Pode Parecer Que as crianças sejam as pessoas menos poderosas dentro da sociedade. Elas não têm dinheiro, não têm conhecidos importantes, nem posições influentes. São menores e mais fracas do que os adultos. Não possuem títulos e tampouco tomam decisões sobre leis ou finanças. Os adultos, às vezes, tratam-nas como se não existissem, inferiorizandoas ao dizer coisas como: "São apenas crianças."
Entretanto, elas são seres completos, com total capacidade de expressar a bondade de Deus. Como tais, são capazes de dar contribuições valiosas para o mundo. Como imagem, idéia de Deus, a Mente divina, cada uma delas pode expressar inteligência, clareza de pensamento e inspiração. Por sermos o reflexo do Amor, todos nós podemos, sinceramente, expressar interesse e cuidado por nosso próximo. Todos os que expressam essas qualidades, inclusive as crianças, trazem a influência alterante e sanadora do Cristo à sua própria vida e à sua comunidade.
A dedicação à prática do bem é muito natural para todos os filhos de Deus e inclui qualidades como humildade e amor, inatas às crianças. As virtudes destas eram especialmente reconhecidas e apreciadas por Jesus. Ele disse: "Aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus" (Mateus 18:4). É fácil imaginar os benefícios que nossas comunidades teriam com a livre expressão dessas qualidades puras das crianças. As comunidades seriam realmente unidas, as pessoas se conheceriam, se amariam e cuidariam umas das outras.
Há dois anos, no verão, conheci algumas crianças que me mostraram como isso pode acontecer. Certo dia, estava descendo a passagem atrás de minha casa e comecei a conversar com uns meninos que estavam ali parados. Durante nossa conversa, perguntei-lhes o que nossa cidade mais precisava, na opinião deles. Um deles apontou para o lixo espalhado por ali e disse: "Precisamos de alguém que retire todo esse lixo." Vi que eles tinham razão. Mais tarde, pensei: "Talvez os garotos me ajudem a fazer isso, se eu pedir." Dois dias mais tarde, perguntei para duas meninas que eu conhecia o que elas achariam de um projeto de coleta do lixo. O entusiasmo delas foi evidente e começaram a pular de alegria.
Depois de terem se acalmado o suficiente para conversarmos, contaram-me que durante todo o verão haviam visto propagandas na televisão que incentivavam os jovens a fazerem trabalho voluntário para a comunidade. Essas garotas realmente queriam fazer alguma coisa útil para o bairro, mas não sabiam como começar. Não tinham dinheiro. Além disso, eram poucas e, ainda por cima, eram "apenas crianças". Teria sido fácil para elas aceitarem esse ponto de vista e não fazer nada. Pude ver, porém, que estavam motivadas por um amor puro pelos vizinhos e pelo bairro e que tinham muitas idéias boas. O entusiasmo e a disposição delas para ajudar impeliu-as a irem adiante.
Aos poucos, as crianças começaram a ver que havia muita coisa que elas, mesmo sendo poucas, poderiam fazer e que seus esforços, ainda que pequenos, eram importantes. Continuaram falando sobre as idéias que lhes ocorriam e começamos a tomar algumas atitudes. A cada passo dado, eu percebia que não mais se sentiam impotentes. O amor que tinham no coração durante todo o tempo estava encontrando formas de se expressar através de boas obras no nosso bairro. Foi animador observar isso.
Esses jovens também chegaram a algumas conclusões interessantes, à medida que o projeto de coleta do lixo avançava. A primeira coisa foi que a restrição financeira — o fato de não terem dinheiro — era irrelevante, uma vez que não necessitavam de dinheiro para essa obra. Enquanto planejavam e realizavam o projeto, era evidente que se sentiam entusiasmados de uma maneira que só é possível por meio de boas obras. Estavam compreendendo que todos, até mesmo uma criança, têm o poder de colaborar e fazer o bem.
Algum tempo depois, outras pessoas ficaram sabendo do trabalho que as crianças haviam feito e interessaram-se por colaborar no projeto seguinte. Mais crianças e alguns adultos entraram para o grupo. Certo homem que ouvira falar sobre essa ação comunitária gostou tanto, que doou uma quantia para comprar abrigos especiais para todos os participantes, e um canal de TV para crianças permitiu-nos estampar neles seu logotipo. Um repórter escreveu um artigo e um fotógrafo do jornal tirou fotos da garotada. Quando os professores, vizinhos, amigos e parentes viram o artigo, os meninos receberam muitas reações positivas. Organizaram outros projetos nos quais mais garotos participaram, causando um impacto ainda maior em nossa cidade: Visitaram os velhinhos de uma comunidade de aposentados, plantaram flores no centro da cidade e agendaram outros projetos de coleta do lixo. Hoje, são mais do que simplesmente alguns jovens com vontade de ajudar. Representam uma verdadeira força para o bem de nossa cidade.
Essa força é o amor que os motiva. Manifesta-se através do serviço comunitário, mas não se limita a tais atividades. Visto que toda ação é motivada por um genuíno e ativo amor ao próximo, nosso trabalho tem o apoio poderoso do Amor divino, Deus.
Uma mensagem frequente na Bíblia sustenta a existência, a contabilidade e a força desse poder espiritual. Muitas vezes a mensagem bíblica mostra o que essas crianças comprovaram: o poder espiritual é superior às limitações físicas e o bem é maior do que o mal. Ciência e Saúde explica: "O bem que fazes e incorporas, te dá o único poder que se pode alcançar. O mal não é poder" (pág. 192). O verdadeiro poder se vê no bem que fazemos.
As crianças do meu bairro mostraram-me o poder espiritual que está disponível a todos, independentemente de aparentes limitações. O pensamento correto e os atos corretos impelem e apoiam as boas obras. Tornam visível o verdadeiro poder, disponível a cada um de nós, exatamente agora.
 
    
