nosso pensamento sempre receptivo às idéias espirituais de Deus não é uma tarefa tensa, que cause receio; é uma atividade suave, calma, recompensadora, a qual consiste em pôr de lado penosas crenças errôneas e em lugar delas discernir as verdades imortais relativas a Deus e ao homem feito à Sua semelhança. Podemos confiar no conselho que Mrs. Eddy dá na página 495 de Ciência e Saúde: “Deixai que a Ciência Cristã [Christian Science], em vez de o sentido corpóreo, sustente vossa compreensão do ser e esta compreensão suplantará o êrro pela Verdade, substituirá a mortalidade pela imortalidade e imporá silêncio à discórdia mediante a harmonia.”