Nos últimos segmentos desta série sobre O Arauto da Christian Science vimos que a edição alemã surgiu para atender a pedidos de Cientistas Cristãos da Alemanha, e que a edição em francês nasceu durante a guerra. A edição escandinava, que mais tarde desdobrouse em três edições individuais (dinamarquesa, norueguesa e sueca com uma seção finlandesa), surgiu da persistência das Igrejas de Cristo, Cientista, nesses países. Talvez o fato de essas comunidades espirituais terem crescido o bastante para fazer seu pedido na condição de grupos, não mais como pessoas isoladas, mostre o progresso da Igreja de Cristo, Cientista.
Na década iniciada em 1920, surgiram sinais ameçadores, apesar de a prosperidade parecer estar firmemente estabelecida em muitas regiões. Especulação financeira, um crescente número de quebras de bancos e outros sinais de instabilidade econômica nos Estados Unidos indicavam que a prosperidade estava assentada sobre uma base frágil. Em 1927, com o fim do controle militar aliado na Alemanha, a economia alemã entrou em colapso. Para muitas pessoas, essa foi uma época difícil. Mas, norteamericanos e europeus elevaram seus olhos para o horizonte quando, nesse mesmo ano, Charles Lindbergh, com a ajuda de um avião monomotor, tornou-se o primeiro homem a cruzar sozinho o Oceano Atlântico num vôo sem escalas. Essa proeza e suas conseqüências tiveram um enorme impacto na comunicação e nos meios de transporte mundiais.
A comunicação mundial, sem dúvida, estava no pensamento das organizações políticas e religiosas em todo o mundo, e a Sociedade Editora da Christian Science era uma das vozes participantes de um crescente diálogo entre as diveras partes do mundo.
Também em 1927, chegou a Boston uma carta enviada pelas igrejas e sociedades localizadas nos países escandinavos. Ela solicitava que o Conselho de Diretores da Christian Science considerasse "o lançamento de O Arauto da Christian Science escandinavo, no qual os três respectivos idiomas (dinamarquês, norueguês e sueco) estariam igualmente representados..." (Carta ao Conselho de Diretores da Christian Science, abril de 1927).
A princípio, os Diretores, juntamente com os Fideicomissários da Sociedade Editora da Christian Science e os Redatores dos periódicos religiosos, tiveram uma reação que mesclava dois pensamentos. Todos gostaram da idéia de proporcionar mais inspiração por meio da Christian Science a pessoas que queriam isso. Porém, a idéia de publicar uma revista que incluísse artigos em vários idiomas não era atraente e ninguém achava que criar três revistas, uma para cada idioma, seria algo viável, considerando-se o número relativamente pequeno de leitores para cada uma delas.
A tradução de um artigo religioso diário, nesses e em outros idiomas já aparecia no jornal The Christian Science Monitor, como é feito até hoje. Sentido que isso era o suficiente, os Fideicomissários escreveram às igrejas, mencionando esse ponto e explicando sua preocupação com os custos. Mas eles também deixaram as portas abertas para uma mudança de posição, caso as condições o permitissem.
Aproximadamente dois anos depois, uma pesquisa indicou que as revistas em mais de um idioma não eram incomuns, e os Fideicomissários se sentiram mais à vontade com essa idéia. Diferentemente das edições em alemão e francês, contudo, a nova revista nos idiomas escandinavos seria trimestra, em vez de mensal, até aumentar o número de assinaturas da revista.
Assumindo que o periódico escandinavo a princípio não seria lucrativo, o Diretor Geral da Sociedade Editora explicou: "...a publicação de um periódico nos idiomas escandinavos neste momento, deve ser considerada estritamente do ponto de vista de seu valor missionário" (Carta para os Fideicomissários de Charles E. Heitman, Gerente da Sociedade Editora da Christian Science, 5 de abril de 1929). A nova revista, cujo lançamento estava programado para janeiro de 1930, foi anunciada primeiramente na Assembléia Anual d'A Igreja Mãe em junho de 1929 e um mês depois no Journal (Christian Science Journal, junho de 1929, p. 186).
Mesmo com o desenvolvimento desses planos, o mundo estava se precipitando para uma nova espécie de convulsão. Entre 1925 e 1929, o preço médio das ações ordinárias na Bolsa de Valores de Nova Iorque aumentou mais do que o dobro de seu valor. Essa especulação foi estimulada pelos investidores que esperavam ganhar dinheiro com a subida dos preços das ações. Mas não foi isso o que aconteceu. Em 25 de outubro de 1929, a Sexta-Feira Negra, os preços na Bolsa de Valores de Nova Iorque despencaram, mergulhando os Estados Unidos e depois o mundo naquela que ainda é chamada de a Grande Depressão. Bancos, fábricas e lojas fecharam, deixando milhões de americanos sem emprego. Muitas pessoas perderam suas casas.
