Essa foi a pergunta inocente que um vizinho me fez quando me mudei para Ngcanaseni, uma comunidade rural em Transkei, na África do Sul. Quando criança, eu ouvia os brancos fazerem essa mesma pergunta preconceituosa ao se referirem aos negros africanos. Durante minha estada em Ngcanaseni descobri a resposta para essa pergunta.
Eu havia sido encarregado de abrir uma escola naquela localidade. Numa sala de tijolos de barro, cedida pela diretora da pré-escola local, a nova escola começou a funcionar. Cresceu rapidamente e necessitou de algumas mudanças e reformas. A diretora aprovou tais reformas e ficou acertado que minha escola arcaria com as despesas.
Para minha surpresa, numa carta dirigida ao departamento de educação, a diretora me acusava de prejudicar a escola. O sindicato dos professores, bastante contestador, e uma organização comunitária, também receberam cópias da reclamação. Fui convocado para uma reunião com a diretora da pré-escola e com o diretor do sindicato dos professores. Eu estava com medo, por ser o único branco naquela localidade. Um participante de um grupo guerrilheiro, que fazia treinamento num campo ali perto, havia escrito no ponto onde eu tomava o ônibus: “Mate um branco por dia”. Além disso, já tinha ocorrido um protesto na escola. O juiz disse-me posteriormente que o objetivo das organizações era fechar a escola.
Em situações extremas, precisamos descobrir como começar a orar. Comecei por pensar nas coisas que todos nós tínhamos em comum, não em nossas diferenças. Comecei a orar com o Primeiro Mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20:3). Deus também significa a única Mente. Assim como plantas diferentes são alimentadas pelo mesmo sol, pela mesma água e pelo mesmo solo, cada pessoa é alimentada pelas idéias da única Mente. Não existem muitas mentes a discordar umas das outras.
O medo diminuiu e senti confiança no cuidado amoroso de Deus. Nos dias que antecederam a reunião, minha oração consistiu em aprofundar-me no sentido real que Ciência e Saúde nos fornece do Primeiro Mandamento: “Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'; aniquila a idolatria pagã e a cristã — tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais, políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos; anula a maldição sobre o homem, e não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído” (p. 340:23).
Durante a reunião, reconheci que Deus, a única Mente, era a origem das idéias expressas pelos participantes, e que a individualidade de cada um de nós refletia a mesma fonte. O clima da reunião foi pacífico e a situação com a diretora foi resolvida nos meses subseqüentes.
Em pouco tempo, o número de alunos aumentou e senti-me integrado na comunidade. Posteriormente, tive a oportunidade de mediar uma disputa comercial. Também dei início a um centro de recursos educacionais, um programa de ensino para adultos e alguns outros projetos, inclusive o da arrecadação de fundos para a construção de um prédio para a escola. Fui indicado pelo sindicato dos professores para integrar sua direção.
Quatro anos mais tarde, quando fui embora, a escola já possuía mais de 700 alunos. Uma autoridade da comunidade, que também era o cacique da tribo, escreveu: “Apesar de o Finn ser um branco a trabalhar num ambiente onde 100% são negros, ele não tem dificuldade para interagir com os membros da comunidade como um todo”. O delegado de ensino escreveu que eu estava “apto para atuar em qualquer esfera do setor educacional”.
Será que os brancos, os negros e os pertencentes a outras raças parecem todos iguais? Eis o que aprendi: quando obedecemos ao Primeiro Mandamento nada mais parece ser igual. É que começamos a perceber que as idéias e a compreensão originam-se na Mente, não em raças.
