“O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo de ti estende os braços eternos” (Deuter. 33:27).
Certo dia, eu estava de pé no penúltimo degrau de uma escada de quase dois metros e meio de altura, quando a escada cedeu. Tentei agarrar alguma treliça de madeira para me firmar, mas só consegui evitar momentaneamente a queda. Para isso torci o corpo, de modo que, ao cair, eu estava com o rosto voltado para o céu. Caí de cheio, atingindo com os quadris uma pedra do tamanho de uma bola de basquete. A força da queda fez minhas costas se arquearem sobre a pedra, e desmaiei.
Meu filho estava comigo nesse momento e correu para dentro da casa em busca de ajuda. Quando recobrei os sentidos, alguns minutos mais tarde, vi minha mulher, meu filho e minha filha bem próximos de mim. Lamentavelmente, fiquei tão absorvido pela dor que, a princípio, os esforços deles, para me consolar com afirmações da verdade espiritual, pareciam ineficazes.
Àquela altura, eu não conseguia pensar com clareza. Ainda assim pude dirigir-me a Deus e repeti em voz alta a única coisa de que conseguia lembrar: “Deus é Amor.” Por mais elementar que isso possa parecer agora, eu estava certo de que, se fosse capaz de manter firme no pensamento essa pura verdade espiritual, eu teria prova de sua realidade, e isso haveria de destruir toda sensação de dor, pois o Amor divino é real, é a própria realidade.
Depois de uma hora mais ou menos de ater-me a essa simples declaração da Verdade, minha mulher pediu que eu procurasse me mover, pois eu ainda estava deitado do mesmo modo como caíra. Fiz uma tentativa de mover as pernas. Consegui pôr-me de pé, embora sem firmeza. Com um braço à volta de minha mulher e o outro em torno de meu filho, comecei a caminhar cautelosamente por uma vereda, em direção ao pátio. De repente, perdi os sentidos e caí no chão de concreto do pátio, arrastando comigo minha esposa e o filho.
Quando me recobrei, um pouco mais tarde, eu estava com a cabeça repousando no colo de minha mulher, a qual sentara no pátio. Ela me assegurou que Deus me amava, que eu estava cercado de amor. Propôs que nossos filhos fossem buscar os Hinários da Ciência Cristã dentro da casa. Fiquei ouvindo calmamente e com gratidão, enquanto eles cantavam hino após hino.
Com o cair da tarde, começou a ficar frio no pátio. Minha mulher achou que eu me sentiria mais acomodado se fosse para dentro de casa. Essa tarefa, no entanto, parecia impossível. Devido à dor, foi abandonada até mesmo a tentativa de me rolar para cima de um pequeno tapete e arrastar-me para dentro. Aí constatei que eu podia arrastar-me de bruços, sem demasiada dificuldade. Assim, consegui avançar lentamente, percorrendo o caminho do pátio até a sala de estar.
Enquanto descansava, no chão da sala de estar, percebi que a dor tinha cedido lugar a um certo entorpecimento. De fato, repentinamente dei-me conta de que não tinha sensação alguma da cintura para baixo. Não conseguia mover os dedos dos pés nem as pernas. Tive medo de estar paralisado e as implicações ligadas a tal possibilidade me engolfaram de tal modo que comecei a chorar. Chorei em silêncio durante alguns minutos, pensando que todos os nossos esforços em espírito de oração haviam falhado. Mas, então, aconteceu algo que, agora vejo, prova que exatamente o oposto era verídico. Tive um pensamento bem claro. Compreendi que a autopiedade é uma forma de paralisia. Percebi que a autopiedade só podia manterme imobilizado enquanto eu mesmo me colocasse nesse molde. Parei de chorar e mentalmente prometi que não deixaria que a autopiedade entrasse outra vez em meu pensamento, não importando quão negativo parecesse o futuro.
Outro resultado da oração de minha família se tornou evidente, alguns minutos mais tarde, no comentário que minha mulher fez, quando retornou à sala de estar. “Todos estamos em paz quanto à situação”, disse-me. Ela fez esse comentário com inteira sinceridade e com uma calma tal que quase pus-me a rir, pensando: “Por certo que eu não estou em paz!” O contraste causou o rompimento do mesmerismo. Aí minha mulher perguntou se eu queria que ela telefonasse a um praticista da Ciência Cristã. Respondi que essa era uma boa idéia.
Logo a praticista chegou e se sentou no chão da sala de estar, perto de mim. Falou-me no amor de Deus, que estava não só sustentando a mim mas a todo o universo; falou no homem cuja natureza jamais decaiu deste seu estado de reflexo de Deus; e da impossibilidade de que pudessem acontecer acidentes no reino de Deus.
Concordamos que seria bom se eu pudesse chegar até o nosso quarto e até a cama. Assim, com minha mulher de um lado e a praticista do outro, a dar-me constante encorajamento metafísico, fui me arrastando lentamente, de bruços, pelo corredor e, por fim, cheguei ao quarto. Até hoje ainda não sei como consegui deitar-me na cama. A praticista permaneceu conosco durante mais algum tempo. Prometeu continuar a ajudar-me mediante oração. Antes de ir-se embora, reafirmou que viria ver-me na manhã seguinte.
Conquanto eu ainda não sentisse coisa alguma da cintura para baixo, não conseguia encontrar posição cômoda para repousar. Foi uma noite de oração, de afirmar que, na verdade, Deus supre realmente a todas as necessidades.
Na manhã seguinte, quando estava se aproximando o momento da visita da praticista, tive um desejo muito grande de estar de pé quando ela chegasse. Parecia-me que, se ela pôde sentar-se comigo no chão da sala de estar, eu pelo menos deveria ficar de pé para recebêla! Consegui estar de pé, quando de sua chegada. Aliás, fui capaz de dar dois ou três passos vacilantes, empurrando uma cadeira à minha frente. Porém caí literalmente de costas na cama logo a seguir, mas, ainda assim, esse momento provou ser o decisivo na cura. Com a continuação do trabalho metafísico feito pela praticista e o apoio da família e de amigos, consegui dirigir o carro para o trabalho quatro dias mais tarde. Naquele dia permaneci apenas uma hora no local de trabalho, mas dentro de uma semana eu havia voltado a trabalhar durante o horário integral. Essa vitória veio acompanhada de outra cura, a de um relacionamento comercial acrimonioso.
Considerando mais tarde toda essa experiência, percebi que a cura resultara de eu haver tomado posição radical em favor da verdade espiritual e da cura mediante a oração, e de haver nela permanecido. O trabalho da praticista e o apoio da família e dos amigos manifestaram-se, agora vejo, como muitas belas lições aprendidas, dentre elas a de que podemos confiar plenamente na sempre presente ajuda dos braços estendidos de Deus.
Estou grato a Deus por nosso Modelo, Cristo Jesus, que pavimentou o caminho para todos nós, e por Mary Baker Eddy, que descobriu e fundou a Ciência Cristã. Também quero expressar meu apreço por um editorial publicado no número de junho de 1985 do Christian Science Sentinel, abordando a questão dos testemunhos, porque me ajudou a sair da apatia mesmérica que até então me impedira de relatar esta cura.
Anaheim, Califórnia, E.U.A.
 
    