Em tempos como esses, pessoas pouco ousadas poderiam hesitar em começar a publicar uma nova revista considerando todas as despesas conhecidas e desconhecidas que isso pudesse significar. Mas, em janeiro de 1930 surgiu a primeira edição do Arauto escandinavo. O principal artigo, que estava em norueguês, foi escrito por Irving C. Tomlinson, que mais tarde escreveria uma biografia da Sra. Eddy. Intitulava-se "A verdadeira avaliação do mensageiro de Deus" e esclarecia a descoberta da Christian Science pela Sra. Eddy e seu contínuo ministério em prol da humanidade. Era um artigo introdutório muito adequado, elaborado de forma a fornecer informação e inspiração aos leitores.
No editorial, um comentário do Conselho de Diretores da Christian Science afirmava: "com certeza esta nova publicação mostrará ser muito valiosa para o grupo de periódicos que nossa Líder, a Sra. Eddy, instituiu, os quais têm trazido à humanidade, com muito sucesso, o evangelho de paz na terra e boa vontade para com os homens, curando o doente e reformando o pecador através da Christian Science em toda parte do mundo cristianizado". (Christian Science Journal, janeiro de 1930, p. 20). Confirmando a crescente perspectiva internacional da Sociedade Editora, a nova edição incluiu testemunhos de cura da Suíça, França, Alemanha, Inglaterra, Índia e dos Estados Unidos.
A princípio, os periódicos tinham um forte caráter de publicação ligada a uma congregação religiosa. Naturalmente, eles eram destinados a fornecer informações básicas sobre a Igreja. Aos poucos, porém, os artigos e editoriais mudaram. A crescente crise mundial causada pelo aprofundamento da Depressão aliada ao avanço do militarismo, levou os redatores a incluir na revista artigos tais como "Vivendo sob a Lei", escrito por William P. McKenzie, o qual era, naquela época, um dos Fideicomissários da Sociedade Editora da Christian Science. Ao se referir à relação da lei com a liberdade, McKenzie escreveu: "Como é que tantos confundem liberdade com permicividade? Eles desejam fazer aos outros o que obstinadamente contestariam se fosse feito a eles, e acreditam que possam passar pela vida fazendo os outros sofrer, enquanto eles mesmos fogem das conseqüências... Fato é que, contudo, essa liberdade não é encontrada fora da lei..." (Christian Science Journal julho de 1930, pp. 91-92). Outros artigos desse número que tratavam da vigilância espiritual, tais como "Mantendo a Calma sob o Tiroteio" e "Vigiando", ofereciam um forte apoio às pessoas que oravam pela situação mundial ou estavam sendo afetadas por ela.
Os testemunhos publicados nas edições que sucederam à primeira edição continuaram a ter uma forte natureza internacional, incluindo relatos de cura de pessoas do Egito, África do Sul, China e Coréia, bem como do continente europeu e dos Estados Unidos. Na edição de julho de 1931, os primeiros testemunhos da Finlândia e da Suécia foram publicados no Arauto escandinavo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o acesso ao Arauto era duramente limitado em qualquer região controlada pelas forças nazistas. Stig Christiansen, um dinamarquês, ainda se lembra daquele tempo: "Quando me interessei pela Christian Science no início de 1945, a Dinamarca ainda se encontrava ocupada pela Alemanha nazista, e assim ficou por alguns meses. Não tínhamos acesso à literatura da Christian Science, com exceção de um exemplar do Livrete Trimestral da Christian Science — Lições Bíblicas, que a cada três meses entrava no país clandestinamente."
Isso acontecia não apenas na Dinamarca, mas também na Finlândia, Suécia e Noruega. Até 1943 tinha sido possível enviar exemplares do Livrete Trimestral a partir da Suíça, que fora reconhecida como país neutro no conflito. Mas, com a intensificação da guerra depois de janeiro desse mesmo ano, as remessas tiveram de ser interrompidas.
A Suécia que, como a Suíça, optou pela neutralidade, foi outro canal utilizado para o envio desse material. (Documentos de Birse Shepard "A Igreja Mãe e suas Filiais na Segunda Guerra Mundial, 1940-1951, manuscrito pertencente aos Arquivos d'A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, pp. 203-204). As remessas da Sociedade Editora para esse país cessaram depois de os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, após o ataque a Pearl Harbor em 1941. Para manter sua neutralidade, a Suécia não poderia permitir que um dos países participantes da guerra, os Estados Unidos, a utilizassem como ponto de trânsito para materiais – mesmo que estes fossem de caráter religioso. Também em 1942 o governo dos Estados Unidos determinou que nenhuma encomenda poderia ser enviada a países inimigos, ou ocupados por inimigos.
