Meu pai tinha um hábito do qual eu me lembro muitas vezes. Ele possuía um livro onde estavam registradas todas as contas que ele precisava pagar. Quando saldava uma conta, com alegria escrevia ao lado a palavra "Paga". Ele tinha um empenho muito grande de fechar o ano com todas as contas pagas. Era como um compromisso moral que assumia consigo mesmo. Quando não conseguia realizar esse intento, ele ficava um pouco frustrado.
Muita gente, talvez todos nós, ao findar o ano queremos desfazer-nos daquilo que não foi bom no ano que passou. Acho que todos nós pensamos que o ano que vem vai ser diferente. Vai haver tempo de organizar os arquivos, de pôr em dia a correspondência, de atender melhor a família, cuidar melhor das contas contas ... coisas assim.
Mas, se pensarmos bem, o que é um ano novo? Será um dia especial, o começo de algo auspicioso? Ou será um dia como os outros?
Há comemorações que podem indicar o final de um período que relembra horas de angústia, de tristeza ou frustração. Outras, indicam um novo período de esperança e de novos propósitos.
O calendário é um sistema de divisão do tempo, baseado na astronomia e regido por regras convencionadas por povos e nações. Tanto é que há o calendário judeu, o muçulmano, o grego, o egípcio. Nós, no mundo ocidental, usamos o calendário gregoriano. Assim, o que para nós é o começo de um ano, para outros povos pode ser um dia sem nenhum significado especial.
Eu gosto muito de pensar que para Deus não existe nem fim nem começo de ano. Ele está na eternidade!
Na Bíblia, na segunda epístola de Pedro, lemos: "Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia." 2 Pedro 3:8. Pedro teve, nesse momento, uma compreensão nítida da eternidade, onde não há contar de horas, de dias ou de anos.
Mas isso parece distante do nosso viver atual. Tanta correria, tantas preocupações em cumprir prazos, pagar prestações, que vencem todos os meses, não atrasar o aluguel! E o salário? Tomara que não atrase! E assim por diante. Estamos sempre sob a impressão de estarmos governados pelas horas e pelas datas.
No livro-texto da Christian Science, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, há uma definição de "ano" que diz, em parte: "espaço de tempo para arrependimento".Ciência e Saúde, p. 598. Aí também lemos que "um momento de consciência divina, ou compreensão espiritual da Vida e do Amor, é um antegozo da eternidade."
Se consideramos o arrependimento como uma mudança de atitude, de procedimento, por sabermos que podemos melhorar o que fazemos, os nossos pensamentos e o que sentimos, ou as contas que fizemos, então um novo ano é algo muito bom. Enche-nos de esperança e alegria.
Quem sabe se podemos estabelecer uma data para o nosso novo ano, independente do calendário gregoriano, ou de qualquer outro. Talvez esse ano possa começar hoje, a cada dia. Todo momento é oportuno para melhorar nossa maneira de pensar e agir. Esse é o verdadeiro arrependimento, que não inclui nenhuma forma de condenação, mas sim de progresso e inspiração. O resultado será uma nova etapa de esperança, saúde e alegria.
Todo momento é oportuno para melhorar nossa maneira de pensar e agir.
Poderemos ter a satisfação que meu pai sentia ao escrever a palavra "Paga", quando quitava suas contas pendentes. Provavelmente não temos as mesmas contas que ele tinha. Mas sempre podemos saldar pequenos ou grandes débitos de fraternidade, de paciência, de amor. Fazendo isso para com nossa família, colegas e amigos, estaremos em condições de reconhecer o eterno relacionamento de amor que Deus tem para conosco.
Está na hora de fazer um levantamento, uma análise, não só num final de ano, mas a cada dia. Entrar em um novo ano, a cada hora, a cada momento, com o coração livre de críticas, de desamor, com a consciência repleta de pensamentos de afeto, voltada a Deus. Então, o novo ano será um espaço de tempo medido com amor, "um antegozo da eternidade."
Em Ciência e Saúde lemos: "Os objetos do tempo e dos sentidos desaparecem na iluminação da compreensão espiritual, e a Mente mede o tempo de acordo com o bem que se desdobra. Esse desdobramento é o dia de Deus, e 'já não haverá noite'." lbidem, p. 584.
 
    