Para assegurar que as Lições Bíblicas, que são essenciais para os cultos da igreja, chegassem à Suécia e a outros países, foram feitas mudanças. Em circunstâncias normais, a principal função do Delegado de Divulgação da Suécia era fornecer informações sobre a Christian Science ao público. Nesse período, porém, também lhe foi dada a autoridade para reimprimir e distribuir os exemplares do Livrete Trimestral. Esse sistema era semelhante ao que Marcel Silver (cujas atividades estão descritas no segmento sobre a edição do Arauto francês) estabeleceu com a Sociedade Editora. Tal como fez o grupo francês, os suecos enviaram vários exemplares dessas reimpressões por correio para os países ocupados, e pelo menos algumas delas chegaram ao seu destino.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Noruega tinha se mantido neutra, e o governo tentou manter a neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial. Depois de um breve período de resistência, porém, os nazistas invadiram e ocuparam o país e, tanto o rei quanto o governo fugiram. Aos poucos, os Cientistas Cristãos noruegueses, entre outros, começaram a sentir a pressão por parte das forças nazistas. Como escreveram os membros de Primeira Igreja de Cristo, Cientista, de Oslo, depois da guerra: "Alguns dias antes de 9 de agosto de 1942, o Presidente da Diretoria e o Secretário da Diretoria foram chamados ao quartel-general da Gestapo e foram exaustivamente interrogados sobre todos e tudo o que dizia respeito à igreja e a seus seguidores... Alguns meses mais tarde, os praticistas registrados no The Christian Science Journal, exceto um, o qual era de origem judaica e foi maravilhosamente protegido daquela provação, também foram convocados ... para serem interrogados. Não houve nenhuma conseqüência ruim desse acontecimento." Embora não tenha sido fácil, o praticista de origem judaica conseguiu encontrar refúgio na Suécia até o fim da guerra.
Os membros da igreja norueguesa notaram que, depois de dezembro de 1941 eles não estavam recebendo literatura da Christian Science proveniente de Boston, nem ouvindo pelo rádio os cultos e as conferências que eram transmitidas de Boston. Eles continuam contando: "Mas o que é maravilhoso é que um exemplar do Livrete Trimestral da Christian Science de uma ou de outra maneira sempre chegava até nós a tempo; algumas vezes esse exemplar entrava clandestinamente no país, proveniente da Suécia, escondido em pequenos sacos de farinha ou de açúcar; e através dele nós sentíamos o contato com A Igreja Mãe e com todo o movimento da Christian Science".
Apesar das crescentes restrições às suas atividades, a igreja de Oslo conseguiu continuar realizando seus cultos, e seu edifício não foi danificado pela guerra. Em determinada ocasião, as autoridades pareciam interessadas em assumir a posse do local, e os membros da igreja oraram especificamente a respeito disso. "No final, ninguém achou que o local era adequado para o que eles precisavam, e continuamos nossas atividades tranqüilamente", escreveram eles (Ibid., pp. 158-159). Esses comentários são despretensiosos, mas representam o tipo de comprometimento que estes e outros membros da igreja também tiveram sob forte pressão, tanto individual quanto coletivamente.
Após 1945, as comunicações voltaram à sua normalidade e um amplo suprimento de literatura, juntamente com outros artigos de primeira necessidade como roupas e alimentos, foram enviados às nações européias afetadas pela guerra. Como o mundo oferecia condições e os esforços para atividades conjuntas tomavam forma, O Conselho de Diretores da Christian Science solicitou que o Conselho de Fideicomissários considerasse a publicação de edições separadas do Arauto nos idiomas escandinavos. Esse assunto foi tratado entre 1954 e 1959.
Então foram levantadas várias preocupações: aumento dos custos de produção, a sensação de que o número de assinaturas não era suficiente para manter as revistas e a impressão de que haveria um "excesso" de literatura religiosa em uma parte do mundo que ainda não estava preparada para recebê-la. Todavia, ao continuar a discutir o assunto, o conceito de missionário do Arauto começou a emergir novamente.
Com o desenvolvimento do propósito da revista havia maior interesse em apresentar artigos que seriam relevantes para as necessidades individuais daqueles países, ao invés de tentar tratá-las em conjunto. Essas e outras idéias vieram à luz, pelo menos parcialmente, porque George Nay assumiu a função de Redator Adjunto do Arauto em 1958. Ele e o Redator de todos os periódicos religiosos trabalharam com os Fideicomissários para chegar a um consenso sobre qual a melhor maneira de usar e apresentar a revista.
Enquanto esse assunto continuava a ser tratado, ficou claro que as edições em apenas um idioma poderiam ser mais úteis e iriam conter um conteúdo mais específico para essas áreas escandinavas. Ao mesmo tempo, continuavam a ser mantidas conversas semelhantes a essas, a respeito da edição do Arauto nos idiomas espanhol, português e italiano. Em janeiro de 1959 foram publicadas as primeiras edições individuais para os idiomas escandinavos. Por volta de 1983, a primeira tradução de um artigo em finlandês foi publicada na edição sueca, continuando dessa forma até 1998, quando surgiu a edição em finlandês.
Irma Puranen, uma finlandesa, fez o seguinte comentário sobre a nova edição: "Quando peguei o Arauto finlandês pela primeira vez, tive uma sensação muito especial... O primeiro Arauto finlandês chegou aqui quase no mesmo dia da comemoração dos 80 anos de nosso Dia da Independência. Que coisa maravilhosa para se comemorar! Foi algo excepcional!"
Desde a Segunda Guerra Mundial, o Arauto continua a fazer parte da vida dos membros das igrejas na Escandinávia. Muitos deles também lêem inglês e recebem o The Christian Science Journal e o Christian Science Sentinel. Desse estudo coletivo, ocorrem curas maravilhosas, não somente para os leitores, mas também para as famílias deles Transcrevemos abaixo o relato de uma mulher cujo marido tinha um problema que havia sido diagnosticado como sendo uma doença incurável que afetava sua visão.
"Meu marido não era Cientista Cristão, e achava que a Christian Science era muito prolixa", escreve Celine Knudsen. "Ele achava que palavras como eternidade não se aplicavam a ele. Mas o Arauto sim. Ele estava numa cadeira de rodas, tinha só uma das pernas e um coágulo no cérebro o havia deixado com muito pouca visão. Numa quarta-feira, após a reunião de testemunhos, quando eu estava empurrando a cadeira de rodas no nosso caminho para casa, ele me perguntou se eu havia dito algo especial durante a oração silenciosa. Então, ele me disse como havia orado: "Querido Deus, eu sei que o Senhor sabe o que é melhor para mim, mas eu gostaria de ter uma visão um pouco melhor."
"Naquela noite ele ficou assustado ao sentir uma pulsação muito acelerada, mas adormeceu. Na manhã seguinte, ele se vestiu e foi de cadeira de rodas até a sala e gritou, dizendo que alguma coisa estava errada. A sala o seguia, dizia ele, e estava imensa. Mais tarde, quando um rapaz o levou para fora, eles voltaram correndo porque, como ele disse, havia muito movimento fora, na rua. Eu lhe perguntei se ele havia recuperado a vista. Ele pediu um livro e pôde lê-lo. Todos nós choramos. Foi um momento inesquecível e nos sentimos simplesmente maravilhados. Com certeza, isso mudou nossa vida".
Mudar a vida das pessoas. Comunicar idéias que curam. Superar os males da guerra e suas conseqüências. Incluir a comunidade mundial. Isso faz parte do trabalho contínuo dos Arautos na Escandinávia ou em qualquer outro lugar. E as pessoas nesses lugares que lêem o Arauto e se utilizam de suas idéias também sáo abençoadas.
No próximo segmento: As edições em holandês e italiano
Arauto Escandinavo Acontecimentos mundiais importantes
Nesta década algumas barreiras são derrubadas, sementes da guerra são plantadas e a tecnologia nos campos da comunicação, saúde, aviação e construção de foguetes tem influência cada vez maior. As crises econômicas também começam a aparecer.
1920
• É criada a Liga das Nações
1921
• Mulheres suecas ganham o direito de votar
1922
• É fundada a British Broadcasting Company (a BBC), cujo nome mudou para British Broadcasting Corporation em 1927
1924
• A Grécia torna-se uma república
• É introduzido o voto compulsório para as eleições federais na Austrália
• Adolf Hitler escreve na prisão "Minha Luta"
• O explorador dinamarquês Knud Rasmussen completa aquela que foi considerada a mais longa viagem através do Ártico Norte-americano, em um trenó puxado por cães
1926
• Robert Goddard lança o primeiro motor de foguetes movido a combustível líquido.
1927
• Charles Lindbergh torna-se o primeiro homem a fazer um vôo solo sem escala de Nova Iorque a Paris
1928
• Alexander Fleming descobre a penicilina
1929
• A Bolsa de Valores dos Estados Unidos tem grande queda e a economia começa a desabar.
1930
• A depressão mundial se aprofunda
• Publicada a edição escandinava do Arauto
• Frank Whittle obtém a patente do primeiro motor de aeronave a jato
